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Domingo, 27 Março 2022 11:50

Raciocinar passado, partido-estado e estado patrimonialista: causa de nossas tensões a beira de eleições

Vai subindo a tensão, à medida que se aproxima a data das eleições. Se nos fixássemos nas causas, talvez pudéssemos prevenir acontecimentos que se podem, tristemente, adivinhar. Tudo porque as possibilidades de uma alternância, nunca se vislumbraram tão perto, devido a desistência do actual Executivo, em colaborar com a oposição (e antes até com o antecessor) na criação de uma situação de estabilização política, económica e social, depois de longos anos da paz “eduardista”.

Por Marcolino Moco

Quem olha para os debates, nos nossos mais importantes meios de comunicação, logo vê o "raciocínio partido-estado". Por exemplo, se o Presidente da República, nosso chefe de Estado, conduz um processo de reconciliação com as vítimas do 27 de maio e promove a entrega, a familiares, de corpos de vítimas dos confrontos de 1992, em Luanda, dentro de objectivos previamente traçados, raivas logo se agitam sobre o porquê é que a UNITA e FNLA não fazem o mesmo?

É este o pensamento, em que não se consegue distinguir a função presidencial (do Estado) do seu outro papel mais restrito, o de líder do seu partido. Mas antes disso preocupa, especialmente, como muitos não se conseguem “desgrudar” dos problemas do passado, para cuidar do presente que é o que vai determinar o futuro dos vivos actuais e dos vindouros, se não queremos contribuir para a repetição de desaguisados. Procura-se constantemente saber quem teve ou não teve razão no passado. Por exemplo, quem esteve do lado de cá ou de lá, no australmente celebrado dia da Batalha do Cuito Cuanavale.

Mais do que analisar como evitar distúrbios que vão ganhando corpo, por medo à alternância ou a continuar colado na faixa das exclusões, enquanto os “nossos” não alcançam o apetecido poder. E que papel devem jogar os líderes partidários actuais, que têm sempre razão, desde que sejam “do meu partido”. Aliás, se eu reconhecer que o meu chefe está hoje a errar, no exercício das suas funções governativas, eu desvio a conversa e vou invocar os erros do antigo líder “dos outros”, mesmo que já não esteja no mundo dos vivos e sua “governação” nunca tenha sido submetida às formalidades das normas de um Estado constituído.

 No outro dia, alguém postava nas redes sociais que teme que com a alternância haverá vingança, prisões arbitrárias, retaliações, perseguição de jornalistas, etc., etc. e mais alguma coisa. Eu perguntei se o que se estava a dizer, apenas na base de uma conjectura de algo que pode até não acontecer (a tal alternância) não estava, exactamente, a acontecer agora, com a actual governação! Por exemplo, não se apercebeu da reviravolta que houve na comunicação social (na TPA, em particular), desde que os supostos “moles” João Melo e Guerreiro foram afastados, sem qualquer explicação, do pelouro da Comunicação Social e da chefia da nossa televisão pública, respectivamente? Claro que não obtive reposta.

O que me parece, até, é que a minha pergunta/comentário ou todo o texto comentado foram removidos. Outro exemplo que não coloquei no meu comentário ao tal post: é razoável que alguém, em nome de que fidelidades partidárias, possa aplaudir o que se faz com o poder judicial: as nomeações, os “incentivos materiais" à luz do dia, os vazamentos de projectos de acórdãos que vão atiçar mais distúrbios, pela sua absoluta incongruência e cinismo; isso pode orgulhar alguém neste país, mesmo dentro do partido governante?

Pois, aqui está o nó górdio da questão. Para prevenirmos problemas no presente e no futuro, debrucemo-nos sobre o que se passa agora, especialmente sobre o que fazem os governantes de hoje e não do passado nem do futuro, este que só a Deus pertence.

Despartidarizar as mentes e "despartimonializar" o estado, para que para se ser titular efectivo de direitos, liberdades e garantias e até para se viver condignamente eu não tenha que pertencer ou fingir ser do partido ganhador das últimas eleições, para os próximos cinco anos.

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