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Terça, 18 Fevereiro 2020 00:22

A ascensão presidencial em Angola

Talvez, tenha me parecido céptico, com relação ao actual contexto de coisas vigentes em Angola, similar a Marx, Nietzsche, Diderot, Freud e Sartre. Mas a verdade é excepcional.

Só encontra a verdade quem aprende a duvidar da sua existência. As vezes duvidar das coisas, é a forma mais sábia de ter em posse o que existe fora do nosso alcance. Se a chave genética do MPLA esteve sempre às mãos de Viriato da Cruz, parece hoje estar esse movimento sujeito à caminhos bastante sinuosos e melindrosos face ao seu futuro. Se, de um lado, Eduardo dos Santos deu de bandeja o poder às mãos de João Lourenço sob influência de Vladmir Putin, seu forte correlegionário.

Não há dúvidas, de que, João Lourenço, já tenha escolhido alguém à quem possa confiar a sua substituição no futuro. Talvez terá seguido o exemplo segundo o qual “Os sábios aprendem com os erros dos outros”, assim, Eduardo dos Santos ao errar o alvo à depositar o seu poder, o seu substituto deu conta que se falhar viver o terror que Eduardo dos Santos aos nossos dias vive.

Assim, como José Eduardo dos Santos, preferiu deixar o poder às mãos de quem menos rendeu – lhe confiança, parece que agora, o seu substituto, já está pronto, e, prepara com a máxima cautela o futuro, enquanto cedo é, evitando passar os horrores vividos hoje por Eduardo dos Santos.

José Eduardo dos Santos, hoje vive completamente exilado do mundo, um patriota e nacionalista, que deu tudo à pátria, resgatou o País das piores tragédias do passado, hoje, pelo exacerbado tom de ingratidão dos que os cercavam, merece passar em sua figura um apagador que o deixe num silêncio tumular, Eduardo dos Santos hoje vive: «Um presente de perseguições e vinganças tão terríveis que nunca terá vivido desde que apareceu na face da terra como um Presidente em África Austral». Ninguém gostaria ter uma vida em que os seus filhos são perseguidos, uns presos, outro em fuga, outros tantos exilados, talvez seja essa a pior fase de vida que o ex – Presidente tenha passado enquanto um homem de valor para o mundo que o trouxe à viver, completamente perseguido e odiado por quem escolheu.

Neste âmbito, João Lourenço, aprendeu bem a jogar as cartadas certas, e, não quer receber o troco do que hoje está a dar ao seu anterior mestre. Lourenço foi tão inteligente, ao ponto de apontar Fernando Garcia Miala como o único elemento à substituí – lo no futuro, quando se afastar do poder. Sabe Lourenço que a “Guerra entre marimbondos” não o dará paz para o seu futuro, mas não deve esquecer – se pelo seguinte, ninguém vai – se para o outro lado sem pagar as contas, talvez os seus confrades esperam em silêncio que quando deixar o poder o possam pagar tudo pela mesma moeda. 

Miala é um génio em serviços de Inteligência, aliás, um dos mais nobres homens da secreta em África Austral. Em 2012, já era em Miala onde Eduardo dos Santos variadas vezes quando era aborrecido pelos seus correlegionários ameaçava deixar o poder. Mas, a sorte, parece ter uma única pele chamada Miala, o homem mais assediado ao nível dos serviços de informação e inteligência de Estado, aparece novamente na lista dos que irão substituir João Lourenço, só que para tal, ele é o único da lista, ocupando a primeira linha e representando – se isoladamente sem ninguém que se lhe oponha. Miala será o próximo Presidente de Angola quando João Lourenço se retirar de cena. É assim, que o homem mais importante desta nação planifica deixar a vida política activa. Poderá Miala ser – lhe fiel? Ou sê – lo – á quanto este foi para Eduardo dos Santos quem esse substituiu? Só Deus sabe o futuro, à nós homens compete – nos apenas assistir.

Recorde – se que, recentemente João Lourenço vivia uma pressão extrema à quando do combate à corrupção. João Lourenço, aborrecido por aquilo que para o qual era a maior bandeira do seu regime, partiu para casa de Miala pronto à depositá – lo o poder de bandeja. Mas, Miala reagiu de forma estranha quanto a esse facto, dizendo ser cedo demais para poder assumir o navio com ondas a ferverem à sua cerca. Par ao qual, geraria no seio do MPLA indignação e revoltas avulsas, tal quanto, Mário Pinto de Andrade fugia das pressões impostas pelo “Pai do MPLA” Viriato da Cruz, ao ponto de depositar o poder de bandeja às mãos de Neto em Ribat (Marrocos), logo após a sua fuga de Lisboa.

Talvez, será hoje o vivido por Eduardo dos Santos, que cedeu a pressão dos seus irmãos de trincheiras e acabou por depositar o poder às mãos erradas. Reduzido à um mero militante de base, Viriato da Cruz, via – se postergado dentro do MPLA, tal quanto aos nossos dias Eduardo dos Santos assiste a sua imagem entregue à deriva, devorada por aqueles que os terá indicado para os substituir. Este facto iria mais tarde, 14 anos depois causar grande conturbação na psique de Mário Pinto de Andrade, tendo afirmado que, “Talvez tenha ele errado. Visto de longe, com os olhos daquela altura, parecia que não fizera, pessoalmente, tudo o que era preciso para não afastar Viriato da Cruz da cúpula dos camaradas. Para Pinto de Andrade, Viriato da Cruz era um homem de uma grande capacidade de organização, com uma grande audiência interna. Foi Viriato, a verdadeira alma do MPLA.

A sua grandeza genial criou um amplo movimento ainda nos estatutos do PLUA em 1956 à 10 de Dezembro, data que até então, o MPLA comemora como sendo da criação do partido, é pena que, faz – se lembrar do produto do arquitecto, mas o esquecimento fugaz sobre o papel do arquitecto permitiu que este permanecesse num silêncio profundo. A história vivida por Viriato da Cruz, talvez, se encontra na pessoa de Eduardo dos Santos, que após 38 anos em frente do destino do MPLA, em seu nome, a ingratidão foi imposta como um veneno mais amargo que a morte à devorar todo bom nome que tenha deixado para a nação angolana enquanto nacionalista e patriota, ao ponto de deixar o seu clã em debandada, perseguidos por tudo que é canto, até nas profundezas oceânicas deste mundo.

Bem – haja!

João Hungulo: Mestre em filosofia & pesquisador

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