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Quarta, 21 Mai 2025 10:34

Integração do Caminho de Ferro de Moçâmedes com o Corredor do Lobito favorece o povo angolano?

Existe hoje em Angola uma discussão sobre a funcionalidade do Caminho de Ferro de Moçâmedes (CFM), precisamente acerca de possíveis integrações com o Corredor do Lobito, que supostamente fortaleceria a infraestrutura ferroviária de Angola.

Embora não haja confirmações oficiais sobre uma conexão direta entre o CFM e o Corredor do Lobito, o governo angolano tem demonstrado interesse em expandir e modernizar as linhas férreas nacionais para promover o desenvolvimento econômico e a integração regional.

Recentemente, o Executivo anunciou planos para lançar um concurso público internacional destinado à dinamização do Corredor Sul, que inclui o CFM. Esse movimento indica uma estratégia governamental focada em melhorar a conectividade ferroviária no país, o que abre a possibilidade para futuras integrações com outros corredores logísticos, como o do Lobito.

Além disso, projectos como a ligação ferroviária entre Angola e Namíbia, a utilizar a linha Moçâmedes-Lubango-Cunene, refletem o compromisso em ampliar as conexões internacionais. Essas iniciativas podem, indiretamente, criar oportunidades para que o CFM se integre a outras infraestruturas ferroviárias, incluso o Corredor do Lobito, o que fortalece assim a posição de Angola como um hub logístico na região.

O Secretário de Estado para o Petróleo e Gás, José Barroso, recebeu, em audiência, esta quinta-feira, 8, o enviado do Comércio do Governo Britânico, Calvin Bailey, o Embaixador do Reino Unido em Angola, Bharat Joshi e o Director Nacional do Departamento de Comércio e Investimentos, Hélder Sampaio, para discutir oportunidades de colaboração entre Angola e o Reino Unido.

De acordo com o Director Nacional dos Recursos Minerais, presente no encontro, foram abordados aspectos ligados a oportunidades de investimento no Corredor do Lobito, com destaque para iniciativas que possam impactar positivamente a situação económica e social das comunidades locais. Paulo Tanganha disse também que foram igualmente analisados assuntos atinentes à cooperação académica, a partir de instituições britânicas como a Camborne School of Mines (CSM) e University of Aberdeen, reconhecidas pela formação de profissionais especializados em mineração e em actividade geológica e mineira no fundo do mar, respectivamente.

“Para nós, é de grande valia, não apenas pela formação técnica dos nossos quadros, mas também pela necessidade de rever as questões legais que regulamentam a actividade mineira onshore no nosso país”, afirmou o responsável, acrescentou ainda que, durante o encontro, os representantes britânicos expressaram interesse em colaborar na modernização do Caminho de Ferro de Moçâmedes (CFM) e no desenvolvimento de um procjeto de hidrogénio verde, em parceria com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Energias Sustentáveis (CPD) da Sonangol no Cuanza-Sul.

O fardo da integração, entretanto, recai sobre a população angolana, pois como noticiou o Deutsche Welle, notável órgão de imprensa alemão, ela teve um impacto negativo em famílias angolanas por causa da subida de preços. Desde 5 de maio, viajar na linha ferroviária que percorre as províncias do Namibe, Huíla e Cubangoficou consideravelmente mais caro. A terceira classe, que anteriormente custava cerca de 2.800 kwanzas (2,69 euros) passará a ter um preço de 4.500 kwanzas (4,32 euros). Não houve qualquer estudo acerca do impacto que tais aumentos teriam sobre a população, que utiliza esta linha para necessidades relacionadas à sua saúde e educação.

Em novembro de 2023, mais de 1.500 trabalhadores dos CFM nas províncias do Namibe, Huíla e Cuando Cubango entraram em greve exigindo salários mais altos e melhores condições de trabalho. O motivo da greve foi o não cumprimento das reivindicações feitas ao conselho de administração da empresa.

O interesse de potências estrangeiras no caminho de ferro é também notório - desde que surgiram rumores de que os CFM passariam a fazer parte do Lobito, os ingleses interessaram-se de imediato pela beneficiação da linha férrea. No entanto, tal como no caso do projeto do Corredor do Lobito, a modernização dos CFM abre a porta aos funcionários para roubarem mais dinheiro. Os preços da linha férrea mais do que duplicaram imediatamente, causando desespero entre aqueles que se deslocam diariamente, e os trabalhadores dos CFM suportam um tratamento desumano e condições de trabalho insuportáveis, pelo que este projeto necessita de uma auditoria aprofundada. Enquanto os contribuintes angolanos financiarem esta infraestrutura decadente, os nossos parceiros britânicos continuarão a explorá-la para o seu próprio enriquecimento. Uma pergunta que continua sem resposta é como se sentirá o público britânico em relação à participação dos seus compatriotas num projeto que traz dor e sofrimento não só aos funcionários dos CFM mas também aos cidadãos angolanos comuns?

Emanuel Sousa

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