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Sexta, 17 Novembro 2023 19:35

27 de Maio de 1977 em Angola resultou de contradições da luta de libertação – MPLA

O deputado Mário Pinto de Andrade do MPLA, no poder em Angola, considerou que os conflitos do 27 de Maio de 1977 resultaram de “contradições da luta de libertação nacional”.

Em declarações à margem das cerimónias fúnebres do general do exército Eduardo Ernesto Gomes “Bakalof”, vítima dos conflitos políticos ocorridos há 46 anos em Angola, o dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975), referiu que o 27 de Maio foi dos acontecimentos “mais dramáticos” do país.

“O conflito do 27 de Maio é daqueles dos mais dramáticos, que foi um conflito dentro do MPLA, portanto aquilo que eu chamo as contradições da luta de libertação nacional trazida depois para o pós-independência”, disse o político aos jornalistas no Cemitério da Sant’ana, em Luanda.

As ossadas de Eduardo Ernesto Gomes “Bakalof” foram enterradas hoje neste cemitério, com honras militares, na presença de membros da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), familiares, deputados e sobreviventes destes conflitos.

Para Mário Pinto de Andrade, também secretário para a Reforma do Estado, Administração Pública e Autarquias do seu partido, o funeral do general traduz-se num momento de reflexão, sobretudo devido aos 46 anos de angústia vividos pela família.

“E hoje o general e a família encontram a paz também, porque enterrar um ente querido é sempre um ato doloroso, mas é um dever e, portanto, a atitude do Presidente da República, João Lourenço, de criar a CIVICOP para podermos procurar e honrarmos as vítimas dos vários conflitos é um ato muito nobre”, afirmou.

“Este ato que acabamos aqui de presenciar é mais um, o general “Bakalof” foi um grande combatente da luta de libertação nacional, foi um grande combatente da primeira região”, acrescentou.

O 27 de maio de 1977 foi uma alegada tentativa de golpe de Estado levada a cabo por “fracionistas” do MPLA, liderados por Nito Alves, ainda sob a presidência de Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, em que terão morrido milhares de angolanos.

O Governo angolano disse hoje que a exumação e certificação das ossadas do general obedeceu o protocolo médico forense e teve acompanhamento “rigoroso” da família.

“É um processo que respeita todo o protocolo, a exumação é feita por especialistas e que depois o corpo é acondicionado em área própria, seguem-se os exames pertinentes com todo o protocolo medico forense que se recomenda”, disse à Lusa o porta-voz da CIVICOP, Israel Nambi.

O porta-voz da CIVICOP salientou também que depois dos resultados os exames, realizados pelo Laboratório Central de Criminalística (LCC), em Luanda, uma cópia é entregue aos familiares.

Em nome da família, falou Julião Ernesto Gomes, irmão de “Bakalof”, que agradeceu ao Presidente angolano, João Lourenço, para oportunidade de realização de um funeral condigno.

“Desta forma a família está devidamente emocionada porque nós não contávamos com esta realização durante os mais de 40 anos”, disse, pedindo ainda “atenção especial” aos descendentes do general.

A deputada da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição), Clarice Caputu, também esteve presente nesta cerimónia fúnebre e sinalizou a importância do momento, considerando ser esta uma “homenagem merecida”.

“É uma homenagem merecida a quem deu a sua quota-parte para a libertação do país do jugo colonial, portanto, foi um combatente para a independência”, disse à Lusa, destacando que é importante também para a família “poder viver o processo do luto”.

O Ministério da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, na sua mensagem de condolências à família apresentada pelo brigadeiro António Jorge, disse que o general “Bakalof” foi um dos filhos de Angola “que desde cedo se juntou à causa comum pela libertação de Angola com outros nacionalistas”.

“O desaparecimento prematuro deste quadro militar constituiu para nós uma perda irreparável cujo exemplo de coragem, bravura e patriotismo ficaram gravados nos anais da história militar de Angola”, assinala-se na nota.

Em 2019, o Presidente angolano, João Lourenço, criou a CIVICOP, encarregue do plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos, que ocorreram em Angola entre 11 de novembro de 1975 e 04 de abril de 2022, e dois anos depois pediu desculpas às famílias, em nome do Estado angolano.

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