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Sábado, 28 Fevereiro 2015 11:08

Os crimes de Savimbi e as ameaças de Samakuva

Angola é definitivamente uma grande democracia onde impera a máxima tolerância política e uma ilimitada liberdade de expressão, que por vezes serve para atacar com violência os fundamentos do regime democrático.

Só assim se justifica que no domingo, 22 de Fevereiro, o dia em que a paz triunfou sobre a guerra savimbista, Isaías Samakuva, no papel de líder da UNITA, tenha endeusado Jonas Savimbi, um criminoso de guerra que, se não tivesse morrido em combate, ia ser julgado no Tribunal Penal Internacional e passava o resto da vida na cadeia, como aconteceu com alguns chefes de Hitler.

Não vou dourar a pílula. Sei que Walther Funk, o jornalista de Hitler, ou Rudolf Hess, o chefe dos exterminadores hitlerianos, apesar de terem sido enjaulados perpetuamente em Spandau, comparados com o defunto chefe do Galo Negro eram meninos de coro.

Hoje ninguém tem dúvidas de que Savimbi percorreu um longo trajecto de traição e extermínio do Povo Angolano. Começou por combater ao lado da PIDE/DGS e das forças colonialistas de ocupação e acabou a servir de biombo à invasão das forças armadas dos racistas de Pretória.  De íntimo dos generais Luz Cunha e Bettencourt Rodrigues, durante a guerra colonial, o chefe do Galo Negro atingiu o estádio supremo da infâmia ao alistar-se como soldado das forças do apartheid da África do Sul.

Samakuva, no dia em que a Paz ganhou asas para voar, a 22 de Fevereiro de há 13 anos, fala da “grandeza de um homem” que no seu desvario considerou como “um dos principais artífices da história política angolana dos últimos 50 anos”. Se estivéssemos perante um acto momentâneo de loucura, esta afirmação era inquietante. Mas não. Samakuva pensa assim!

Quem ofereceu as suas armas ao colonialismo, quem reforçou os “Flechas” da PIDE com os seus dois melhores comandantes, Pedro e Sachilombo, em 1968, é o mais fétido lixo da História de Angola e da Humanidade. Quem se transformou num servidor do apartheid e disparou contra o seu próprio Povo no Triângulo do Tumpo, é a escumalha da mais vil infâmia.

Samakuva por vezes surpreende-nos com algumas pérolas que ajudam a conhecer a teia construída em Portugal de apoio ao lixo humano que dava pela alcunha de Savimbi. No dia 22 de Fevereiro, a propósito da morte em combate do símbolo vivo da traição, revelou que o semanário “Expresso” elegeu Savimbi “o guerrilheiro do século XX”. Se tivessem chegado aos bolsos dos “eleitores” mais umas pedras de diamantes roubadas ao Povo Angolano, até o elegiam o representante de Deus na Terra! Em Portugal, desde que corra dinheiro por baixo da mesa, até Samakuva faz figura de líder político. Quando elites ignorantes e corruptas perdem o sentido do ridículo, até o cavalo de Napoleão é tratado como um imperador. Samakuva, no dia em que fez 13 anos que a Paz começou a voar em Angola, falou de “dez ensinamentos de Savimbi”.

Um mero pretexto para proferir insultos graves contra as autoridades públicas e titulares dos órgãos de soberania. Endeusar um criminoso de guerra é muito grave. Mas mais grave ainda é o líder da Oposição faltar ao respeito ao partido MPLA e aos seus dirigentes. Chamar ladrões, como chamou, a todos os servidores públicos é intolerável, mesmo se o chefe da UNITA  assuma uma dimensão rastejante.

Isaías Samakuva disse que uma das lições de Savimbi foi a tolerância! Mais um insulto grave a todas as suas vítimas. O chefe do Galo Negro assassinou todos os dirigentes da UNITA que ousaram defender posições diferentes das dele. Quase exterminou a família Tchingunji. Violou esposas de alguns dirigentes que caíram em desgraça. Queimou mulheres e crianças vivas nas fogueiras da Jamba, um dos mais hediondos crimes do defunto chefe de Samakuva. Mas este é o retrato do político que ensinou ao actual líder da UNITA princípios da tolerância.

Samakuva acusa o presidente do MPLA de “actos cobardes de intolerância política”. Na sala estavam presentes alguns dirigentes da UNITA a quem o Presidente José Eduardo dos Santos salvou a vida, quando estavam cercados nas matas do Leste, na região do Lucusse, mas ficaram calados. A ingratidão é a principal qualidade dos crápulas. O chefe do Galo Negro não disse uma palavra sobre o “Manual do Quadro da UNITA” que, entre outros crimes, recomenda que nas aldeias, vilas e cidades os militantes façam a vida impossível às populações. Mas teve a ousadia de dizer que o “MPLA é inimigo do Povo Angolano”. Como sempre, finge que nunca houve eleições e ignora os resultados eleitorais.

Mas o dia 22 de Fevereiro passado marca uma viragem na estratégia da UNITA. Inspirado em Savimbi, Samakuva disse que em Angola “existem constantes violações dos direitos humanos dos pobres” e que o país “é um autêntico barril de pólvora”. Depois do quadro catastrofista, Samakuva garantiu que “Luanda apoia a UNITA” e esta é a oportunidade para atacar o regime democrático, porque “o Governo já não tem legitimidade política”. E aí vai mais uma afirmação digna do Manual do Quadro da UNITA: “Estejamos prontos! Quando chegar a hora, tocaremos o apito da alvorada!”

Ninguém reagiu a esta autêntica declaração de guerra, no dia em que fez 13 anos que nasceu a paz em Angola. As outras forças da Oposição têm uma palavra a dizer. Porque o silêncio pode ser encarado como cumplicidade. O Poder Judicial também não pode ficar indiferente a este apelo descarado a um golpe de estado, que prova que Isaías Samakuva está fora da ordem Constitucional.

Por Àlvaro Domingos

Jornal de Angola

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