Segunda, 06 de Outubro de 2025
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Segunda, 06 Outubro 2025 20:34

O erro crasso de fazer oposição à UNITA

Ano 53, século I a.C. (antes de Cristo). Um general romano tinha um objectivo fixo: conquistar os Partos, um povo persa cujo império ocupava, na época, parte considerável do Oriente Médio (Irão, Iraque, Arménia e outros).

À frente de sete legiões, ou seja, 50 mil soldados, confiou demasiado na superioridade numérica das suas tropas. Abandonou as tácticas militares romanas e tentou atacar simplesmente. Na ânsia de chegar logo ao inimigo, o general cortou caminho por um vale estreito, de pouca visibilidade. As saídas do vale, então, foram ocupadas pelos Partos e o exército romano foi dizimado. Quase todos os 50 mil morreram, incluindo o general.

O general se chamava Marco Licínio Crasso (ou Marcus Licinius Crassus, em latim). É do seu nome que se derivou a expressão “erro crasso”. Um erro crasso é chamado assim por causa da burrice militar de Marco Licínio Crasso, eternizado no falar de vários povos.

No campo da política, em Angola, vários dos novos partidos políticos e seus membros de direcção, respectivamente, têm cometido o erro crasso de fazer oposição política à UNITA, quando o normal seria fazê-la ao MPLA, no poder. Seja por amadorismo, revanchismo, ingenuidade, ignorância, desespero ou agenda anti-UNITA, tais partidos e seus responsáveis têm estado a cometer um erro estratégico crasso que configura auto-sabotagem política.

Um partido político é uma associação de indivíduos que, movidos por uma ideologia comum e um interesse político comum, objectiva tomar o poder para implementar o seu projecto de sociedade. Para realizar este objectivo, o partido faz um discurso político-ideológico sistemático e uma sistemática linha de acções para granjear a simpatia e a aceitação do eleitorado e explorar a seu favor os erros do partido que governa. Deve também identificar aliados na oposição, que são partidos com os quais converge ideológica e politicamente. Mas, então, um partido na oposição não pode nem deve criticar outro(s) partido(s) na oposição? Obviamente, a resposta é sim. Pode e deve.

O problema dos novos partidos e seus dirigentes, em Angola, é terem invertido a direcção e as variáveis da actuação política: o seu discurso político-ideológico sistemático é dirigido contra a UNITA e toda uma sistemática linha de acções é levada a cabo para alvejar a UNITA, com destaque para incontáveis tentativas de cooptar ou mesmo comprar militantes seus.

Um exemplo de inversão de direcção e de variáveis de actuação política é a crítica de que “a UNITA está há 50 anos na oposição”, reproduzida também por comentadores de algibeira. Ora, tal prática discursiva é uma irracionalidade tremenda, porquanto, revela uma brutal deriva estratégica. O cancro que impede o progresso de Angola chama-se MPLA – este é e deve ser o alvo da oposição política.

O general Marco Licínio Crasso tinha um objectivo: conquistar o império dos Partos. Ele sabia que, para tal, tinha de aplicar os métodos e as técnicas consagrados pela escola militar romana. Mas não fez isto. Antes, pelo contrário, como vimos, abandonou as tácticas militares romanas e tentou atacar simplesmente.  Cortou caminho por um vale estreito, de pouca visibilidade e os Partos fecharam as saídas do vale. Totalmente, cercados, o general e seus homens foram mortos.

Do mesmo modo, os partidos e seus dirigentes em referência, segundo os seus manifestos, objectivam alcançar o poder, mas, paradoxalmente, não aplicam os métodos e as técnicas que a ciência política consagra para o seu crescimento, penetração no eleitorado, promoção da imagem do líder, crítica de oposição ao partido no poder e divulgação do seu projecto de sociedade. Gastam tempo e energias preciosos a metralhar a UNITA (em ascensão), enquanto o MPLA (em decadência) refastela-se assistindo, satisfeito, a um filme trágico em que partidos novos e seus dirigentes, que deveriam estar a fazer oposição política para a alternância com mudança, atiram-se contra a UNITA. Entrementes, o Povo tira as suas conclusões para fins de escolha eleitoral em 2027.

Os novos partidos e seus dirigentes que, quais touros raivosos e desgovernados, têm estado a atirar-se contra a UNITA, têm estado a sabotar-se a si próprios, porquanto, se tanto o MPLA como os partidos novos e seus dirigentes lutam contra a UNITA, isto consolida a convicção do eleitorado (o Povo) de que, afinal, o voto massivo deve ser mesmo na UNITA.

Por outro lado, os referidos partidos:

1 - Não reagem sistematicamente aos erros e desmandos de governação do MPLA, através de um discurso político tecnicamente bem fundamentado;

2 - Não tomaram posição nem remeteram contribuições de alterações à Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais, à Lei do Registo Eleitoral Oficioso e à Lei Orgânica da Comissão Nacional Eleitoral;

3 - Os seus presidentes não se dirigem ao País em situações de crise, como, por exemplo, os acontecimentos trágicos de 28-30 de Julho de 2025, quando morreram dezenas de angolanos;

4 - Não remeteram contribuições de alterações à Lei dos Partidos Políticos, à Lei de Financiamento aos Partidos Políticos e outras que tramitam na Assembleia Nacional para discussão e aprovação;

5 - Não tomam posição pública de pressão política permanente pela institucionalização efectiva das Autarquias.

Estas e muitas outras omissões, deficiências e insuficiências políticas demonstram que os novos partidos e seus dirigentes, apesar do potencial latente de fazerem oposição política para a alternância com mudança, têm optado por um percurso tortuoso de auto-sabotagem, justamente por fazerem a errática oposição à UNITA, para gáudio do MPLA e para a cristalização da certeza de milhões de eleitores que, cada vez mais, acreditam que tais partidos anti-UNITA são meros satélites do partido no poder.

Nuno Álvaro Dala

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