Segundo o Serviço de Investigação Criminal (SIC), os dois russos foram detidos na sequência de uma investigação por fortes "suspeitas de recrutamento e financiamento de cidadãos nacionais para produção de matéria de propaganda e difusão de informações falsas nas redes sociais, promoção de manifestações e pilhagem", no calor dos protestos em Angola.
Em entrevista à DW África, o jornalista José Gama, explica que os cidadãos russos se encontram em Angola para criar uma associação cultural com o objetivo de ajudar na relação entre os dois povos. Gama revela ainda que, desde setembro de 2013 que a Rússia adotou uma diplomacia pública – "soft diplomacy" –, que trabalha em paralelo com a diplomacia tradicional visando ganhar influência em alguns países.
"Eles abrigaram esses centros no Brasil, à semelhança que temos aqui em Angola, que é o Centro Cultural Camões, temos em Moçambique o Centro Franco que é dos franceses. Então, a Rússia decidiu também enveredar por essa via", disse o analista.
Para o efeito, os russos teriam contatado jornalistas, encomendado pesquisas sobre o que os universitários achavam da ideia. José Gama diz que teriam sido mal interpretados pelo Estado angolano.
"Deram um outro entendimento de que os russos estariam a conspirar contra Angola, que pertencem ao Grupo Wagner”, referiu Gama. "E foram presos, eles e mais um jornalista, um dirigente da JURA – Juventude da UNITA” – adiantou em alusão à pessoa a quem os russos se referiram "por falar russo, por ter estudado na Rússia e por ser também uma figura influente."
Entretanto, o jornalista do Jornal Expansão, que tinha sido arrolado para responder no âmbito do mesmo processo, já está em liberdade, 48 horas depois da sua detenção. Mas um outro jornalista, da Televisão Pública de Angola (TPA), continua detido e foi transferido para Calomboloca, uma cadeia considerada de alta segurança pela sociedade.
Apoio sindical
Carlos Tomé teria entrevistado políticos, médicos e sindicalistas para materialização do alegado projeto cultural, segundo observadores locais. Pedro Miguel, secretário-geral do secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolano (SJA), diz que a sua organização está a prestar o apoio necessário ao detido.
"Neste momento, há uma equipa de advogados que está a acompanhar o caso, de modo que possamos ter [acesso à] verdade sobre acusação", deu conta o dirigente sindical.
Enquanto se aguarda pelo desenrolar de mais fatos neste processo, Pedro Miguel exorta os jornalistas no exercício da sua atividade a fazerem a leitura correta "de certos convites” feitos por terceiros para a realização de qualquer trabalho.
E qual será o desfecho do "caso Russo em Angola"? "Baseando-se naquilo que se passou noutros países como o Chade, que prendeu três cidadãos russos, em agosto do ano passado, também pela mesma acusação que Angola faz ou parecida, houve um desfecho político-diplomático e os russos foram mandados para casa", considerou o jornalista José Gama.
As autoridades angolanas dizem ter dado a conhecer à Rússia sobre a detenção dos seus cidadãos, mas uma fonte russa citada pelo Novo Jornal diz desconhecer tal notificação. Por seu lado, o embaixador da Rússia em Angola, Vladmir Tararov, em fim de missão, disse que as relações entre os dois países se recomendam por estarem num bom caminho. DW Africa