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Domingo, 21 Agosto 2016 23:14

Memórias da DISA (polícia secreta de Agostinho Neto)

Entre as várias aventuras atribuídas a DISA existe um rolo enorme de acontecimentos muitos dos quais nunca relatados e um facto importa reportar aqui, é que os agentes da suposta DISA em certos momentos davam a sensação de que não levavam muito a sério o peso da responsabilidade que pesava sobre os seus ombros.

Por Fernando Vumby | Fórum Livre Opinião & Justiça

Talvez porque o país só tinha na altura ainda um ano de independência, por infantilismo, excesso de triunfalismo, exibicionismo e falta de maturidade para o tamanho do cargo. " Conheci agentes que foram capazes de travar a viatura em plena noite no meio da estrada mesmo só para fazer um tiro contra um gato que lhe atravessou o caminho com o argumento de que era um bruxo que o perseguia (1976)

Sobre a DISA tenho muito que escrever mas para não fatigar os leitores achei por bem faze-lo por parte dividindo em 18 partes por enquanto, o que é pouco por aquilo que se pinta e digo sinceramente nalguns casos até de forma muito exagerada sobre aquela que foi a tenebrosa polícia secreta de Agostinho Neto.

Claro que a DISA não foi nenhuma pera doce , mais está muito longe de ser comparada com a polícia secreta e outros batalhões especiais ao serviço exclusive de José Eduardo Dos Santos em termos de frieza pela forma como põem em pratica os ensinamentos dos mais esquisitos e perversos em plena época que existe todo tipo de ensinamentos em como lidar -se de forma humana mesmo quando se está perante o maior criminoso geralmente pintado como tal , num pais onde se fábrica de quase tudo um pouco quando é para se prender , julgar , condenar ou mesmo matar .

Houve massacres de fraccionistas em que nem se quer estavam envolvidos elementos da DISA pois uma grande maioria deles já estavão presos antes dos acontecimentos do 27 de Maio e os restantes acabaram por ser presos e executados depois que o regime retomou o controle da situação.

Falar da DISA é complicado para quem não conheceu aquilo por dentro e não tem o mínimo de noção de certas movimentações estranhas feitas em torno da mesma e dentro dela, aos poucos e longo dos anos fiz investigações profundas sobre muita coisa que aconteceu dentro e fora da DISA, e quem eram finalmente os tais DISAS que matavam:

Um Ady Narciso, Chana, Van Dunem, Júlio, Juka, Perré e outros tantos verdadeiramente revolucionários e gente de bem nunca fariam nada daquilo que se relacionasse com massacres e coisas do género em nome de quê e de quem?

As coisas dentro da DISA houve alturas que parecia uma autentica competição e um pequeno campo de batalha e jogo de interesses dos comandantes que queriam tomar as alavancas do poder na instituição, e falo isto com conhecimento, pois conheci a maior parte dos jovens chefes de departamentos operativo, e importa dizer aqui que eu na altura não funcionava longe das instalações da DISA.

Tinha o meu gabinete que repartia com o Ade (Adelino Xavier) no primeiro andar do ministério da defesa onde funcionava a CIM (Contra Inteligência Militar) e quem conheceu aquele pequeno quintal coberto de trepadeira em frente ao hospital não longe daquele areal enorme onde havia tantos carros estacionado pode situar a distância que separava o CIM da DISA.

Falar da DISA não é das melhores coisas que gosto de escrever, mais julgo importante não esconder verdades a essa geração de jovens muitos na altura nem ser quer ainda estavam nascidos que constitui hoje a grande maioria dos angolanos e a quem eu tanto acredito como o garante da mudança do nosso país, mas tarde ou mais cedo.

Chega a ser mesmo doloroso para mim falar da DISA porque ela existiu numa fase da minha vida em que preferia ter morrido do que ter estado vivo ao lado de algumas pessoas que tinham causado tanta dor e sofrimento aos seus próprios irmãos.

Também é para mim o lembrar da dor daqueles tantos homens que gemiam nas cadeias que mal se movimentassem os restos de jornais feitos lençóis agarrados ás feridas vivas se desprendiam dolorosa e lentamente dos seus corpos ensanguentados 

E como não podia deixar de falar da DISA sem olhar para o outro lado da mesma DISA, também é para mim o recordar de tantos amigos de verdade, muitos deles desde os tempos ainda de infância quer no Sambizanga e bairro Nelito Soares entre outras zonas de Luanda.

Jovens inteligentes, com tanta vontade que tinham de viver, pujantes, estudiosos alunos dos bons professores e explicadores do antigamente como os prof. (David, Tiago e o Vicente que o MPLA matou fuzilado acusado em UNITA e de ter posto bomba na feira do Catetão) - 1975/1976

Explicadores (Rufino e o paralítico do bairro Kaputo Menino Neco como era conhecido) tomo estes como referência num rolo de tanta gente que estava sempre disposta a dar explicações aos que necessitassem e curiosamente em vários casos a custo zero.

1) - O recrutamento que não obedecia a critérios rigorosos, especiais e específicos para o tipo de corporação e tamanho de responsabilidade para com a Nação e os angolanos.

2) - Assalto ao estabelecimento comercial Paula de Carvalho atribuído a DISA (1976)

3) - Os esquemas nas lojas dos secretas uma delas era na Samba (1976)

4) - Quando cada comandante trazia os seus homens e de uma quinta para sexta já eram transformados em DISAS

5) - O recrutamento das miúdas numa fase em que já se prendia fazer tipo cópia dos secretas (cubanos & russos) impondo-se praticas estranhas aos nossos hábitos e costumes na forma de atuação da secreta angolana.

6) - O casamento de luxo de um DISA em que Onambwe foi o padrinho do noivo.

7) - A tropa estranha que dependia das ordens de (Kundy Paihama) os conhecidos na altura como " os papeis, com foto " importa dizer aqui clara e abertamente que uma grande parte destes homens foram utilizados nos massacres e fuzilamento de fraccionistas e para os tornar mais agressivos utilizam sempre o nome de uma das vítimas dos fraccionistas o comandante Dangereux.

8) - Os policias que tremiam quando indagados pela DISA

9) -Vaidade, arrogância e prepotência de Onambwe e Ludy Kissassunda!

10) - Detenção e morte dos DISAS

11) - Os DISAS que depois de detidos se depararam nas cadeias com suas próprias vítimas e na mesma cela, há nomes de referência.

12) - Os esquemas na distribuição das viaturas aos chefes de departamento

13) - Quando DISA tomou de assalto a vivenda no Makulusso onde vivia Jorge Valentim no governo de transição

14) - Os assessores cubanos e russos

15) - Os 82% de operativos que conduziam sem carta de condução

1 6) - A ocupação dos apartamentos e vivendas abandonadas e conseguidas a força com expulsão imediata dos proprietários para fora do país

17) - Os 97% de DISAS mulatos que quando não eram logísticos eram financeiros nas unidades militares.

18) - Os aniversários de operativos da DISA, onde o mais velho Nito Alves esteve presente na maioria dos casos sem guarda –costas

Seria realmente um enorme texto que daria num livro com centenas de páginas, mas como tal peço a vossa compreensão pelo facto de ficar hoje apenas pela introdução com a certeza de voltar na medida do tempo pois manos há tanta coisa para escrever que eu até as vezes fico baralhado por não saber onde começar e pela certeza de que não ter fim

Com este texto não pretendo me apresentar aqui como advogado oficioso de defesa da tenebrosa DISA.

O fim depois de todos os factos narrados será a prova evidente!

Continuarei noutra altura.

Fraterno e patriótico abraço a todos os angolanos!

 

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