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Sábado, 20 Janeiro 2024 10:33

Frustração popular com custo de vida em Angola entre as preocupações do Governo - Chatham House

O diretor do Programa Africano do Instituto Real de Estudos Internacionais britânico considerou à Lusa que a frustração em Angola vai continuar este ano devido ao elevado custo de vida, sendo uma das principais preocupações do Governo.

"A opinião pública está frustrada com o elevado custo de vida e isso vai continuar a ser uma das principais preocupações do Governo", disse Alex Vines, antecipando os principais temas para Angola em 2024.

“A inflação no país deverá aumentar este ano, possivelmente chegando a mais de 20% até final do ano, e a dívida pública também vai voltar a ser um dos principais temas, depois de a reestruturação da dívida ao abrigo de uma moratória com a China, entre 2021 e 2023, acabar, levando Angola a duplicar os pagamentos da dívida este ano, para cerca de 14 mil milhões de dólares [12,8 mil milhões de euros]", disse o diretor da Chatham House em declarações à Lusa.

Ainda assim, sublinhou, o aumento dos preços do petróleo e a subida gradual da produção petrolífera "vão permitir ao país cumprir as suas obrigações, incluindo o pagamento das suas obrigações financeiras sobre os Eurobonds", ou seja, as emissões de dívida no mercado internacional em moeda estrangeira.

A nível regional, o país vai continuar a querer manter uma posição de destaque, querendo ser "cada vez mais assertiva e dinâmica nas organizações regionais e continentais", nomeadamente no Conselho Executivo e na Comissão de Paz e Segurança da União Africana, mas a nível internacional a posição de princípio é a equidistância.

"Angola vai manter a sua posição de não-alinhamento mais forte em 2024, evitando ficar presa", previu o analista, referindo-se principalmente ao relacionamento entre o país africano e os Estados Unidos e a União Europeia, de um lado, e a Rússia e a China, de outro.

A nível continental, Alex Vines destacou que apesar de África ser a segunda região com o crescimento mais rápido, a seguir à Ásia, a expansão de 4% "mostra uma realidade menos auspiciosa", destacando vários temas que estarão entre as prioridades dos governos para este ano.

"Novos conflitos, mais golpes de Estado, o renovado conflito entre Israel e Gaza e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia estão a contribuir para impedir um crescimento maior em todo o continente", escreveu o analista, num artigo sobre os principais temas de 2024 para África, publicado no jornal sul-africano Mail & Guardian.

O debate sobre a dívida pública dos países africanos "será proeminente em 2024; elevadas taxas de juro e um dólar mais forte fazem com que seja mais caro para os países africanos servir a dívida em dólares, o que originou mais sobre-endividamento em vários países", acrescentou o analista, notando que no início deste ano há nove países africanos em situação de sobre-endividamento, e mais 15 em elevado risco e 14 em risco moderado de caírem nesta situação.

No artigo, Alex Vines apontou também "a degradação da instabilidades política no continente, exemplificada pelos nove golpes militares desde 2020, aumentou o foco na fragilidade do Estado de direito constitucional" e salientou que "os países que já estão sob liderança militar estão cada vez mais instáveis, sendo possível novos golpes" em países como o Burkina Faso, Mali ou Níger.

Para Alex Vines, o número elevado de eleições no continente, 17, não fez abrandar o interesse dos investidores e a vontade dos países africanos abrirem as suas economias a investimento estrangeiro.

"Este ano haverá um ritmo mais rápido de fóruns comerciais", sublinhou, apontando o segundo Fórum de Investimento UK-África, em maio, a conferência Itália-África, em Roma, que preside ao G7, e as cimeiras Coreia-África, em junho, e Índia-África.

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