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Sexta, 11 Junho 2021 10:00

Empresário julgado por suposta burla de mais de um bilhão de Kz ao ex-financeiro da UGP

Francisco Yoba Capita está a ser julgado pela 14.ª Secção do Tribunal Provincial de Luanda por ter burlado mais de um bilhão de Kwanzas ao coronel José Tchiwana, antigo director financeiro da UGP, como pagamento para a resolução de um litígio de terreno.

O acusado, em sua defesa, diz que o ‘xis da questão’ está na transportação de seis contentores de dinheiro para Benguela que a sua empresa fez, a mando do coronel

Duas pessoas influentes. De costas viradas está, de um lado, o empresário Francisco Yoba Capita, de 38 anos, marido de uma Procuradora-geral da República, genro e afilhado, igualmente, de um PGR; do outro lado, está o coronel José Tchiwana, antigo financeiro da Unidade de Guarda Presidencial, que só foi exonerado deste cargo depois de ter conhecido (e se desentendido com) Yoba.

No julgamento, que teve início no dia 3 do corrente mês, pesam duas histórias diferentes. O certo é que tanto Yoba quanto Tchiwana se conhecem e, o segundo, instaurou um processo-crime contra o primeiro, que é acusado de burla por defraudação, tráfico de influência, abuso de poder, falsificação de documentos e calúnia e difamação.

O juiz da 14.ª Secção do Tribunal do Benfica, em Luanda, orientou que a imprensa não fizesse nenhuma gravação (de som e imagem), por se tratar de um processo delicado. A descrição que podemos fazer é que Francisco Yoba Capita tem a estatura média, pele clara, corpo de quem pratica exercício, cabelo ondulado e apresenta-se sempre com uma sapatilha da Reebok, de cor branca – que conjuga com a cor das letras gravadas na farda (dos Serviços Prisionais) que veste.

A versão dos factos contada por Francisco Yoba Capita dá conta de que ele é detentor da empresa Delta Bravo, que aufere um rendimento mensal de um milhão de Kwanzas, e terá sido solicitado pelo coronel José Tchiwana (como dono da empresa Horizonte Comercial), em 2018, para prestar um serviço de transportação de mercadoria contentorizada, de Luanda para Benguela.

O sector de actuação da Delta Bravo cinge-se no transporte, logística e construção, bem como segurança privada, por isso, segundo Yoba, a razão da contratação feita pela Horizonte Comercial, para transportar “seis contentores de dinheiro”, de 20 e 40 pés. O encontro para o transporte foi na quinta do coronel, na Via Expressa e, no mesmo local, Yoba estava prestes a receber o pagamento de 300 milhões de Kwanzas.

O problema é que o coronel queria pagar em cash. Ou seja, segundo Yoba, Tchiwana abriu um dos contentores, retirou uma caixa que continha dinheiro e dela saíram três maços de notas de 5 mil cada, que totalizariam 300 milhões de Kz.

Yoba não aceitou, por achar que aquela não era a forma correcta de agir. Uma vez que se tratavam de duas empresas, orientou que o pagamento devesse ser feito via banco, também porque precisaria justificar a proveniência do dinheiro – tanto no momento do depósito quanto no momento da movimentação.

“Não vi se os contentores todos tinham dinheiro”

Apesar de não ter visto em todos os contentores, como disse Yoba na audiência de julgamento, afirmou que eram de dinheiro. Chegou àquela conclusão porque, face à desconfiança em receber as notas em mãos, o coronel terá sugerido trocar os 300 milhões, em notas de 2000, 1000 e 500Kz, ali mesmo, porque as tinha nos demais contentores.

Continuou a negar este tipo de pagamento, até que o coronel aceitou pagar o frete via banco. Transportaram os supostos contentores de dinheiro, mas, ao meio do caminho, na Canjala, o coronel orientou que Yoba e sua equipa (seis camionistas, responsáveis das finanças e segurança, e escoltas) regressassem a Luanda, pois, dali em diante, estava sob a responsabilidade dos militares da UGP.

Yoba achou estranho, mas obedeceu. Recebeu o devido pagamento e os camiões. Estranho foi quando recebeu a ligação do coronel a pedir que o encontrasse, urgentemente, na mesma quinta, porque precisava da sua ajuda.

O coronel, segundo Yoba, precisava de um empréstimo de 400 milhões de Kz, porque haviam uns funcionários da UGP que faziam confusão na quinta, reclamando dalgum pagamento. Dado o facto de que a PGR estava no encalço daqueles que delapidaram o erário público, o coronel, segundo Yoba, não poderia movimentar dinheiro até que a situação se acalmasse.

O empresário disse que não poderia retirar esse dinheiro da conta da empresa, sem mais nem menos, mas, atendendo à aflição do coronel, sugeriu que fossem fazer um empréstimo a um amigo seu, um chinês, dono do Casino Atlântico. O chinês emprestou o dinheiro, por confiar nas palavras de Yoba, mas este tinha de deixar, como garantia, apartamentos e viaturas suas. OPAIS

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