Como ponto de partida, o Banco Espírito Santo Angola foi assaltado e pilhado. Cerca de 18 mil milhões de euros foram divididos entre a nomenclatura do MPLA. Uma pequena parte do capital do BESA foi entregue aos banqueiros portugueses. Alguns dirigentes angolanos, dos partidos na oposição, foram abrangidos igualmente.
Houve uma divulgação massiva da lista dos beneficiários. No entretanto, tem havido muitas denúncias sobre o capitalismo primitivo, com destaque, o “Luanda Leaks,” que trouxe a público dados extensos e pormenorizados sobre as pilhagens dos cofres públicos angolanos, sobretudo dos sectores petrolíferos (SONANGOL) e diamantíferos (ENDIAMA).
O enriquecimento inapropriado e ilícito em Angola tem sido fenomenal e colossal, sem precedente na história contemporânea da África Subsaariana. O processo de enriquecimento primitivo iniciou no final da Guerra Fria (na década 90), quando a União Soviética entrou em colapso.
Na altura, com o desmoronamento do império soviético, que era a «guarda-chuva» do totalitarismo, o Presidente José Eduardo dos Santos percebeu que não havia hipótese de manter o sistema de partido Único em Angola, assente na economia socialista, planificada e centralizada.
Em função disso, JES achou ser urgente converter rapidamente a «propriedade do Estado» em «propriedade do partido», dividi-la entre os privilegiados da «nomenclatura» do MPLA.
Neste contexto, o JES adoptou um modelo político híbrido, que consistia em desenvolver a democracia plural dentro dos limites do partido-Estado, assente num «núcleo capitalista de monopólios», pertencente à nomenclatura do MPLA. A economia do país estaria nas mãos deste núcleo capitalista, de modo a sustentar o partido-Estado.
Isso, como acontece no capitalismo neoliberal, no qual, o poder político está na dependência dos detentores de capitais, que exercem influências enormes sobre a tomada de decisões estratégicas da política interna e externa dos órgãos do Estado.
A Administração Trump é o “protótipo” mais concreto do imperialismo financeiro, composto por multibilionários, que dominam o mercado internacional, as tecnologias mais avançadas e a geopolítica mundial.
Inversamente, o Presidente João Lourenço tem a mesma visão estratégica, mas num contexto muito diferente. Ele [João Lourenço] se aposta na «oligarquia absoluta», assente num núcleo restrito de monopólios, controlados pelo poder político, que sustenta o poder financeiro, através do OGE, como instrumento da manutenção do poder.
Politicamente, João Lourenço aposta-se no modelo político de Rwanda, do Paul Kagame, que assenta numa superestrutura política, que integram todas correntes políticas e cívicas do país. Os assentos no Parlamento estão integrados num Grupo Parlamentar, controlado pela superestrutura partidária do partido de Paul Kagame.
O Conselho Nacional Eleitoral de Rwanda obedece às diretrizes imanadas do superpartido do Paul Kagame na gestão eleitoral e na distribuição dos assentos parlamentares. Deve existir alguns critérios específicos que regulam este processo complexo da democracia totalitária de Ruanda.
Neste âmbito, na visão do João Lourenço, a democracia plural ficará tutelada pela superestrutura partidária que dividirá previamente os assentos no Parlamento, através do critério da equidade, isto é, da concertação prévia entre a superestrutura e os partidos satélites. Este processo equitativo, de concertação a priori, iniciou há muitos anos atrás com algumas personalidades do país.
O surgimento simultâneo de novos partidos na cena política angolana não aconteceu por acaso. Todavia, a ideia subjacente à esta estratégia do JLO é de forjar uma «grande aliança política», composta por algumas personalidades do país, sobretudo do Planalto Central (Ovimbundu), do extremo norte (Bakongo) de Angola, e do litoral (Kimbundu).
Este projecto político tem o financiamento avultado do erário, em termos de marketing, da logística e do material de propaganda. Além disso, muitos quadros do MPLA (agentes secretos) estão destacados dentro dos partidos emergentes para controlar a execução deste projecto político.
Isso aconteceu com a CASA-CE, que estava totalmente infiltrada e controlada (a todos os níveis) por agentes secretos do Estado. As decisões eram tomadas pelo contra-almirante André Mendes de Carvalho “Miau” que foi de imediato retirado da Marinha, passando à reforma, e destacado na CASA-CE, em ligação directa com a Cidade Alta.
No que diz respeito ao Planalto Central, o projecto do JLO visa essencialmente atingir a UNITA por via de aliciamentos de algumas elites e das grandes (filhos de pastores e de outras personalidades) famílias Ovimbundu – das províncias do Huambo e do Bié.
No meio de tudo isso, o objectivo estratégico é atingir a «alma» do Doutor Jonas Malheiro Savimbi, que é o «santuário espiritual do patriotismo angolano» e o farol da luta pela democracia e pelo desenvolvimento equilibrado e sustentável. A captura da alma de Jonas Savimbi é a aposta do João Lourenço, na sua estratégia contra a UNITA.
Quer dizer, essa Estratégia consiste em «quebrar a espinha dorsal da família de Jonas Malheiro Savimbi». Quebrando esta espinha dorsal, os proponentes desta estratégia acreditam que será possível derrubar a UNITA e «desfazer os ideais» de Jonas Malheiro Savimbi.
Portanto, há investimentos fortes e massivos nesta estratégia, de «luta sem trégua» contra Jonas Malheiro Savimbi – destruir definitivamente a sua ALMA, que constitui a «chama da liberdade» em Angola.
Este Projecto Político não é de hoje, está na «matriz doutrinária» do MPLA, desde a luta anticolonial, de querer destruir todas as forças vivas do país no sentido de impor ao povo angolano a vontade política do MPLA.
A exclusão e a intolerância política têm sido as fontes principais de instabilidades constantes em Angola, desde a luta anticolonial. Mas, a UNITA tem sabido contornar, resistir e agigantar-se no tempo e no espaço. Mesmo desta vez ela vai passar por cima desta conspiração política – parece subtil, mas é vulnerável.
Em síntese, o neoliberalismo, da oligarquia multinacional, enfrenta uma forte resistência a nível mundial. Portanto, não constitui um bom modelo para os países subdesenvolvidos do Sul de Sahara, com níveis de pobrezas extremas, sem infraestruturas, sem indústrias pesadas e sem o domínio das tecnologias mais avançadas. Pois, o Neoliberalismo tem a sua Agenda, não quer saber da pobreza ou do subdesenvolvimento. Ele busca o domínio do Universo.
Portanto, o projecto político do Presidente João Lourenço é irrealista, não corresponde à realidade concreta de Angola, um país bastante vasto e extenso: multiétnico, multicultural, multilinguístico, multirracial, multirreligioso e multipartidário. Veja lá, um país que está dotado de recursos naturais imensos e abundantes, espalhados por todo o território, bem como no Oceano Atlântico.
Logo, seria descabido e absurdo comparar Angola com Ruanda, um país pequeno, composto por apenas dois grupos étnicos – Hutus e Tutsis. Pois, as dinâmicas históricas, sociais, culturais, geográficas e económicas de Ruanda não se podem comparar com Angola. Por isso, o projecto do Presidente João Lourenço está infalivelmente condenado ao fracasso.
Apenas serve para entreter os políticos distraídos, corruptos e da «pequena burguesia», sem espírito patriótico, e sem uma visão do Estado-Nações, enraizada na cultura angolana. Garanto-vos, jamais será possível apagar a “ALMA” e os “Ideais” do Doutor Jonas Malheiro Savimbi.
Por Carlos Kandanda
*Antigo deputado à Assembleia Nacional