Domingo, 07 de Setembro de 2025
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Domingo, 07 Setembro 2025 12:41

A democracia e as nomeações disfarçadas

Em teoria, a democracia é o regime em que o povo escolhe, decide e manda. Na prática, exemplo de Angola, o que se vê como “eleição” é apenas um espetáculo mal ensaiado, onde os resultados já estão decididos antes mesmo da primeira urna ser aberta.

O eleitor transforma-se em figurante de luxo, enquanto o verdadeiro poder é exercido a portas fechadas, por nomeações que valem mais do que milhões de votos.

Não é exagero. Quando ministros, governadores, juízes e chefes militares são escolhidos com base na lealdade ao partido e não na competência ou mérito, o voto popular vira uma anedota de mau gosto. A democracia, nesse cenário, não passa de um rótulo bonito colado em um frasco vazio.

A recente queda no Conselho Superior da Magistratura Judicial, é o retrato fiel dessa náusea. De acordo com noticias vinculada nos jornais digitais da nossa praça, durante a sua defesa no interrogatório movida pela PGR, chegou ao ponto de dizer que não sabia que algumas das suas acções constituíam crime, porque “ninguém o tinha avisado”. Uma resposta que indignou a classe académica de Direito, assim como também expôs o seu desespero diante do volume de supostos crimes praticados.

Não é difícil perceber, o cidadão não caiu por falta de competência ou por um súbito despertar moral do sistema. Ele caiu porque, ao que tudo indica, tocou em áreas de mel proibidas, onde não deveria mexer. Antes disso, denúncias acumulavam-se em debates de especialistas, chegando mesmo de acusar o Presidente da República de o proteger. Ora, se era verdade ou não, já pouco importa, o essencial é que só foi forçado a sair quando deixou de ser útil ou passou a ser incómodo para o círculo de poder. No fundo só ouvem quando são tocados nas suas feridas

Quando nomeações têm mais valor que eleições, quando o compadrio vale mais que o mérito, quando a fidelidade partidária pesa mais que a competência técnica, a democracia torna-se frágil e nauseabunda. O comunista de ontem, que discursava contra o capitalismo, é hoje o gestor capitalista de luxo, mas mantém a velha lógica de controlar, sufocar e domesticar o povo.

O discurso é de liberdade, mas a prática é de monopólio político. O cardápio é democrático, mas o prato servido é sempre o mesmo, poder fechado, centralizado, protegido por nomeações feitas sob medida.

O caso do Conselho Superior da Magistratura Judicial é só a ponta do iceberg que mostra como o sistema se autoalimenta e se autoprotege, até que um deslize interno obriga a sacrificar um dos seus próprios peões. No fundo, a política virou teatro, o povo é público, o poder é palco e os atores, sempre os mesmos. Um país só é forte quando as suas instituições são sólidas e quando os cidadãos que as dirigem demonstram competência e plena consciência das responsabilidades que têm perante o povo.

Por Rafael Morais

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