O Banco Angolano de Investimentos (BAI) deu como perdido um crédito concedido ao Shopping Kinaxixi e a outros promotores imobiliários, apurou o Expansão junto de fontes daquele que é o maior banco em activos do sistema financeiro nacional.
O relatório e contas do banco, publicado no site da instituição, apesar de não revelar o nome da empresa que gere a construção do empreendimento que está há largos anos em construção no centro de Luanda, confirma que o banco fez um abate à sua carteira de crédito no valor de 145,6 mil milhões Kz: "Durante o exercício findo em 31 de Dezembro de 2022, o Banco procedeu ao abate de crédito da sua carteira no montante de Kz 145 599 912 respeitantes a projectos no sector da promoção imobiliária, originadas em 2008 e 2013, após esgotadas as acções de recuperação, conforme apresentado na rubrica crédito interno a empresas. Estes créditos apresentavam imparidade de 100%."
Ainda no relatório e contas, o BAI refere que "a carteira de crédito bruto em moeda nacional reduziu 113 mil milhões explicado pelo abate ao activo de créditos no montante de 140 mil milhões de kwanzas respeitantes a projectos do sector de promoção imobiliária, por apresentarem atrasos consideráveis no seu reembolso".
Em termos práticos, significa que o BAI risca da sua carteira de crédito financiamentos superiores a 145 mil milhões Kz a promotores imobiliários, sendo que ao que o Expansão apurou a maior parte desse valor foi concedido ao promotor do shopping.
O próximo passo poderá passar pela ida a tribunal para recuperação da dívida. Segundo uma fonte do banco, "está em curso a avaliação de todas as acções disponíveis visando a recuperação dos montantes mutuados e que foram abatidos ao activo, incluindo, caso necessário, avançar com a acção executiva de recuperação". Ainda assim, a fonte lamenta que "os processos de acção executiva de recuperação por via dos tribunais têm sido bastante morosos e dispendiosos, sendo que este item é daqueles que os bancos mais reclamam quando questionados sobre os motivos que levam a não conceder mais crédito à economia".
Apesar de o banco não ser preciso em relação ao período em que foi concedido o financiamento, referindo apenas que contempla o período entre 2008 e 2013, foi precisamente em 2008 que arrancou a construção do complexo, que é um autêntico gigante de betão adormecido na cidade de Luanda e cujos proprietários são um segredo bem guardado. Apenas o empresário brasileiro-angolano Minoru Dondo admitiu ser um deles numa Grande Entrevista ao Expansão, publicada na edição 665, de 11 de Março de 2022.
Quando questionado sobre a alegada ligação do empreendimento à Sonangol, já que o projecto foi assinado por uma empresa sul-coreana, a Namkwang International Engineering & Construction, que trabalhava bastante com a petrolífera, o empresário respondeu: "Nenhum envolvimento. Mas essa empresa, não digo que fosse da Sonangol, no entanto era quase como se fosse...". Trata-se da mesma empresa que desenhou o projecto do Hotel de Convenções de Talatona, a pedido da Sonangol.
O Expansão tentou obter esclarecimentos por parte do promotor do empreendimento, que se mostrou incontactável até ao fecho de edição. EXPANSAO