Perante as queixas apresentadas diariamente por famílias angolanas, pede-se que o Presidente João Lourenço reforce no imediato as importações de bens alimentares, ainda que tal medida venha a pressionar as reservas internacionais, estimadas em mais de 10 mil milhões de dólares norte-americanos.
Em três dias, o saco de arroz, produto que faz parte do Plano Nacional de Produção de Grãos (Planagrão), subiu de 17 mil para 20 mil kwanzas, cerca de 25 dólares norte-americanos.
É um indicador, muito em voga nas redes sociais, que dá consistência ao clamor de cidadãos angolanos
“A cesta básica sobe todos os dias, o poder de compra das famílias está cada vez mais difícil. O que mais sobe é mesmo o arroz, a massa, o óleo , o açúcar e a farinha, está mesmo mal”, indica José Pelenga, desempregado.
“O que se passa no nosso país é mesmo a questão da fome, está a nos apertar, tudo sobe, era bom que o Governo desamarrasse o cinto que nos aperta”, acrescenta o mototaxista Adriano Bento.
A oposição política diz que vai à luta, já a partir de 15 de Outubro, no regresso das férias parlamentares, por uma cesta básica ao alcance dos angolanos, mas o contexto é desfavorável, segundo o economista Alfredo Sapi.
Aquele académico diz que o Presidente João Lourenço vem sendo mal aconselhado e alerta que a solução imediata passa pelo reforço das importações, que absorveram 2,8 mil milhões de dólares em 2022.
“Fazer com que o mercado tenha alguma lufada de ar fresco para mitigar os problemas da população. Nos colocaram nas nossas cabeças que a produção interna não coabita com a importação, não é verdade. A Zâmbia, por exemplo, tem um poder de produção interna que permite não importar certos bens, mas importa. O que diferencia é a qualidade, são os preços”, indica Sapi.
Sobre a produção interna, o economista aponta fatores adversos, como o mau estado das vias e a baixa taxa de electrificação, e recorda que terá de haver competitividade
"Isto através da redução do custo de produção, o que acontece por via das condições da estrada, da energia, da água e de financiamento para irrigação com base na tecnologia. Não depender do Jesus para nos dar a água e irrigar as plantações”, assinala.
Quem também olha para estes fatores é o agente comunitário Abílio Sanjaia, que nesta altura exige explicações sobre o futuro da Reserva Estratégica Alimentar, criada pelo Governo para regular os preços.
Com a mudança de gestão sobre a mesa, do Grupo Carrinho para o Entreposto Aduaneiro de Angola, uma entidade pública, Sanjaia realça que este instrumento deve ter relação com a produção interna e critica o silêncio das autoridades
“No caso da Reserva … rescindiram o contrato, não se conhecem as razões. Será que a Carrinho não estava a cumprir? O tempo chegou ao fim? Portanto, o cidadão deve saber, é importante que se melhore o acesso à informação”, indica aquele agente comunitário.
No Ministério da Indústria e Comércio, setor que, segundo João Lourenço, joga um importante papel na valorização da produção interna, a mudança de gestão é vista como um assunto “não oficial”, uma vez que decorrem ainda inspeções ao abrigo da auditoria a cargo da KPMG.
Começou a ser operacionalizada em 2021, com 10 produtos e um custo de 200 milhões de dólares, tendo posteriormente absorvido outros largos milhões em obras para o acondicionamento dos bens importados.
A oposição considera inadmissível que um país com tantas riquezas tenha a maior parte da população em absoluta miséria.
Enquanto isso, o ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, anunciou, em declarações prestadas recentemente à Rádio Nacional, que o Governo vai determinar, nas próximas semanas, preços mínimos para certos produtos, no quadro da segurança alimentar. VOA