“Como é possível que um povo comprovadamente tão rico em espírito aceite viver tão pobre em consciência?”
Angola sofre de uma doença silenciosa, a abdicação do pensamento crítico.
A modernidade entrou pela porta da frente, mas a reflexão ficou presa na varanda.
Estamos vivendo num país onde a opinião virou barulho, o debate virou luta e a verdade virou aquilo que convém no momento.
É triste ver um povo que deixou de examinar a si mesmo, de questionar líderes, tradições mal digeridas ou modelos de sociedade importados sem filtros. A crise filosófica angolana não é teórica, é prática, ou seja, pensamos pouco, repetimos muito, imitamos demais e não questionamos quase nada.
A política angolana continua atolada num lamaçal ético que posso considerar como uma política de traição do bem comum. O país avançou, sem dúvida, mas avança mancando, porque confunde autoridade com autoritarismo, confunde governo com dono da casa do Estado e confunde cidadania com aplauso automático.
Há um medo estructural do escrutínio público. E uma sociedade que teme questionar os seus dirigentes já perdeu metade da sua liberdade. É fundamental a coragem para enfrentar o elefante na sala, a política angolana continua mais focada em controlar consciências do que em despertar cidadãos.
Culturalmente, vivemos uma crise inquietante, a cultura angolana está a ser plastificada. Importamos comportamentos, linguagens, ideais e até problemas que não são nossos. Enquanto isso, a sabedoria dos mais velhos é tratada como excentricidade, a leitura é um hábito raro, a reflexão cultural virou uma espécie de luxo.
Vivemos uma tragédia moral. Um povo que esquece as suas raízes transforma-se num eco vazio, numa caricatura de si mesmo. A cultura angolana precisa deixar de ser espectadora das modas alheias e voltar a ser criadora do seu próprio destino simbólico.
A economia angolana é como um prédio alto construído sobre areia movediça, impressiona à distância, mas desaba quando tocada. Não podemos aceitar a normalização da desigualdade nem o conforto dos poucos à custa da precariedade dos muitos.
Pois que, a verdade é incómoda, é um facto que em Angola há riqueza, mas ela circula mal, há trabalho, mas não há oportunidades, há potencial, mas não há vontade colectiva de o transformar em dignidade. A economia continua a servir uma minoria, e pior ainda, naturaliza-se isso como se fosse inevitável.
Angola está a perder o seu espírito comunitário, o individualismo tomou conta, a juventude está desencantada, a desconfiança social virou norma e o senso de solidariedade está a desaparecer. A sociedade fragmentou-se, há Angola das promessas e Angola das sobrevivências, há Angola das palavras e Angola dos factos.
Onde foi parar a alma que dizia que o vizinho é irmão? Hoje, cada um corre por si, e os mais vulneráveis correm contra o vento.
Esta análise não é confortável nem decorativo, é um espelho, e parece-me que hoje esse espelho está partido, tudo por causa dos Partidos. É uma reflexão que mostra um país com potencial para ser referência, mas com hábitos que insistem em puxá-lo para trás.
É fundamental assumirmos a coragem para devolver a ética à política, para devolver consciência à cultura, para devolver humanidade à economia, e devolver alma à sociedade.
Angola não precisa de mais discursos. Precisa de um despertar moral profundo, de cidadãos que recusem o papel de espectadores da própria história.
Por: Adão Xirimbimbi “AGX”
Jurista e Pensador

