Sexta, 01 de Agosto de 2025
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Quinta, 31 Julho 2025 10:12

UNITA diz que "arrogância" não resolve problemas de Angola

Em entrevista à DW, Álvaro Chikwamanga, secretário-geral da UNITA, diz que os protestos violentos são consequência do caos e pobreza que Angola vive e propõe o diálogo como única via para se ultrapassar a atual crise.

O maior partido da oposição angolana reconhece que os luandenses foram apanhados de surpresa, na segunda-feira (28.07), pela onda de vandalismo e saques na capital angolana, no contexto dos protestos contra a subida do preço de combustíveis e dos transportes públicos.

Mas a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) sublinha que é responsabilidade dos organizadores da greve não se associarem ao vandalismo, do mesmo modo que exige contenção da violência policial.

Para Álvaro Chikwamanga, secretário-geral da UNITA, os protestos violentos são consequência do caos e pobreza que Angolavive e igualmente uma mensagem que a população passou a um Executivo que está a governar mal. O partido do Galo Negro propõe o diálogo como a única via para se ultrapassar a crise.

DW África: Os taxistas convocaram uma greve e não protestos de rua. O que terá potenciado a explosão de ontem?

Álvaro Chikwamanga (AC): Acredito que foi uma desinformação que os órgãos de comunicação social tentaram fazer com o objetivo de furar a greve e, então, perdeu-se o controlo da situação. Porque aqueles que iriam manifestar-se, ou seja, que iriam fazer a greve no sentido de ficarem em casa viram movimento de pessoas na rua, contrariando a greve, e atacaram os carros, tentaram carregar as pessoas, tanto coletivas como privadas, e depois simples vandalismos contra viaturas, também ao nível de estabelecimentos comerciais e perdeu-se o controle, praticamente.

DW África: Os populares saquearam as lojas. Isso não descredibiliza os atos de contestação?

AC: Sim, quer dizer, era inesperado que a situação desembocasse no saqueamento dos estabelecimentos comerciais, porque o problema era uma greve de táxis que apelou a que os seus usuários ficassem em casa, mas esta situação foi aproveitada por cidadãos anónimos e a polícia está agora fazendo um trabalho de identificá-los. Mas isso também é um pouco consequência da situação caótica que se vive em Angola. Há uma situação de fome inequívoca, uma pobreza inequívoca, para a qual o Estado não tem sabido encontrar respostas adequadas. Então, isto que aconteceu foi apenas um atear de uma chama que se esperava que a qualquer altura iria acontecer.

DW África: Nesta senda, entende os protestos como estopim para um levante de grandes proporções contra o Governo que é altamente contestado?

AC: Eu acho que sim, isto é uma resposta, é uma mensagem que os cidadãos estão a dar ao Governo. Acho que os cidadãos estão a dizer ao Governo que está a governar-nos mal, não está a ouvir o nosso clamor, não está a dialogar com as camadas mais pobres que neste momento são, maioritariamente, constituídas por jovens. Não havendo este diálogo, então, as pessoas procuram caminhos ínveos, infelizmente, porque os que estão a vandalizar as casas não são os taxistas.

DW África: Em que circunstâncias a UNITA ponderaria juntar-se à população em protestos?

AC: A UNITA o que fez foi solidarizar-se com a greve, mas a UNITA responsabiliza os organizadores da greve para que não se associem ao vandalismo, porque o vandalismo é crime, o assalto aos estabelecimentos comerciais é crime, portanto, isto a UNITA não apoia. Agora, a greve dos taxistas é normal, é constitucional e tudo quanto nós esperávamos é que o Governo encontrasse a oportunidade, o momento de conversar com os grevistas para poder ouvir o que dizem no seu caderno reivindicativo e poder encontrar as melhores respostas para os grevistas.

DW África: Apesar dos crimes cometidos por alguns populares, a polícia também terá se excedido no uso da força. O que é que a UNITA tem a dizer sobre a atuação policial?

AC: O apelo que nós fizemos é de contenção da polícia, de contenção da violência. A solução não passa pela violência contra os grevistas que estão a ser identificados e estão a ser presos, não passa pela violência contra os cidadãos que se insurgiram e, sobretudo, os que vão tomar de assalto os estabelecimentos, mas nós temos que apelar que a melhor forma de resolver o problema nas sociedades é exatamente a concertação e o diálogo. Então, é para isto que nós apelamos, para que a polícia se contenha.

É verdade que todos entendemos que a polícia foi apanhada de surpresa. Hoje parece-me haver um pouquinho mais de controlo por parte da própria polícia, um pouquinho mais de postura, mas o que aconteceu ontem foi todo o país apanhado de surpresa. E nós até ficamos assustados porque parecia que não tínhamos aqui um serviço de segurança que nos pudéssemos proteger da situação como a que estamos a viver. Então, continuamos a apelar que as entidades assumam as suas responsabilidades com inteligência.

DW África: A força bruta vai conseguir travar um povo que sente que já não tem nada a perder?

AC: Musculação para resolver problemas sociais não resolve o problema. Arrogância para resolver o problema social não resolve. A arrogância tem de ser contida, não só nos atos como no discurso.

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