Segunda, 21 de Abril de 2025
Follow Us

Sexta, 21 Março 2025 14:20

Médio oriente, um novo centro de negociações com resultados mais rápidos e eficientes?

O Médio Oriente, nos últimos anos tem vindo a se consolidar de maneira pragmática como um novo centro de negociações diplomáticas e econômicas de alta relevância, impulsionado pela sua posição estratégica, a acentuada autonomia nas relações internacionais e pela sua experiência em matéria de mediação de conflitos, uma vez que a região é historicamente palco de grandes tensões e conflitos.

No entanto, as recentes negociações ocorridas na Arábia Saudita entre EUA e Rússia, bem como as conversas no Catar entre a República Democrática do Congo (RDC) e Ruanda, ilustram esse novo papel da região do Médio Oriente como uma plataforma eficiente para diálogos de grande impacto.

No caso concreto da Arábia Saudita, é cruamente visível que este tem buscado se posicionar como um mediador influente junto das asas das grandes potências, utilizando sua importância no mercado energético e seu peso político para promover diálogos que, em outros contextos, seriam difíceis de se concretizar. Dito isto, a recente rodada de negociações entre EUA e Rússia em solo saudita sugere uma tentativa de comunicação entre dois actores profundamente antagonizados pela guerra na Ucrânia e pelas sanções ocidentais.

Essa capacidade da Arábia Saudita de atrair negociações de alto nível pode ser observada como medida estratégica com base na construção de uma política externa pragmática e da sua posição como actor indispensável na geopolítica global. Além disso, podemos também conceber a ideia de que o país busca igualmente se afirmar como um poder independente, menos alinhado aos interesses ocidentais, o que lhe permite receber tanto russos quanto americanos em sua capital sem o peso de uma agenda ideológica fixa.

Catar: Mediador na Crise RDC-Ruanda

Tal como a Arábia Saudita, o Catar também tem se destacado como um centro diplomático, utilizando sua experiência em mediação para facilitar negociações sensíveis. As recentes conversas entre a RDC e Ruanda ocorridas em Doha demonstram como o país tem engrenado esforços para se tornar cada vez mais num espaço neutro e confiável para resolver disputas regionais. Não é nenhuma novidade o facto de que a tensão entre Kinshasa e Kigali tem sido nos últimos dias olhado como uma das mais inflamáveis da África Austral, com acusações mútuas de apoio a grupos rebeldes como o M23 e interferências territoriais, pondo em sepultura o respeito a soberania e integridade territorial. O envolvimento do Catar ate certo ponto acaba pintar o reconhecimento de sua capacidade de intermediar crises complexas, semelhante ao seu papel em outros conflitos, como as negociações entre talibãs e os EUA.

Portanto, a escolha do Catar como local para essas negociações também revela a crescente influência das monarquias do Golfo Pérsico na política global, ampliando assim a sua actuação para além do mundo árabe e consolidando-se como actores chave na resolução de conflitos em diferentes continentes.

Desta feita, devemos admitir que a ascensão do Oriente Médio como um centro de negociações eficientes e rápidas não é acidental, considerando o facto de a região se beneficia de fcatores como:

  • Neutralidade estratégica relativa.
  • Poder econômico e energético
  • Capacidade logística e estrutura diplomática: cidades como Doha e Riad oferecem condições ideais para negociações discretas e eficientes.

Se essa tendência se consolidar, a região do Médio Oriente poderá assumir um papel estratégico semelhante ao que a Suíça e a Áustria desempenharam no século XX como centros de diplomacia global. Isso reflete a crescente autonomia da região e a transição para um mundo multipolar, onde o eixo das grandes decisões não está mais exclusivamente no Ocidente.

Juvenal Quicassa, Especialista Em Relações Internacionais

Rate this item
(0 votes)