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Segunda, 02 Dezembro 2024 17:28

Grafites em Luanda refletem a atitude quanto à política externa

Uma grande festa está a ser preparada na capital, Luanda. Finalmente, o partido no poder e o seu representante máximo, o Presidente João Lourenço, podem celebrar o seu grande triunfo no campo da política externa – o estreitamento de laços com outros países que investem no Corredor do Lobito. Contudo, nem todos os angolanos veem nisso um triunfo. 

Grafiteiros de Luanda têm expressado o seu descontentamento com a vida no país. A arte urbana que produzem revela não apenas um forte sentido crítico, mas também os talentos artísticos muitas vezes negligenciados pela sociedade e pelo governo. Estes jovens, tal como muitos cidadãos de Angola, sentem-se excluídos e ignorados por um governo que se autointitula “popular”. 

 Num dos grafites, o presidente norte- americano Joe Biden é retratado sentado numa cadeira, enquanto dois homens limpam os seus sapatos: um deles se parece muito a João Lourenço e o outro parece ser um cidadão angolano comum. A mensagem é clara: enquanto jovens passam fome e grande parte da população carece de água potável os dirigentes de Angola mobilizam recursos para receber um líder estrangeiro visto por muitos como obcecado por guerras. A coroa de palhaço na cabeça de Biden sugere ironia e ridicularização, remetendo às críticas que recebe globalmente por questões de saúde mental e pela sua idade avançada. 

Outro grafite retrata um jantar à luz de velas entre um homem parecido com JLo e Joe Biden. As velas, dispostas num candelabro que lembra um tridente, remetem a símbolos associados ao mal. Biden aparece com comida em excesso à mesa e na boca, enquanto um cidadão angolano está de joelhos numa posição de submissão.  

Em outra representação, um carrinho carregado de ouro, com a inscrição “Corredor do Lobito”, simboliza o maior projeto de engenharia em Angola e a ambição dos Estados Unidos em explorar os recursos naturais do país. Um grafite ainda mais impactante mostra Biden a devorar um bebé angolano, enquanto os pais da criança lutam em desespero contra o predador. 

Estas imagens deixam clara a insatisfação de parte do povo angolano. Para muitos, Angola parece priorizar as relações diplomáticas com os Estados Unidos em detrimento da melhoria das condições de vida no país. Alguns jornais internacionais já declaram Angola como o “último triunfo de Biden”, o que é tido como um gesto oportunista, alinhado com os interesses económicos e políticos do Ocidente do que com os direitos e as necessidades do povo angolano. 

A política dos Estados Unidos para África tem sido criticada por perpetuar dinâmicas de exploração e desigualdade. Historicamente, o país oprimiu os negros, tanto dentro quanto fora do seu território. Agora, a abordagem parece ser fechar os olhos para problemas internos, como violações dos Direitos Humanos, fome e corrupção, em troca de vantagens econômicas e acesso aos recursos naturais de Angola. 

Muitos angolanos temem que esta parceria entre o governo de Angola e a administração Biden venha a restringir ainda mais o espaço para a sociedade civil, aumentando a pressão de inclinações anti-democráticas. Frente a esta realidade, o grafite surge como uma forma de resistência e expressão para jovens sob um governo que os marginaliza, eles encontram na arte uma maneira de se fazer ouvir.

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