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Terça, 26 Setembro 2017 17:22

Os camaradas na busca de Kimbandeiros por um cargo no próximo governo

A sede do “partido” conheceu uma desusada peregrinação. Depois, na calada da noite, centenas de “camaradas” atrás de cargos ministeriais ou de governador de província palmilharam os musseques de Luanda em busca de “auxílio” de experimentados kimbandas. Um famoso “ocultista” internacional veio expressamente do Congo Kinshasa – diz-se que também “trabalha” para algumas equipas de futebol de Angola – para dar “consultas” em Luanda a muitos pretendentes a cargos governamentais.

A semana que termina este sábado, 23, foi de certo modo atípica para os governantes deste país. Tudo porque esteve na forja a composição do novo Executivo, assim como da equipa de governadores que vai dirigir as 18 províncias do país. Como a nomeação para um cargo público de dimensão ministerial é encarada como caminho para o enriquecimento fácil, centenas de pessoas se têm desdobrado em actividades de diversa índole para manterem os cargos ou para serem nomeados pela primeira vez.

Por isso, o pedaço de estrada entre o desvio da Rua Comandante Gika que adentra a sede do MPLA e esta – mais ou menos 300 metros –, foi o que registou maior concentração de automóveis top de gama em todo o país na última semana. Com uma frequência assustadora, muitos automóveis demandaram o parque de estacionamento do edifício atijolado implantado paredes-meias com os estúdios centrais da Televisão Pública de Angola (TPA), em Luanda.

Nunca a sede do MPLA foi tão procurada por “camaradas” em busca de um cargo no próximo governo

O inusitado corrupio tem uma explicação: os proprietários dos lexus, prados, jaguares e outros automóveis de alta cilindrada que lotaram o parque de estacionamento da sede do “partido” e os espaços circunvizinhos foram meter “cunha”, em causa própria ou para os “seus”, na perspectiva de cargos governamentais. Afinal, na cultura política angolana, ser governante é sinónimo de ser rico ou pelo menos muito próximo disso.

Um pouco de todo o país saiu gente que “aportou” no mais importante edifício da Rua Ho Chi Min. De “históricos” a “novatos”, passando pelos “bajuladores profissionais”, era vê-los praticamente em fila indiana em busca de uma “miraculosa” posição ministerial ou algo próximo disso. Por esta razão, aliás, vários governos provinciais ficaram dias a fio praticamente sem actividade porque os governadores estavam em Luanda. Há mesmo o caso de dois governadores que durante a semana saíram todos os dias das províncias que  dirigem para Luanda, regressando no final do dia, em desgastantes jornadas passadas em salas de espera sem resultados práticos e maçadoras viagens de avião, que provavelmente não pagaram das próprias algibeiras, como é, aliás, prática em Angola.

Como a romaria à sede do MPLA não produziu resultados práticos, porque o presidente eleito não quer saber de “cunhas” e distanciou-se de círculos nos quais pode ser influenciado (para tanto, arribou de Alvalade para o Morro da Luz, onde aguarda pelo dia da tomada de posse), o desespero tomou conta de muitos “camaradas”, quase todos arrivistas profissionais. Em resultado, muitos foram surpreendidos por precipitadas subidas de pressão arterial, com o que esta semana as farmácias lucraram muito com a venda de comprimidos hipotensivos. Isso mesmo: em vez dos habituais anti-palúdicos e das “milagrosas” Viagras ou Cialis, as farmácias de Luanda e de outras capitais de província facturaram fartamente com remédios para o abaixamento da pressão arterial. De resto, como vão as coisas – desta vez pouco “transpirou” do interior dos círculos de decisão – a ninguém surpreenderá uma morte qualquer na sequência de paragem cardíaca súbita.

Praticamente às apalpadelas, muitos dos que já “provaram” do “bolo governamental”, tudo fizeram para continuarem nos cargos que ocupam ou ascenderem a posições mais vantajosas. Assim, depois da peregrinação à sede do “partido”, na calada da noite centenas de “camaradas” que se julgam predestinados para cargos ministeriais ou de governador de província palmilharam os musseques de Luanda em busca de “auxílio” de experimentados kimbandas. Há inclusive o caso de um famoso “ocultista” internacional vindo expressamente do Congo Kinshasa – diz-se que também “trabalha” para algumas equipas de futebol de Angola – para dar “consultas” em Luanda a muitos pretendentes a cargos governamentais. Ao que o Correio Angolense apurou, exigiu que todas as suas “consultas” fossem pagas em dólares americanos, apesar dos constrangimentos na aquisição de divisas nos bancos comerciais.

A procura por kimbandas é tal que além dos “domésticos” que entraram em movimento em grande parte das províncias do país, outros “especialistas” em artes mágicas vindos de países vizinhos que não apenas a RD Congo aportaram várias províncias, principalmente fronteiriças. Estima-se que pelo menos uma centena de “papás” viram os seus serviços solicitados internamente e quase uma dezena foi “importada” para trabalhar “in situ”, não vá o Diabo tecê-las… Por isso, esta terá sido a semana dos kimbandas – muitos receberam automóveis de luxo como pagamento pelo “trabalho” –, que embolsaram rios de dinheiro em “investimentos de risco”, e também de farmácias que se fartaram de vender hipotensivos. Ao que um “cargozito” governamental “obriga” e leva!

Correio Angolense

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