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Terça, 05 Novembro 2019 16:28

Desvalorização do kwanza em Angola propicia inflação e recessão maiores em 2020, segundo a Fitch

"A depreciação do kwanza coloca um risco para a inflação, que pode pesar mais do que o anteriormente previsto no crescimento real para 2020", escrevem os analistas da Fitch.

A consultora Fitch Solutions disse esta terça-feira que a forte depreciação do kwanza em outubro abre caminho a uma inflação mais elevada e uma redução ainda maior na previsão de crescimento económica para este e o próximo ano.

“A depreciação do kwanza coloca um risco para a inflação, que pode pesar mais do que o anteriormente previsto no crescimento real para 2020”, escrevem os analistas desta consultora detida pelo mesmo grupo que tem também a agência de rating Fitch.

Na nota sobre a desvalorização da moeda nacional angolana, enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, os analistas escrevem que a previsão de 1 dólar para 412,5 kwanzas no próximo ano enfrenta “fortes riscos de revisão das previsões que apontavam para um crescimento da inflação de 16,8% em 2019 e 14,4% em 2020” e que as recessões de 0,4% este ano e 0,2% em 2020 possam ser mais severas.

Em outubro, o kwanza desvalorizou-se 24% face ao dólar, sendo agora precisos 499,2 kwanzas para comprar um dólar, segundo a Fitch Solutions, apontando para uma “forte divergência” entre a procura e a oferta da moeda estrangeira em Angola.

“O enfraquecimento continuado do kwanza no mercado negro nos últimos meses fez com que o diferencial se mantenha em cerca de 26,5%” face à taxa de câmbio oficial, dizem os analistas, sublinhando, contudo, que “a transição para uma taxa de câmbio livre é um sinal positivo relativamente ao empenho dos decisores políticos no que diz respeito ás reformas económicas”.

A permissão de oscilação livre do kwanza nos leilões de moeda estrangeira a que os bancos recorrem para comprar divisas em Angola era uma das recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI), que aprovou no final do ano passado um pacote de ajuda financeira no valor de 3,7 mil milhões de dólares, cerca de 3,3 mil milhões de euros.

“Continuamos a acreditar que perseguir a taxa paralela, que se depreciou de 410 kwanzas por dólar no princípio do ano para 690 kwanzas por dólar nesta altura, está em conflito com os objetivos mais abrangentes do Banco Nacional de Angola relativamente à estabilidade dos preços e apoio ao crescimento económico”, alertam os analistas na nota enviada aos investidores.

A Fitch Solutions, que prevê uma redução do preço do barril do petróleo de 64 dólares por barril este ano para 62 em 2020, afirma que espera que o BNA consiga mitigar a volatilidade cambial nos próximos meses, mas alerta que “o perigo de novas desvalorizações acentuadas permanece elevado”.

“Um desempenho abaixo do esperado quer dos preços internacionais, quer da produção nacional, implicaria um menor crescimento económico e um aumento da pressão para a desvalorização do kwanza, reduzindo as entradas de capital externo e prejudicando as reservas internacionais”, que caíram de 35,1 mil milhões de dólares em dezembro de 2013 para 15,3 mil milhões em setembro.

O BNA anunciou em meados de outubro uma série de medidas tomadas na reunião extraordinária do Comité de Política Monetária, entre as quais o fim da margem de 2% sobre a taxa de câmbio de referência que era praticada pelos bancos comerciais na comercialização de moeda estrangeira no mercado interbancário e aos clientes.

No início do ano, o BNA tinha já retirado o limite de 2% imposto aos bancos no leilão de divisas e elimina agora a margem de 2% que os bancos podem aplicar, esperando encontrar um equilíbrio cambial até ao final do ano. O comité de política monetária do BNA decidiu também manter inalterada a taxa de juro nos 15,5% e ajustou de 17% para 22% o coeficiente de reservas obrigatórias para moeda nacional.

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