Sexta, 19 de Dezembro de 2025
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Sexta, 19 Dezembro 2025 15:27

Fernando Dias dos Santos "Nandó" e o "Massacre de Outubro" de 1992 em Luanda

Fernando Dias dos Santos, conhecido como "Nandó", foi uma figura proeminente no governo angolano e, especificamente, no Ministério do Interior durante os eventos do Massacre do Dia das Bruxas (ou "Massacre de Outubro") que ocorreu entre 30 de outubro e 1 de novembro de 1992 em Luanda.

O massacre aconteceu após as eleições presidenciais e legislativas de 1992, as primeiras da história do país. O partido governante, o MPLA, reivindicou a vitória nestas eleições. O movimento de oposição que tornou-se partido político, a UNITA, questionou a equidade das eleições. Uma vez que nem o candidato do MPLA nem o candidato da UNITA obtiveram a maioria absoluta requerida nas eleições presidenciais, uma segunda volta seria necessária de acordo com a constituição.

À medida que ambas as partes intensificaram a retórica da guerra, a Forças do governo (MPLA) atacaram membros e apoiantes da UNITA e da FNLA em Luanda. As vítimas incluíram muitos indivíduos da etnia Bakongo (associada à FNLA, liderada por Holden Roberto) e Ovimbundu (associada à UNITA, liderada por Jonas Savimbi), bem como "Zairenses" (termo usado para cidadãos angolanos ou imigrantes da República Democrática do Congo, muitos dos quais eram Bakongo).

Seguiram-se combates que levaram à morte de muitos membros proeminentes da UNITA como Jeremias Chitunda, Elias Salupeto Pena e Aliceres Mango, que foram retirados do seu veículo e mortos a tiros pelos apoiantes do MPLA no Sambizanga.

O "Nandó" na época do "Massacre de Outubro" foi Ministro do Interior e a polícia nacional sob a sua tutela distribuí as armas a população civil em Luanda que resulto no massacre. Na época os ativistas e críticos, levantaram questões sobre a responsabilidade de Nandó e outros líderes do MPLA na gestão dos acontecimentos.

Embora os resultados de busca não citem acusações diretas ou provas conclusivas de seu envolvimento pessoal ou ordem para o massacre, o seu papel como Ministro do Interior na época colocou-o no centro das críticas e alegações de responsabilidade pela resposta do governo.

Até hoje, permanece por esclarecer quem ordenou o massacre. O número de vítimas também nunca foi confirmado, mas estima-se que tenham morrido entre 10 mil e 50 mil pessoas.

O jornalista e analista político Orlando Castro afirma no DW que, nessa altura, o MPLA tentou "neutralizar todos os que pensavam de maneira diferente do regime":

"Foi uma tentativa de decapitar a UNITA. Tanto que fala-se em milhares de mortos, eventualmente até em cerca de 50 mil. Na história do MPLA, os massacres, ou as purgas, ou o que se lhe quiser chamar, são uma regra estratégica do regime, mesmo até para os próprios simpatizantes do MPLA."

O tema ainda é tabu em Angola e desconhecido por muito jovens. Daí a importância de uma boa estratégia de reconciliação, desde que não se branqueie a verdade, defende Orlando Castro:

"Estes massacres são os mais visíveis, quer o de 27 de Maio de 1977, quer o de 1992, são os mais visíveis pelo número de vítimas, mas o MPLA tem muitas outras histórias porque ao longo da guerra - embora a UNITA obviamente também tenha cometido grandes erros - o MPLA, até pelo poder militar que tinha, massacrou muita gente inocente. Os jovens não conhecem esta história. A paz e reconciliação em Angola nunca se conseguirá com base na mentira."

Luis Carlos

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