Num país onde a democracia ainda parece caminhar com muletas, é preciso fazer uma reflexão séria sobre o que pode estar por vir. Não se trata de falar política no sentido partidário, mas de lançar um alerta para que não sejamos surpreendidos no jogo político angolano.
O presente artigo de opinião inspira-se em excertos do livro “As Eleições em Angola – De 1992 até aos Nossos Dias”, da autoria do articulista, no qual se analisa a evolução do processo eleitoral angolano e as suas múltiplas dinâmicas.
1 – O Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço foi vaiado, em plena entrega do prestigiante troféu de basquetebol masculino africano, ganho pela 12ª vez e depois de 12 anos de jejum, no ano dos 50 anos de independência. Providencial.
Felizmente, se for exagero, hoje, afirmar que temos uma unanimidade no MPLA, sobre a necessidade de se fazer algo parecido com o que fui defendendo, há decénios, da necessidade de se abandonar o chamado “centralismo democrático”, há agora, sem dúvida, uma ideia generalizada de que as coisas não podem continuar como estão. Críticas importantes são feitas abertamente e fala-se em candidaturas múltiplas.
O regime insiste em semear o medo na sociedade através de prisões arbitrárias, perseguições políticas e até execuções sumárias, na tentativa de calar vozes e isolar consciências. A lógica é simples: quanto mais medo, mais fácil perpetuar-se no poder.
Nos anos mais quentes da Guerra Fria, quando o mundo estava dividido entre os Estados Unidos e a União Soviética, muitos países africanos, asiáticos e latino-americanos procuraram uma terceira via: a neutralidade.
Havendo eleições livres e justas em 2027, e mantendo-se a situação actual, o MPLA não ganhará as eleições. É evidente que, como dizia o antigo primeiro-ministro inglês, Harold Wilson, “em política, uma semana é muito tempo”.
Por causa das pilhagens registadas em oito províncias de Angola, nos dias 28, 29 e 30 de Julho, o governo angolano deteve os jornalistas Carlos Tomé, da Televisão Pública de Angola (TPA), e Alfredo Armando Bumba, do jornal Expansão.