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Domingo, 30 Agosto 2020 21:00

Plataforma 27 de maio reclama resgate da memória dos acontecimentos desta data em Angola

A Plataforma 27 de maio lembrou hoje a necessidade de resgatar a memória dos acontecimentos de maio de 1977, data que marca uma tentativa de golpe de Estado em Angola, e de procurar "a verdade, justiça e reconciliação".

O comunicado da Plataforma 27 de maio, a que a agência Lusa teve acesso, refere que a posição é emitida por hoje se assinalar o Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados, declarado pelas Nações Unidas, com o objetivo de lembrar as suas vítimas, salientando que esta prática "é um crime contra a humanidade e que não prescreve".

A nota sublinha que se assinalam 43 anos desde o início de um processo de repressão política, que culminou na morte de milhares de angolanos e angolanas, incluindo alguns portugueses e portuguesas, que "segundo número da Amnistia Internacional cerca de 30.000 no total", os quais deram um contributo singular na luta de libertação nacional de Angola e/ou no subsequente período de reconstrução nacional.

De acordo com a plataforma, a fratura social resultante desta repressão perdura em Angola, dado que continua desconhecido até hoje o paradeiro de milhares de membros do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

"Neste dia, a Plataforma 27 de maio vem assim relembrar a necessidade de se resgatar a memória dos acontecimentos de maio de 1977 em Angola, e de procurar a verdade, justiça e reconciliação relativamente a um dos períodos mais traumáticos da história do país, fomentando a discussão sobre o assunto a nível da opinião pública angolana e internacional", lê-se no documento.

Um conjunto de reivindicações foram apresentadas ao Governo, das quais a organização destaca, a elaboração de uma lista de pessoas desaparecidas, a localização, realização de testes de ADN e a devolução dos seus restos mortais às suas famílias e a busca da verdade relativamente aos crimes cometidos.

A identificação dos responsáveis, que não podem ser considerados "vítimas" com a alegação de que responderam a ordens, o respeito pelas recomendações da União Africana e de outras instâncias internacionais são também outras das reivindicações submetidas às autoridades.

A devolução da dignidade e o bom nome às vítimas destes acontecimentos, assim como às suas famílias, são os objetivos da organização.

"A Plataforma 27 de maio pretende contribuir para o esclarecimento histórico dos acontecimentos em causa, que tiveram repercussões dramáticas na sociedade angolana contemporânea", sublinha o documento.

A organização defende que "é essencial o reconhecimento oficial dos acontecimentos de 27 de maio de 1977 como parte integrante da história de Angola contemporânea", bem como a "integração desta parte da história nos currículos escolares, sobretudo em Angola e em Portugal".

No ano passado, foi criada a Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos em Angola entre 11 de novembro de 1975 e 04 de abril de 2002, sendo a questão do 27 de maio o principal "desafio", como admitiu, em fevereiro passado, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos angolano, Francisco Queiroz, o coordenador da comissão, no final de uma das reuniões do grupo.

"Porque o 27 de maio gerou dois tipos de vítimas, as resultantes da tentativa de golpe de Estado - porque o 27 de maio, na verdade, foi uma tentativa de golpe de Estado e gerou vítimas por parte das forças leais ao Governo na altura - e também gerou vítimas por parte da reação à tentativa de golpe de Estado", destrinçou na altura o ministro.

Segundo Francisco Queiroz, a reação à tentativa de golpe de Estado gerou mais vítimas do que da parte governamental, e o equilíbrio entre estes dois tipos de vítimas "é o grande desafio da comissão".

"Mas o facto de termos chegado a este ponto e de termos constatado que há estes dois lados, estes dois tipos de vítimas já é um grande avanço", considerou o governante angolano.

A data de 27 de maio está registada na história de Angola como a de uma alegada tentativa de golpe de Estado, numa operação aparentemente liderada por Nito Alves - que foi ministro do Interior entre a independência do país, a 11 de novembro de 1975, e outubro de 1976, reprimida pelo regime do então Presidente angolano, António Agostinho Neto.

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