A vigília, que estava anunciada para o Jardim São Domingos, junto à igreja com o mesmo nome, em Luanda, não chegou a acontecer, pois a polícia retirou à força do local alguns jovens, que envergavam t-shirts pretas com os dizeres "Vozes Livres, Presos Políticos Livres" estampados em branco, inviabilizando o ato.
A ativista Laura Macedo, uma das organizadoras, relatou que, ao chegar ao local, encontrou "um aparato policial muito grande" que obrigou os jovens a desmobilizar.
"Eu estou aqui desde as 17 horas, tranquila, dentro do meu carro, com muita polícia, polícia estacionada e polícia a passar, principalmente muitos agentes à paisana", comentou, afirmando que um dos agentes obrigou os ativistas a "desmobilizar", mostrando "uma carta fictícia".
"Eu até aceito que o Governo não consiga entregar uma carta lá em Cacuaco, na Rua Sem Número, em Viana, na Rua Sem Número, mas eu tenho o endereço, estou localizada, vivo na baixa da cidade (...) não consigo perceber porque o governo da província tem sempre que não cumprir a lei e usar a Polícia Nacional para fazer este trabalho sujo", ironizou.
Questionada sobre o conteúdo da suposta carta, afirmou que não a leu e que nenhum dos ativistas recebeu a carta.
Segundo Laura Macedo, os agentes alegaram que "o governo da província não autorizou" a realização da vigília, o que considera ilegal.
"A lei diz que eu não preciso de autorização para fazer uma atividade. [...] Nós só estávamos na concentração, não estávamos sequer ainda no Largo", indignou-se.
Laura Macedo indicou que cerca de 15 jovens foram levados pela polícia, incluindo alguns transeuntes que "acharam que se vinham manifestar".
O objetivo da vigília era exigir a libertação imediata de todos os presos políticos e o fim das prisões a quem reclama por uma vida digna para todos os angolanos.
A ativista falou em "prisões ilegais" e contestou o argumento policial de que o local estava próximo de uma esquadra: "Nós estamos a mais de 300 metros da esquadra, a lei permite-me estar a 100. Portanto, não se entende porque é que a polícia tem sempre que fazer o trabalho sujo das autoridades administrativas, isso é o que a mim me incomoda."
Garantiu, contudo, que as ações vão continuar e prometeu "manifestações espontâneas", garantindo que não é necessária qualquer autorização para realizar iniciativas deste género a partir das 19:00.
"Das 07:00 da noite à meia-noite nós temos esse direito, a lei permite. Portanto não entendo, o que é que esta gente quer? Têm medo de quê? Será que o Presidente João Lourenço tem medo de mim?", indignou-se.
Na convocatória entregue ao Governo Provincial de Luanda, os organizadores afirmavam que "as autoridades angolanas mantêm, em diferentes cadeias do país, mais de 10 cidadãos acusados de crimes diversos: rebelião, terrorismo, instigação pública ao crime, associação criminosa, entre outros, quando estes apenas exerciam seus direitos constitucionais".