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Domingo, 25 Fevereiro 2024 16:03

O medo de perder o poder gera autocracia e corrupcâo

O medo é um sentimento de forte ansiedade que um grupo de homens ou um homem  desenvolve na presença de um possível perigo ou ameaça. No caso de Angola, aclarando a opiniâo pública sobre o medo, José Eduardo dos Santos, nas "Confissôes de um Estadista" de Solange Faria e Benja Satula, ilustra com relevantes detalhes o comportamento dos camaradas do Mpla desde 1975. Leia este pequeno resumo que segue para ter uma ideia da febrilidade dos nossos dirigentes. Leia, por favor.

"Falar da justiça em Angola deixa-me envergonhado, enfantiza o JES, pois fui dos que mais violou as leis do país, usando da minha prerrogativa de Presidente da República para controlar os tribunais superiores. Usei os presidentes dos tribunais superiores para fazer a vontade do partido (MPLA), no fundo, era o MEDO, que todos os camaradas nâo suportavam, de encarar a verdade caso nâo tivessemos o poder do país. Depois de muitos anos de guerrilha e de luta armada antes e depois da independência. Varias vezes reuni com o camarada Rui Ferreira para discutir assuntos e preocupaçôes de situaçôes legais que eram levantadas pela sociedade civil e a oposiçâo. Os nove anos de Juiz Presidente do camarada Rui Ferreira foram exclusivamente ao serviço do partido, o Mpla, com excepçâo de assuntos que nâo tinham interesses político, é com dor e vergonha que narro estes factos, pois foram pagos e bem servidos os juizes para que nâo discutissem ou levantassem celeumas em relaçâo as decisôes que envolviam o partido ou algum membro que ocupasse algum cargo de alta relevância, e se assim nâo fosse era um peâo a ser abatido.

Apesar de termos criado a Alta Autoridade Contra a Corrupçâo, ela nâo funcionou porque com o agravar da guerra havia necessidade de se ponderar os interesses que se pretendiam com qualquer projecto que se pretendia levar avante para o País. Sabiamos que a corrupçâo sempre foi um cancro, apenas nâo tinhamos interesse em combatê-la, porque o interesse partidário e pessoal de alguns camaradas falava mais alto, combater a corrupçâo era o mesmo que combater internamente o Mpla, poucos sairiam ilesos desta situaçâo, por muitos se terem beneficiado com o caos financeiro que se instalou no país ao longo destes anos.

Quando sentimos o vento da mudança, responsabilizamos a casa militar, sob a gestâo do camarada Kopelipa, pela queima de arquivo, para que nâo deixasse qualquer margem caso determinados arquivos fossem trazidos à baila e envolvessem os nossos nomes na gestâo da coisa pública. A queima de arquivo nâo começou em 2017, é uma prática que começou muito antes da Presiência da República em 2017, muitos dossiers foram queimados para que se nâo deixassem vestígios e nâo fossemos apanhados de forma desprevenida sobre determinados assuntos. É um processo que levou um ou dois anos quando anunciei a minha saida do poder." (Confissôes de Um Estadista -Solange Faria e Benja Satula- Por favor, Leiam este livro).

As mortes causadas no pós-independência foram um prenúncio de que algo pior se avizinhava, mas em nada nos fez parar e repensar a forma como queríamos rever Angola. É com muita dor e tristeza que narro estes factos, pois envergonha-me o nível baixíssimo de miséria intelectual a que eu e os meus camaradas chegamos, tudo por causa de uma maldita sede pelo poder e suas benesses".

Este pequeno resumo das confissões de José Eduardo Dos Santos, antigo presidente do Mpla e de Angola, é uma ilustraçâo da categoria das pessoas a quem os Angolanos confiaram o poder em Angola.

Eduardo Makiesse "Soba Masoba"

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