Mas por trás das celebrações e discursos oficiais, ecoa um silêncio incômodo o dos milhares de homens e mulheres que, após anos de serviço, foram relegados ao esquecimento.
Entre os reformados das forças armadas, encontramos médicos, engenheiros, técnicos especializados, professores, estrategas e profissionais que receberam formação de alto nível, dentro e fora do país. São quadros que contribuíram com o seu saber e coragem para a defesa e reconstrução da pátria, mas que hoje vivem à margem, enfrentando dificuldades que não condizem com o seu percurso e legado. Muitos deles ainda possuem vigor, capacidade e experiência para servir Angola não mais nas frentes militares, mas nas frentes do desenvolvimento.
É hora do Estado refletir sobre o valor dos seus veteranos e de transformar a gratidão em política pública. O Estado angolano deve olhar para os reformados das FAA não como “ex-soldados”, mas como ativos humanos estratégicos. Surge assim a necessidade de criar um quinto ramo das Forças Armadas, voltado para a ciência, engenharia, saúde e reconstrução nacional, um espaço onde esses quadros possam continuar a servir, com dignidade e propósito, integrando missões civis e técnicas de interesse público.
As FAA possuem quatro ramos reconhecidos. O Exército, Marinha, Força Aérea e Serviços de Apoio a Presidencia da República ou seja a Guarda Presidencial, cada um com papel fundamental na defesa do território e da soberania. Mas num país em reconstrução e com grandes desafios socioeconómicos, faz falta um ramo voltado para a reconstrução, inovação e desenvolvimento humano, capaz de mobilizar o conhecimento e a experiência dos seus veteranos.
Criar este quinto ramo seria uma homenagem viva à história e ao sacrifício de milhares de homens e mulheres que continuam a amar Angola, mesmo quando o Estado parece tê-los esquecido. Seria também um gesto de visão e gratidão porque nenhuma força é mais poderosa do que a que continua a servir, mesmo depois da batalha.
Por Rafael Morais