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Quarta, 25 Março 2020 17:38

Guerras no seio do MPLA não fazem heróis

Não haja dúvidas de que querer fazer de JES a causa de todo mal no seio do MPLA é uma inversão da verdade. JES não é causador de nenhum mal no seio do MPLA, aliás, JES foi o salvador do MPLA no passado.

 Foi ele quem mandou para o inferno os demónios do 27 de Maio com a anulação da pena de morte e o fim da perseguição no seio do regime. São várias as sombras de traição no seio do MPLA, e uma dessas sombras é a traição que o regime fez contra JES. Mas recordemos, não é a única vez na história que o MPLA traí e faz de uma figura de proa num formato de sacrifício aos deuses para se auto – salvar.

Na verdade o sacrifício a família dos Santos seria uma forma de salvaguardar o Partido, ou seja, lançar todas as culpas aos Dos Santos e deixar o Partido isento de qualquer culpa, deixar o MPLA santificado e JES e sua prole diabolizados, enquanto são assassinados pelas críticas e pela perseguição um MPLA – renovado renasça. Só que a bala saiu – lhes na culatra, e o plano caiu para o abismo. Variados exemplos provam como no MPLA sempre existiram traidores capazes de matar próximos para figurar o poder no seio do regime. José Mendes de Carvalho (vulgo “Hoji – Ya – Henda”), que morreu em combate no dia 14 de Abril de 1968 no Moxico, foi exemplo de traição por camaradas de vanguarda, a sua tenacidade, a sua coragem em defender a pátria, a sua valentia levou – lhe a morte, morto pelos seus próprios colegas de arma e de trincheiras.

Morto de arma nas mãos em Karipande, Henda sentia o augúrio de um grande combatente, mas no entanto, os seus compatriotas, atribuíam desde a primeira hora de haver conspiração contra Henda que o terá levado à sepultura no seio do MPLA. Para os seus compatriotas, o bravo combatente da Pátria angolana teria sido morto porque o ciúmes de muitos pesou mais que a defesa da Pátria, os variados verdugos e inimigos do bem, soltaram – se como cães raivosos tendo entrado em contacto com os serviços secretos portugueses para dar um fim nisto, facto que, nota – se, Henda foi morto com bala lançadas as costas e não na fronte, uma verdadeira traição enterrou o destino de um bravo combatente angolano.

Uma das pessoas que terá reivindicado a morte de Henda terá sido o comandante João Pedro Camilo (“Cuidado”), comandante da zona B da 3ª Região, declarava persuadido que Henda foi vítima de instrução errada da zona de comando militar da região na qual pertencia. O comandante Cuidado voltou a colocar o dedo na ferida de que a morte de “Henda” foi um embuste realizado pelo próprio MPLA. O comandante “Cuidado” foi mal interpretado quando terá frisado tais palavras, desde logo, no fim do conclave, foi despedaçado por uma granada lançada por Flávio Bernardo Faria (“Bombeiro”). Sobre este último, foram lançadas enormes suspeitas de práticas de crimes secretos sob orientação dos seus superiores hierárquicos. Mas a morte do destemido comandante Hoji – Ya – Henda, nunca ficou enterrada no silêncio, deixou o regime do MPLA povoado por nervos de um americano fuzileiro naval.

Em Agosto de 1974, parece que o fantasma de Henda voltou a incomodar os seus inimigos, todos tomaram em assalto a pessoa de Neto, e, foi Daniel Chipenda quem no Congresso de Lusaka apontou o dedo indicador ao Dr.º António Agostinho Neto como conivente da morte do bravo guerreiro patriota Mendes de Carvalho, por ter discordado com a linha política do Presidente numa das reuniões. Neto, na sensação de ser o Dono Daquilo Tudo, disse que tudo que lhe estava a ser acusado era falso, não terá sido ele quem orientou a morte de Mendes de Carvalho, mas Chipenda, o homem que projectou o hino e a bandeira da JMPLA afirmou: “Há aqui, neste congresso, muitos camaradas que conhecem a voz do camarada Henda, pois eu vou passar essa cassete onde estão gravadas palavras suas proferidas antes de morrer. Vocês vão ouvir com atenção e só depois de ouvir poderão opinar quem fala a verdade se sou eu ou o chefe".

O silêncio serviu de único refúgio para os netistas, mas a chama da ira continuava acesa. Aniceto Vieira Dias quase que perdia a vida no fim daquele congresso estressante, realizado em Lusaka. Os netistas tê – lo – ão colocado na lista negra à matar, como hoje os lourencistas à mando de Miala terão colocado uma lista negra secreta, onde muitos eduardistas passam a ter os seus dias controlados e contados à ponteiro de um relógio. Vieira Dias pôs – se em fuga, desde que terá tomado conta por meio dos serviços de inteligência do País vizinho, que um plano macabro estava prestes a colocar a sua própria vida em causa.

Em Vieria Dias pesavam variadas acusações, Chico Machado o seu contemporâneo, não terá ficado de fora da lista negra, lançaram – lhe as culpas todas, tendo sido acusado de levar informações secretas para os inimigos do regime. Cândido Fernandes da Costa e Bernardo Joaquim Silas são dos exemplos de traição que o passado já cometeu. Acabar com os seus próprios compatriotas de trincheiras e armas. O seu desaparecimento físico bastante estranho explica como o regime fez sempre da força forma para calar forças opositoras internas. Mas transferir essa estratégia bárbara do passado para o modelo moderno de governar, pode transformar o MPLA, em vítima abatida pelo seu próprio abismo. Se, o MPLA, pôr – se a assassinar os seus, ele próprio acabará primeiro, antes de matar os seus próprios concidadãos. 

Há que ter sempre presente que, as perseguições, mortes arbitrárias, ameaças, humilhações, segregações sociais e económicas não são uma forma racional de fazer política no mundo moderno, o que ontem era uma verdade, hoje essa verdade tomou o peso da evidência contrária. Se ontem matar ou ameaçar os seus opositores foram formas de fazer política em África, hoje, isso cheira à alheio à tudo. Quem transpõe a barbárie de política de Maquiavel aos nossos dias deverá aceitar o seu próprio fim. Pois que, quando os tempos mudam, as vontades também mudam.

A perseguição é dos piores estilos de governação que existe no mundo. Enquanto o País consagra um projecto de democracia socialista chinês deve ter entregue ao seu corpo o poder de aceitar as opiniões que são lhes contrárias. O Governo de João Lourenço não deve rejeitar o perdão plural aos que lesaram a sua pele no passado do CC no MPLA, deve avançar para unidade do regime do MPLA, deve impor o estado de concórdia bilateral e consenso grupal. João Lourenço não deve rejeitar o confronto de ideias contrárias por acção directas dos seus condottieri, não deve acusar aos que lhe são contrário de terem violado o ideário e a linha política da organização.

Na verdade, o MPLA nunca deveria optar pela caça – as – bruxas como meio de conflito interno para salvar o próprio Partido, como alguém pode querer matar – se a si mesmo como meio de se salvar? Por acaso a morte poderá salvar alguém? A menos que morra e renasça novamente, mas as propriedades da outra forma de vida ser – lhe – iam completamente diferentes do passado. Recentemente recebi, por ter sido um simples investigador, e conotado defensor de Eduardo dos Santos, ameaças de haver um plano macabro, escrita com tinta de caneta preta, numa lista chamada negra, o meu nome como alvo à ser abatido por defesa à Eduardo dos Santos, ou então, por ter possuído ideias contraditórias às dos Donos Disto Tudo, mas pergunto aos que possuem o poder como arma para intimidar? O que ganham com as perseguições e ameaças de morte?

Os homens devem parar de ameaçar quem pensa o contrário, devem parar de fazer das ameaças um jeito de poder impor o seu governo. Angola acha – se ser um Estado democrático e de direito, mas na verdade, a situação jurídica em Angola é meramente um acto teórico incapaz de ser concreto no âmbito prático, porque quando se tenta matar quem pensa o contrário, é sinónimo de que a democracia terá nascido morta. Num Estado democrático e de direito, falar é uma das formas de expressão mais respeitadas dos direitos de liberdade dos cidadãos como presa a Constituição da República de Angola no seu artigo 40º:

1 - Todos têm o direito de exprimir, divulgar e compartilhar livremente os seus pensamentos, as suas ideias e opiniões, pela palavra, imagem ou qualquer outro meio, bem como o direito e a liberdade de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações.

2 - O exercício dos direitos e liberdades constantes do número anterior não pode ser impedido nem limitado por qualquer tipo ou forma de censura. 3. A liberdade de expressão e a liberdade de informação têm como limites os direitos de todos ao bom nome, à honra e à reputação, à imagem e à reserva da intimidade da vida privada e familiar, a protecção da infância e da juventude, o segredo de Estado, o segredo de justiça, o segredo profissional e demais garantias daqueles direitos, nos termos regulados pela lei. 4. As infracções cometidas no exercício da liberdade de expressão e de informação fazem incorrer o seu autor em responsabilidade disciplinar, civil e criminal, nos termos da lei.

Governar é com o povo e para o povo, e, nunca para os seus interesses próprios. Afinal, quem violou realmente a essência do MPLA? É quem expõe os seus correlegionários do regime tratando - os de serem ladrões e corruptos? Ou quem está a criticar as más políticas impostas pelo regime actual? As desavenças, guerras são formas de auto – suicídio do próprio Partido, o MPLA vai acabar se continuar a fazer da perseguição meio para retirar vantagens, aliás, tornará tão menosprezável que sentirá vergonha do seu próprio corpo, e será refutado por qualquer um que seja. O MPLA deve desenvolver esforços para crescer e não para se afundar. As guerras no seio do regime, as perseguições, as ameaças de morte, são meios que transformarão o Partido num acto desprezível e ignóbil. Ou o MPLA para e propague a paz dentro do partido, ou o MPLA continua a se auto – combater e será conivente de seu próprio abismo.

A tragédia que hoje reveste o MPLA faz menção aquilo que José Ortega y Gasset de forma muito resumida terá afirmado “Eu sou eu, e as minhas circunstâncias”. Implicando dizer que a união entre o MPLA e as circunstâncias políticas que lhe circundam são indissociável, a falta de unidade no seio do Partido dos camaradas, as perseguições, as ameaças de morte aos homens dotados de ideias contrárias, tornaram hoje o MPLA numa vítima de si mesma e do seu próprio destino, caso se insista em guerras, perseguições e ameaças de morte, o fim do MPLA será certo. Até aqui, não há dúvidas de que as perseguições no seio do regime sejam um verdadeiro meio de dar fim ao próprio regime, o MPLA não sobreviverá se não parar em se auto – combater.

Ou param, ou o Partido desapareça da face da terra. O dilúvio da fortuna de Isabel dos Santos, a humilhação a Bento Cangamba, e prisão de Zé Maria, os delfins do MPLA no passado que deram vitórias e vitórias para o regime continuar na dianteira dos destinos da nação angolana, são uns dos grandes exemplos de como o regime está a se assassinar sem dar conta. É preciso pôr em plano prático a seguinte analogia, a destruição do passado, não calou a boca da corrupção actualmente, aliás, o regime inverte o seu leme, destrói – se o passado, enquanto isso, nasce uma nova forma de guindar a sociedade com novos ricos formatados na era lourencista, sempre tendo como meio de alcance do dinheiro o roubo do erário público.

Desde logo, a luta contra o passado é forma de juízo de tudo aquilo que o MPLA é incapaz de o realizar hoje, em primeira instância o MPLA não assume ser ele o culpado de tudo quanto o País viveu no passado e vive no seu presente hoje, deposita apenas em Eduardo dos Santos todas as culpas do passado, tentando santificar os que aos nossos dias tomaram de assalto os cofres do Estado através de meios ilícitos, apoderando – se daquilo que era de todos. Um, entre tantos exemplos que saem dos bunkers é que a saída de Eduardo dos Santos não sarou a desgraça da corrupção, aliás, o regime vive disso, e continua nele pendurado e amarrado como sempre, JES não é o culpado de todo o mal no seio do regime, mas o próprio regime, é o verdadeiro culpado de toda a aflição nele envolvido, é pena que não há alguém que saiba pôr um travão do desprezo à figura de Eduardo dos Santos.

Bem – haja!

João Hungulo: Mestre em Filosofia Política e Pesquisador.

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