Segunda, 20 de Janeiro de 2025
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Quarta, 11 Dezembro 2024 13:19

Lições de economia esquecidas por Angola

A visita de Joe Biden a Angola foi um assunto com grande repercussão não só na mídia angolana, quanto também na mundial. Ela indicou uma possível mudança na política externa dos EUA e também confirmou o que muitos têm escrito acerca – Angola mudou o vetor de sua política externa.

O principal assunto da visita de Joe Biden, de sua reunião com o PR João Lourenço, foi a questão do corredor do Lobito. Embora muitos critiquem esse projecto, que hoje é o maior na área de engenharia e na infraestructura de Angola em geral, o facto é que ele poderia assumir um papel de maior relevância para Angola, mas não nas condições em que ele foi negociado com os americanos.

O Corredor do Lobito liga o Porto do Lobito a minas de importantes minérios na RDC, minérios esses que são extraídos em condições penosas para os habitantes de um país marcado por guerrilhas que controlam determinadas áreas não submetidas ao controle de Kinshasa. À parte questões éticas que, infelizmente, não interessam nem a Luanda e nem a Washington, os minerais raros da RDC poderiam trazer maiores lucros e empregos à Angola, se o país pudesse processar os minerais em seu próprio território. O problema com o corredor é exatamente a incapacidade de Angola de fazer o interesse do seu povo, o que poderia ser feito com vontade política e investimentos que visassem o desenvolvimento de uma infraestrutura industrial para o processamento de minérios, assim agregando maior valor ao produto final.

Um modelo para Angola é a Indonésia, pois de acordo com a GlobalData, a Indonésia é o maior produtor mundial de níquel em 2023, com um aumento de 21% na produção em relação a 2022. Nos cinco anos até 2022, a produção da Indonésia aumentou em um CAGR de 24% e espera-se que aumente em um CAGR de 13% entre 2023 e 2027. Por meio de políticas sucessivas implementadas entre 2009 e 2019, o governo indonésio proibiu progressivamente a exportação de minério de níquel desde o final de abril de 2022, exigindo que o níquel seja processado internamente para exportação, de acordo com a IEA. O objetivo dessa política é fortalecer as instalações de processamento doméstico, trazer de volta o valor agregado da cadeia de suprimentos do níquel para a economia indonésia e estimular a criação de empregos e o desenvolvimento económico na Indonésia. Essa política adotada pela Indonésia seria muito mais vantajosa para Angola do que simplesmente uma ferrovia e um porto.

Angola não deveria ser conivente com um modelo de extração que prejudica não somente a RDC, como também o próprio desenvolvimento de Angola, fazendo do país um modelo quase colonial ante os Estados Unidos, modelo esse no qual o povo não beneficia. José Semedo

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