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Quinta, 29 Mai 2025 00:12

Adalberto Costa Júnior: Entre a estratégia brilhante e o isolamento político

A liderança política, em qualquer parte do mundo, é um ofício que exige equilíbrio entre carisma, competência técnica e capacidade de aglutinar diferentes sensibilidades dentro de um colectivo. No caso de Adalberto Costa Júnior (ACJ), actual figura central da UNITA, a trajetória descrita por JMC em sua crônica política revela um personagem complexo, admirado e contestado em igual medida. Um herói para uns, vilão silencioso para outros.

ACJ é, inegavelmente, um quadro dotado de inteligência estratégica, fluência oratória e domínio das linguagens diplomáticas. Sua ascensão não se deu por acaso. Desde os anos 90, no exílio em Portugal, já demonstrava apetite por protagonismo político, assumindo responsabilidades após o desaparecimento de figuras históricas. No entanto, seu percurso foi marcado por tensões internas, especialmente com os jovens órfãos da UNITA e figuras como Carlos Morgado, que viram nele mais um administrador do que um líder de massas.

A crônica revela que a centralização de poder e a exigência de declarações de lealdade enfraqueceram laços dentro da organização, a ponto de atrair a atenção crítica do próprio Jonas Savimbi, que decidiu afastá-lo temporariamente. Ainda assim, mesmo fora do centro das decisões, ACJ manteve sua relevância no campo diplomático, especialmente em Itália, sinal de sua resiliência e utilidade estratégica.

Com o fim da guerra e a reconfiguração da UNITA, ACJ retornou à cena com força, ganhando espaço no Parlamento, na comunicação do partido e na liderança de iniciativas como a Rádio Despertar. No entanto, a crítica permanece: é um líder mais eficaz no discurso do que no chão da mobilização. Tem forte presença nas redes sociais, mas não se consolida como mobilizador popular fora dos meios urbanos ou digitais.

A UNITA, como marca política, tem crescido em relevância e reaprendido a ocupar espaço como oposição legítima. Mas a pergunta que a crônica levanta — e que deve ser levada a sério — é se ACJ é o líder mais indicado para transformar essa força simbólica em capital político concreto nas urnas. A resposta não é simples.

Faltando dois anos para as eleições de 2027, a UNITA precisa mais do que um bom comunicador: precisa de um unificador, um estratega que inspire confiança, que represente a base e que, acima de tudo, saiba ceder espaço onde for necessário. A ideia de uma auditoria interna e de reavaliação das estruturas partidárias é oportuna — não como caça às bruxas, mas como gesto de responsabilidade com o futuro. Em política, brilho individual não garante vitória colectiva. E talvez esse seja o principal dilema de ACJ: como deixar de ser apenas brilhante e tornar-se indispensável.  José Samakaka

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