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Quarta, 06 Novembro 2024 15:51

Um ‘fantasma’ chamado SINSE no SME, a alçada do SIC e o novo ‘Brutus’

Há muito que o ‘fantasma’ SINSE vinha assombrando o SME. É um dossier que João Lourenço dominava, até porque os ‘Serviços’ já o vinham alertado para os perigos que tal situação representava para a segurança nacional.

A nomeação de Coimbra Baptista não representa uma estreia da ‘secreta interna’ no SME. A instituição tem memória da gestão de João Maria de Freitas Neto (2010- 2012). Ouvidos pelo NJ, muitos efectivos do SME não guardam boas memórias da sua passagem pela instituição. “Chegaram com muita autoridade e dar ideia de que iriam organizar a nossa casa. No final, trouxeram outros vícios e criaram os seus esquemas. Nada mudou e fizeram pior”, revelaram, solicitando anonimato.

Na verdade, o actual estado das coisas acabou por criar condições favoráveis para o regresso do SINSE. Eugénio Laborinho dificilmente abriria mão de uma estrutura tão importante e influente como é o SME para o MININT, bem como jamais aceitaria um modelo de gestão partilhada com o SINSE. Mas, o certo é que foi o próprio SME que deu os ‘ingredientes’ para o SINSE investigar e a IGAE inspeccionar. Certo é que Coimbra Baptista vai enfrentar muitas forças de bloqueio internas, muitos esquemas e interesses instalados. Também vai encontrar efectivos dispostos a colaborar consigo, a fim de se colocar termo a muitas irregularidades e injustiças. Os primeiros tempos serão difíceis, serão de mudar hábitos, vícios e de se alterarem regras. Eugénio Laborinho anunciou que vai apoiar e colaborar com o novo director, tendo aqui uma oportunidade para mostrar que não se identifica com o actual cenário da instituição.

O SME é, ao longo dos anos, uma instituição associada aos esquemas e negociatas, uma instituição muito marcada e manchada por casos de corrupção. Parece existir mesmo uma solução Tiririca para o SME: pior do que está não fica!

SIC sob ‘alçada’ da Interna

A criminalidade assumiu índices alarmantes, crimes a dominar o espaço mediáticos e um clima de insegurança tomou conta dos cidadãos. Raptos, homicídios, narcotráfico, branqueamento de capitais, contrabando de combustíveis, extorsão e suborno e outros crimes indiciavam o envolvimento de altas esferas da instituição.

O SIC reencaminhou mais de 618 efectivos do último recrutamento para as outras províncias, por excesso de pessoal em Luanda. Num ofício dirigido ao ministro do Interior, Eugénio Laborinho, a instituição escreve que “(...) do levantamento feito, verificou-se um remanescente de 618 efectivos, que foram recrutados na capital do País, o que constitui um número muito elevado, a julgar pelas necessidades actuais da província de Luanda, em relação às demais províncias”, refere o documento.

Fontes do NJ atestam que está a decorrer um processo-crime contra o responsável dos Recursos Humanos do SIC. A luta de egos, guerras internas e de grupos também ajudaram a fragilizar a instituição e as suas direcções. Também se verificaram vários conflitos institucionais internos e externos. Internamente, o SIC (sob o comando do MININT) vai tendo choques e conflitos com o Departamento de Investigação de Ilícitos Penais (DIIP), sob tutela do Comando-Geral da Polícia Nacional. Externamente, foram verificados problemas de cooperação e coordenação com o SINSE.

Relativamente ao caso ‘Hotel Diamond’, em que o SINSE terá iniciado todo o processo investigativo, passando depois ‘a bola’ ao SIC para a actuação e divulgação pública, uma fonte do NJ atesta que, dias após a apresentação dos cidadãos chineses envolvidos em esquemas de burlas, extorsão e fraude, mesmo estando o edifício vedado, algum material terá sumido sem que se tenham apurado responsabilidades. Tânio Jorge da Silva é um quadro da ‘Interna’ e sabe bem o que vai encontrar no SIC, uma estrutura complexa e com desafios bastante complexos.

“Até tu, Brutus?”

Arnaldo Carlos é o actual comandante-geral da Polícia Nacional, nasceu a 04 de Janeiro de 1967 e ingressou na Polícia Nacional a 05 de Maio de 1986. Foi director do Gabinete de Estudos, Informação e Análise da Polícia Nacional, comandante provincial da Huíla e director do SIC (2019-2022). Em entrevista ao NJ, em Fevereiro de 2023, o comissário Paulo de Almeida, antigo comandante-geral da Polícia Nacional, fez também críticas ao seu sucessor, responsabilizando-o pelo então estado de “desorganização e indisciplina” do SIC, bem como de ter feito ‘vida cara’ à instituição que hoje dirige. Chegou mesmo a acusá-lo de falta de lealdade e de ambição desmedida. Certo é que existem hoje evidências de um clima tenso e de ruptura entre Arnaldo Carlos e Eugénio Laborinho, um cenário que não é anormal, pois há um histórico de relações tensas e lutas de egos entre o ministro de Interior e o comandante-geral na corporação. Desalinhado que está com o seu promotor, Arnaldo Carlos poderá aproveitar o ‘cerco e esvaziamento’ de Eugénio Laborinho para chamar até si o controlo do SIC e da logística, duas áreas ou dos campos fundamentais para a gestão e autonomia do Comando-Geral da Polícia Nacional. Na tomada de posse dos novos directores, o distanciamento entre Arnaldo Carlos e Eugénio Laborinho era visível bem com os semblantes carregados. Caso para Eugénio Laborinho dizer: “Até tu, Brutus?”

Parece existir mesmo uma solução Tiririca para o SME: pior do que está não fica!

Por Armindo Laureano/NJ

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