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Quarta, 23 Setembro 2015 09:52

Os alcatruzes estrangeiros da história de Angola

A China (República Popular) é, neste momento, o principal parceiro económico – e não só – de Angola. Foi a Pequim que o próprio José Eduardo dos Santos (JES), em viagem realizada no último mês de Junho, recorreu, em momento de necessidade. É preciso financiar a crise, alimentar as elites.

Não deixa de ser notável que na sequência da viagem de Junho, João Lourenço, actual ministro da defesa, tenha seguido no dia 21 de Setembro para a capital chinesa, a fim de atender as pretensões chinesas de alargar o entendimento entre os dois estados à área militar – uma sugestão feita a JES em Junho.

Segundo informações veiculadas pelas agências noticiosas, Angola vai comprar fardamento e outro equipamento militar à China, no valor de cerca de 40 milhões de Euros.

É um começo. Para a China, cujas ambições em África se conhecem desde o seu apoio incondicional a Mobutu. Angola pode ser o ponto de partida para uma presença de um povo que precisa de espaço – nem que tenha que o comprar, como está a acontecer já. É de toda a justiça reconhcer que a China nunca invadiu de forma violenta o território de outros povos – pelo contrário.

A actual evolução da actualidade angolana, se comparada com a do último quartel do sec. XX e primeiros quinze anos deste levam-nos a conclusões interessantes: ao fim da colonização e consequente expulsão de uma significativa parte da sua população, seguiu-se uma guerra civil em que estrangeiros desempenharam, de ambos os lados, os principais papéis.

Entretanto, foi-se instalando um outro colonialismo, o interno, cuja actuação levou a sociedade angolana a níveis de riqueza e de pobreza inimagináveis no começo da guerra colonial, por quem quer que fosse. O final da guerra civil juntou inimigos numa verdadeira aliança de exploração, num festim que os aliados externos propiciaram a ajudaram a montar.

Voltou-se a colonialismo total, com o exacerbamento da dependência e subserviência pessoais, que, em algumas circunstâncias, atinge as raias da humilhação; o chefe não se olha nos olhos e cumprimenta-se – quando ele deixa – com as duas mãos. E este é um comportamento imitado nos vários escalões da hierarquia muito rígida, entretanto criada nos princípios estalinistas que estão na origem da formação do Estado independente.

Todavia, estes chefes foram precisando, cada vez mais, de apoios estrangeiros, sobretudo para instalar as elites criadas e governar as enormes somas de dinheiro obtidas com a monocultura nacional – o petróleo.

Sucessivas crises políticas foram sendo resolvidas sempre da mesma maneira: o afastamento daqueles que se atreviam a não inclinar a cabeça para a frente. O exterior foi reforçando a sua confiança na estrutura criada, até que… o petróleo deixou de valer o que valia e o país não tinha capacidade para ter uma economia alternativa.

Aí, os aliados exteriores entenderam que poderiam ser mais úteis. O dinheiro já não chegava; era necessário financiar, desenvolver acordos, assinar moratórias, inisistir na necessidade de alargar a “cooperação” a outros sectores. Não basta construir as infraestruturas, é necessário defendê-las dos” invasores” ávidos.

Há, entre os historiadores, ou simples amantes da História, uma espécie de aforismo: “ a História não se repete”. Nem podia, já que as circunstâncias geram tais diferenças que a sua repetição, pura e simples, seria impossível. Todavia: a História pode ser comparada com a um nora de transporte de água de um plano para outro, através da rotação dos alcatruzes que se enchem e despejam .

Não sendo uma verdade científica, esta comparação pode verificar-se em todas as sociedades organizadas, sendo igualmente provável que as mudanças numa provoquem alterações noutras, por vezes próximas, outras muito mais longe.

Para Angola é o começo da refundação da velha nora colonial, agora com novos alcatruzes, mais brilhantes, fortes e alinhados. Começa, também, o fim do festim do colonialismo interno que, em termos de História, será avaliado como a grande vergonha dos heróis.

Por Leston Bandeira

AM

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