Albino Pakisi, em declarações à Lusa, comentou a fase final do julgamento que envolve Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” depois do Ministério Publico deixar cair a maioria das acusações contra o general nas suas alegações, pedindo a condenação apenas pelo crime de tráfico de influência.
“Ouvimos o Ministério Público retirar as acusações que pendiam sobre o general ‘Kopelipa’, mas também houve a justificação de que terá havido uma interferência na internet, os ‘hackers’ terão eliminado todos os processos e documentos que têm a ver com o general ‘Kopelipa’, o que estará na base da retirada dessas acusações que pendiam sobre o antigo homem forte do Presidente José Eduardo dos Santos”, referiu, sobre o julgamento que decorre desde 10 de março no Tribunal Supremo.
Apesar do princípio “essencial” da presunção de inocência, Albino Pakisi sublinhou que “os factos demonstram que a pessoa em causa acumulou muitos bens” quando foi chefe da Casa Militar do Presidente da República.
Ao analisar o processo de combate à corrupção, o analista considerou que a luta não foi “inglória” e que vale a pena continuar, apesar das dificuldades, lembrando que “os corruptos blindaram-se também com os melhores advogados, com toda a presunção de inocência” que é preciso ter em conta.
“Mas a grande verdade é que a justiça não está apenas para condenar, também está para absolver e, no caso concreto, temos ouvido vários relatos de advogados, como Sérgio Raimundo e outros, que dizem que os processos estão a ser muito mal instruídos”, acrescentou.
Segundo Albino Pakisi, a má instrução de muitos desses processos judiciais tem uma razão “compreensível”, que tem a ver com a “grande interferência política”.
“Ou seja, nós tivemos muitas pessoas que se meteram em corrupção na governação passada, nos 38 anos da governação do Presidente José Eduardo dos Santos, mas hoje, na governação do Presidente João Lourenço, também estamos a ter outros corruptos e há uma grande interferência política nesses processos judiciais”, sublinhou.
Para o analista político, está a ser formada “uma nova gama de corruptos, que, no afã de ficarem com as riquezas que pertenciam ao antigo Governo do Presidente José Eduardo dos Santos, estão a influenciar o poder judicial na instrução dos processos e na arrecadação desses bens e, inclusive, na recolha e congelamento destes dinheiros e bens móveis e imóveis”.
“Esse tem sido um dos grandes problemas, por isso vimos aquela questão do engenheiro [Joaquim] Sebastião, o homem forte do INEA [Instituto de Estradas de Angola], cujos bens tinham sido todos desbloqueados e no dia seguinte o Tribunal Constitucional voltou a congelar esses bens”, realçou.
“É uma trapalhada terrível, mas está muito relacionada com o poder judicial que tem uma grande interferência do poder político”, vincou.
O problema pode ser ultrapassado quando houver “uma justiça independente, do ponto de vista patrimonial e financeiro”, e com juízes conscientes “de que exercem a justiça em nome do povo”, para haver “uma justiça verdadeira em Angola”, destacou Albino Pakisi.
“Não quero levar a expressão de que a montanha terá parido um rato, mas a grande verdade é que o Presidente João Lourenço começou este combate à corrupção, [em] 2017, 2018 e 2019, esteve muito bem, mas temos que dizer que os resultados são muito poucos. Não só são poucos, como há um descrédito muito grande no próprio poder judicial, por conta da interferência do poder político”, frisou.
De acordo com Albino Pakisi, depois das eleições de 2027, o país terá “muitos outros processos desta nova vaga também de corruptos, que se vai formando neste tempo”.
O analista salientou que se vai dando nota “de que muitos estão a corromper, com desvios de bens públicos, dinheiro público”, apontando os contratos simplificados ou a adjudicação direta.
“Há quem diga que isto também está a ser por meio da corrupção. Não sabemos se é verdade ou não, vamos ver o quem vem daí em 2028 e 2029”, concluiu.