Quarta, 24 de Abril de 2024
Follow Us

Quarta, 22 Julho 2020 12:34

Porquê Jair Bolsonaro agiu directamente no Caso IURD/Angola?

Embora seja da competência do presidente da República definir e dirigir a execução da política externa do Estado (artigo 4º da constituição federativa do Brasil/1988), o mesmo, é representado por um Ministério das Relações Exteriores, o que no caso do Brasil é conhecido por Itamaraty.

Na política externa, os chefes de Estados, optam na maioria das vezes, por uma diplomacia indireta, o que significa, que a sua presença em determinados acordos diplomáticos ou discursos em relação aos diversos assuntos internacionais, são exteriorizados pelo seu ministro das relações exteriores ou ainda pelo seu representante num determinado país (Embaixador).

Este pormenor, daria conforto ao chefe de Estado em tiver que aparecer muitas das vezes, em acordos/tratados, apenas para assinar e tirar a fotografia, que mais tarde irá viralisar-se como o momento do acordo X ou Y. Pois, tudo já terá sido feito de forma antecipada nos bastidores pelos seus representantes.

Neste caso, o risco do (fracasso) séria menos.

Por outro lado, em casos de discursos, é antecipado de mesma forma com pronunciamentos ou informações dos seus representantes, que devem exteriorizar o ponto de vista do líder da nação, em relação a um determinado assunto que ocorre fora das suas fronteiras. Este factor, evitaria que os discursos do chefe de Estado fossem interpretados de forma ‘’negativa’’, sobretudo quando se trata de assuntos que envolvem ‘’conflitos’’, como é o caso da IURD/Angola.

Na verdade, no caso IURD/ Angola, Jair Bolsonáro (a quem trataremos por JB, neste texto), terá optado por uma diplomacia directa que é vista em Relações Internacionais como muito arriscada, pelos contornos que a mesma pode assumir.

JB, terá desobedecido ao protocolo exigido nestas situações, ao deixar que o seu filho, deputado federal, antecipasse a todos ao afirmar que, o presidente irá enviar uma carta ao seu homólogo angolano para exigir que este dé garantias de protecção aos religiosos brasileiros em Angola.

Em primeiro lugar, o assunto peca por não ser da competência do filho do PR em fazer tais declarações aos órgãos públicos, mas sim, dos seus representantes na arena internacional (Ministro das Relações Exteriores ou embaixador, colocado no pais em causa).

Neste caso, o correcto, séria, primeiramente, o embaixador da República Federativa do Brasil em Angola, radiografar a situação real do momento e reportar ao chefe de Estado, para agir de acordo aos dados provenientes do seu representante máximo naquele país.

Em segundo lugar, começou a surgir desarticulação nos líderes brasileiros acerca do assunto. Se por um lado o filho do PR do Brasil afirmou que seu pai preparava-se para escrever ao seu homólogo angolano para pedir fim à perseguição contra os brasileiros em Angola, eis que mais tarde, surge o embaixador do Brasil em Angola com o seguinte discurso:

‘’Não há e nunca houve perseguição contra os religiosos brasileiros residentes em Angola. À comunidade encontra-se bem. Porém, há um conflito interno dentro da IURD, que envolve pastores angolanos e brasileiros da mesma igreja. No entanto, é um assunto interno da Igreja que merece a nossa atenção, mas que não se pode generalizar à comunidade brasileira ou aos religiosos em Angola’’.

Terceiro e último, embora à imprensa seja um meio importante para circulação da informação, JB não deve considerá-la mais importante do que o seu representante.

Então porquê JB antecipou-se no assunto?

A resposta desta questão pode ser de difícil interpretação num primeiro momento, porém, pode ser alcançada através de dados adicionais que iremos demonstrar.

JB, não tem partido político até ao momento na República Federativa do Brasil, ainda assim, chegou ao poder através de alianças que conseguiu com alguns partidos e com às igrejas evangélicas do Brasil.

Entre às igrejas que promoveram campanhas para eleição de JB, destaca-se à IURD, uma denominação com grande influência no Brasil, cujo seu líder ‘’Edir Macedo’’, dispensa qualquer comentário.

Macedo, tem influências em todos poderes no Brasil, é bilionário (segundo New York Time), é dono da terceira melhor televisão do brasileira e uma das melhores do mundo. ‘’À Red Rocord’.

De acordo com vários especialistas, Edir Macedo terá sido um dos grandes responsáveis pela eleição de JB.

Esta visão pode ser acrescida ao facto de que, ao contrário do que aconteceu com Lula da Silva e Dilma Rossef, em que eram totalmente combatidos pela (Record), JB encontrou graça nesta TV, que foi o principal canal que promoveu a sua campanha eleitoral. Hoje, à (Record) é à TV que não crítica o presidente, ao contrário da (Globo) e do Jornal de São Paulo, que apenas se limitam em informar tudo de errado que JB faz.

Após tomar posse como presidente do Brasil, JB foi consagrado na IURD/Brasil, por Edir Macedo, num acto que nunca tinha sido visto no país.

JB, enfrenta um momento de caos no Brasil. À pandemia está no auge, vários ministros demitiram-se, supostamente por mau comportamento de JB, tem má relação com os responsáveis do poder judiciário, onde, tem vários processos contra si e à sua família. como se não bastasse, tem uma oposição muito forte (PT), que ganhou vida com o ressurgimento do carismático Lula da Silva.

Diante desta situação, JB é a pessoa mais criticada actualmente no Brasil, chegando ao ponto de vários partidos recolherem assinaturas para sua possível destituição.

O Caso IURD/ Angola, pode ser um antidoto importante para JB, pois, faria com que pudesse desviar um pouco a atenção dos brasileiros e reforçar apoios que tem dos deputados da bancada parlamentar evangélica no Brasil e ir seguro nas eleições de 2022.

Ajudar Edir Macedo a não perder um dos países em que à Igreja encontra-se viva, séria um bom momento para retribuir tudo que recebeu até então e reforçar à sua bateria eleitoral.

Tal como dizia o meu professor: ‘’Você me ajuda na terra e eu te ajudo nos céus’’.

Daí a razão, que tanto na carta do presidente JB, como nos noticiários da (Record) tv acerca do assunto, afirmarem o seguinte:

‘’Os religiosos brasileiros estão a ser perseguidos em Angola’’.

À frase acima, é uma estratégia que, leva a crer que todos os brasileiros que frequentam uma determinada denominação religiosa em Angola, estarão a ser alvos de perseguições.

Assim, isso faria com que JB, conseguisse apoios dos milhões de fiéis, brasileiro, salvaria Edir Macedo a não perder uma das igrejas mais estratégicas tal como a firmam os pastores angolanos da IURD e ofuscaria uma percentagem significativa da pressão que tem sido alvo nos últimos dias.

Para tal, era necessário a sua intervenção directa no assunto, aproveitando à boa relação existente entre os dois países, de forma a resolver à situação mais depressa possível e que tal ter uma pequena vantagem!

Maquiavel, foi tão inteligente ao afirmar que, ‘’os fins justificam os meios’’. (quando o assunto é para se manter no poder, tudo vale).

Uma coisa já tenho certeza. Se fosse no futebol Angola vs Brasil, já teríamos levado goleada. Mas, política externa! Lourenço é rijo, aliás, que o diga o tio Célito no caso MV.

A ver vamos se JB, joga tão bem na política externa tal como à sua selecção faz no futebol.

Até lá, nos protejamos todos com máscaras na boca p'ra nos prevenirmos da Covid-19.

Por Reginaldo dos Santos

Rate this item
(7 votes)