Domingo, 13 de Outubro de 2024
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Segunda, 09 Setembro 2024 22:33

Os próximos anos serão muito agitados para a FPU e a UNITA

O PRA-JA Servir Angola anunciou que os trabalhos para a sua legalização junto do Tribunal Constitucional (TC) decorrem de modo normal. Nos últimos meses, representantes do partido de Abel Chivucuvuku e do Tribunal têm trabalhado de modo conjunto e tudo indica que o resultado, desta vez, seja a legalização.

Por Ismael Mateus

Ao contrário do que se pensa, a legalização do PRA-JA não implica a sua saída da Frente Patriótica Unida (FPU). Da parte da UNITA, há interesse que o projecto se mantenha tal como existe hoje, ou seja, os membros dos outros partidos são integrados nas listas, cores e programa político da UNITA. Houve, na verdade, uma integração e isso facilitou, de certo modo, a aceitação deste modelo de "negócio político” pelas vozes contestatárias internas. A integração sendo um cenário, é pouco provável que isso implicaria que o PRA-JA, que tem lutado tanto pela sua legalização, conseguiria esse desiderato para depois prescindir dele. Tudo indica, por isso, que o projecto da Frente Patriótica continue e, portanto, com uma grande possibilidade dos parceiros terem de renegociar os termos da sua relação, mas também o tipo de coligação, se pré ou pós-eleitoral.

Uma coligação pré-eleitoral vai implicar a definição de um programa comum, uma bandeira comum, uma lista de deputados partilhada, mesmo que seja, como é natural, a UNITA a líder e a maioritária. A UNITA teria de prescindir dos seus símbolos, o que alguns dos seus dirigentes descrevem como "impensável” o partido não concorrer com a sua própria bandeira, tempos de antena e capital político em termos de imagem.

A FPU foi criada no pressuposto de que só juntos conseguiriam derrotar o adversário comum, o MPLA. Essa narrativa evidenciava, por um lado, que a grande UNITA reconhecia que sozinha não chegaria lá, mas ao mesmo tempo confere aos seus parceiros de coligação força política e poder eleitoral capaz de os transportar para o poder. Mesmo que publicamente se procure justificar com uma alegada fraude, o projecto FPU não conseguiu colocar a UNITA no poder e dificilmente o parceiro PRA-JA, mais fortalecido, aceitará "vender barato” uma nova integração, que é o cenário que mais convém a ACJ. Apesar do apoio à criação da FPU, sempre existiram dentro da UNITA vozes que olham para o projecto como algo que subvaloriza o peso político da UNITA, já que o partido de Jonas Savimbi possui quadros, percurso político e programa de governo próprio suficientes para chegar ao poder sem necessitar de alianças cujo peso eleitoral está por provar. Se o cenário da integração não avançar, em 2027, Adalberto Costa Júnior terá muitas dificuldades em convencer os seus militantes a prescindirem de se apresentar com uma lista, cores da bandeira e um programa de governo só da UNITA a favor de uma coligação pré-eleitoral da FPU.

Por outro lado, o cenário de uma coligação pós-eleitoral, com cada partido a concorrer com "chapa própria”, coloca outra vez Abel Chivucuvuku na condição de adversário e, como em 2017, concorrendo pela CASA-CE, como um "roubador de votos” da UNITA.

Sem estar legal, a integração nas listas da UNITA permitiu ao PRA-JA e ao seu líder uma excelente montra pública para ganhar notoriedade e promoção reputacional dos seus membros e balão de ensaio nas lides parlamentares, através das estruturas do Grupo Parlamentar da UNITA.

No entanto, o cenário de uma nova integração é altamente desfavorável para a afirmação do PRA-JA como projecto político e seus símbolos. O mais provável é que, uma vez devidamente legalizado pelo TC, o PRA-JA opte por não integrar as listas e programa político da UNITA, mas pela negociação de um acordo de coligação pré-eleitoral, no qual seja possível manter a autonomia de cada partido, assegurar a sua contribuição para um programa de governo comum e garantir mais lugares nas listas de candidatos. A possibilidade de criação de uma coligação pré-eleitoral é altamente favorável para o nascente PRA-JA, que se mantendo à boleia da dimensão política da UNITA conseguirá atingir os mais altos patamares sem ir isoladamente a votos.

Para Abel Chivucuvuku, o ónus da decisão fica sempre nas mãos da UNITA. Ou uma coligação pré-eleitoral em que o maior partido da oposição renuncia aos seus símbolos em favor da FPU ou desiste do projecto comum, colocando sobre ACJ o ónus da extinção da FPU, podendo ao mesmo tempo o PRA-JA reclamar, a exemplo do que já tinha acontecido com a CASA-CE, o espaço da terceira via, alternativo ao MPLA e à UNITA.

A integração nas listas da UNITA ainda revela mais vantagens para o Bloco Democrático do que para o PRA-JA. Apesar de legalizado, o BD nunca deu provas efectivas de popularidade e, se fosse possível, a situação actual seria a ideal. Mas não é. Por força da lei dos partidos políticos, todos os partidos que não concorram de modo isolado ou em coligação a duas eleições, são extintos. Como foi integrado nas listas da UNITA em 2022 e se voltar a ser em 2027, o Bloco Democrático será extinto. Logo tem todo o interesse que a FPU se transforme em coligação eleitoral.

Numa coligação eleitoral, o Bloco Democrático poderá oferecer a única moeda de troca que tem, que é a atracção de uma certa elite luandense urbana desavinda com o MPLA.

Tal como no MPLA, os próximos anos serão agitados para a FPU, principalmente para a UNITA.

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