Terça, 16 de Julho de 2024
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Terça, 16 Julho 2024 12:03

… O que faria Jonas Savimbi?

Parte significativa da sociedade, em relação à UNITA, tem a sensação de que vivencia um momento de desordem total. O presidente Adalberto Costa Júnior, que parecia ter já as cosias sob controlo depois dos incidentes de 2021, viu aumentar o desrespeito sobre a sua pessoa, por parte de seus próprios militantes, muito por conta do regresso de Isaías Samakuva aos holofotes.

Por Zacarias Fonganito

Adalberto Costa Júnior foi eleito presidente num sufrágio universal, directo e tido como justo por todos que participaram e o acompanharam. A sua liderança é fruto da vontade da maioria dos militantes eleitos delegados àquele congresso através de conferências municipais e provinciais.

Entretanto, aumenta a perspectiva de que este princípio democrático, que os quadros dirigentes da UNITA dizem perseguir, não esteja a ser respeitado.

Nos congressos partidários, sejam de múltiplas candidaturas ou não, os pretendentes ao cargo de presidente apresentam aos delegados os seus objectivos e propósitos mensurados num programa, e os delegados ao votarem estão concomitantemente a optar por um ou outro programa, sendo que quem não esteja de acordo com certo programa de acção, ainda assim acaba por aceitá-lo e andar de acordo com a programação escolhida pela maioria.

No caso da UNITA, aquando do congresso em que foi eleito presidente, Adalberto Costa Júnior apresentou um programa aos delegados ao congresso, em que propunha a criação de uma plataforma de unidade com outras forças políticas na oposição, visando um maior resultado eleitoral em 2022. Os delegados anuíram, mas determinaram que tal não deveria sacrificar o nome e a bandeira do partido. E assim ocorreu.

Agora, passados três anos desde o congresso, Isaías Samakuva, que geriu o partido por quase duas décadas, decidiu vir a público, por via da rádio MFM, dizer que nunca esteve de acordo com a criação da Frente Patriótica Unida (FPU), uma plataforma constante no programa de Adalberto e que os ‘congressistas’ chancelaram.

Para mais, há uma clara demonstração de força da parte de Isaías Samakuva e seus apoiantes em faixa contrária à direcção do partido, facto que leva as pessoas alheias à UNITA a procurarem respostas às razões para tanta contrariedade, tendo em conta que foi Adalberto Costa Júnior que elevou a UNITA para mais próximo do poder desde a instalação da democracia em Angola.

De referir que desde que deixou a liderança da UNITA, Isaías Samakuva não profere uma só palavra de conforto para com o seu substituto. E justifica que não participou da campanha eleitoral das eleições de 2022, por lhe terem formulado o convite quando faltavam apenas três dias.

Ou seja, ao que se depreende, tem sido mais fácil para Isaías Samakuva criticar ou proferir discursos que o distanciam da actual direcção do partido do que elogiar ou manter uma posição favorável ao seu substituto.

Entre 2020 e 2022, Adalberto Costa Júnior foi alvo de vários ataques, desde a imprensa, comentadores de TV, bem como de militantes do seu próprio partido, e nada se ouviu de Isaías Samakuva, tido como alguém conservador em matéria de respeito à hierarquia e a ideologia do partido.

E tudo fica mais difícil para a actual direcção do ‘galo negro’, tendo em conta que Isaías Samakuva conta com o apoio dos rebentos de Jonas Savimbi, no quadro da Fundação em nome do pai recentemente criada, e de um número significativo de militantes que, sem razões objectivas, desejam empurrar ACJ para fora.

Face a toda esta agitação que ACJ enfrenta internamente, há uma questão que passou a ser levantada: “O que faria Jonas Savimbi se seu poder interno estivesse a ser posto em causa pelos seus próprios partidários?”.

É difícil encontrar uma resposta à essa questão, dado que, num contexto de paz e sem uma força armada e serviços de inteligência à disposição, Jonas Savimbi teria perdido o poder e a influência interna que destilou ao longo dos anos. Mas, ainda assim, conhecendo o temperamento do líder fundador da UNITA, morto em combate em 2002, não é fácil prever o que faria, talvez um exercício de psicografia (à semelhança do que fez Solange Faria, na sua obra sobre José Eduardo dos Santos, ‘Confissões de um Estadista’) dar-nos-ia a resposta desejada.

Jonas Savimbi é acusado de ter ordenado imensas e impiedosas matanças nas zonas controladas por si, no período da guerra. As mais sonantes foram as chamadas ‘queima das bruxas’, em que várias pessoas foram jogadas ao fogo. Mas há quem, a nível interno na UNITA dá razão a Jonas Savimbi, tendo em conta que, de acordo com os factos apresentados pela ala em defesa, muitas das vítimas das ‘queimas’ operavam acções de feitiçaria contra a própria UNITA, fazendo com que militares hospitalizados levassem tempo demasiados para encontrarem a recuperação.

Para diferentes segmentos intramuros na UNITA, as operações de bruxaria tinham de ter uma resposta, tal como defendeu outra vez o general José Samule Chiwale, numa entrevista à Rádio Essencial. Correio Kianda

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