Quarta, 03 de Setembro de 2025
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Quarta, 03 Setembro 2025 15:57

O MPLA e a exclusão social

A maioria absoluta do MPLA, o seu controlo total das instituições, a repressão política e a crise socioeconómica criam um ambiente hostil à participação cívica e à liberdade de expressão.

Angola é um país independente desde 1975, ou seja, conta já com 50 anos de independência e 30 anos de democracia partidária, mas continuamos a mendigar liberdades como galinhas num matadouro.

A exclusão e a intolerância política em Angola são fenómenos profundamente enraizados na estrutura do poder e têm consequências diretas na limitação das liberdades fundamentais, assim como na criação de um ambiente social hostil.

O domínio absoluto do MPLA, que governa com maioria absoluta em todas as instituições desde 1975, resulta num controlo quase total sobre as instituições do Estado, os órgãos de comunicação social e o aparelho administrativo.

Esta hegemonia partidária sufoca o pluralismo político e restringe o espaço de actuação da oposição, tornando difícil o surgimento de alternativas e o próprio debate democrático.

A exclusão política manifesta-se também na representação limitada de grupos marginalizados, levando muitos angolanos a sentirem-se excluídos e privados dos seus direitos.

A intolerância política é evidente em períodos eleitorais e noutros momentos, com relatos frequentes de repressão a manifestações, destruição de material de propaganda da oposição, emboscadas a caravanas opositoras e parcialidade dos meios de comunicação públicos a favor do partido no poder.

Organizações de defesa dos direitos humanos denunciam detenções arbitrárias e uso excessivo da força contra manifestantes e críticos do governo, numa tentativa de silenciar vozes dissidentes e travar movimentos de contestação.

A situação agrava-se com a crise económica resultante da irresponsabilidade governativa e dos baixos salários, sem falar do desemprego, que afecta mais de 60% da juventude.

O salário mínimo nacional ronda os miseráveis 35 mil kwanzas (cerca de 30 euros), um valor manifestamente insuficiente perante a inflação e a perda do poder de compra.

Esta precariedade salarial programada, aliada à desigualdade no acesso a recursos e oportunidades, alimenta o descontentamento social e aprofunda o sentimento de exclusão, sobretudo nas regiões menos desenvolvidas e entre os trabalhadores mais vulneráveis — que são a larga maioria.

A combinação destes factores — maioria absoluta do MPLA, controlo total das instituições, repressão política e crise socioeconómica — cria um ambiente hostil à participação cívica e à liberdade de expressão.

O medo de represálias, a falta de confiança nas instituições e a ausência de mecanismos eficazes de protecção social reforçam a apatia política e dificultam a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e inclusiva.

Em suma, a exclusão e a intolerância política em Angola não resultam apenas de práticas isoladas, mas de um sistema consolidado de controlo e desigualdade, que limita as liberdades fundamentais — e hoje, vivemos como galinhas num matadouro.

Edgar Kapapelo ! Observador

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