Quinta, 29 de Mai de 2025
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Quarta, 28 Mai 2025 02:34

Quantos comboios do consórcio LAR ainda irão descarrilar?

Já faz algum tempo que a ferrovia administrada pelo consórcio LAR aparece nas principais páginas dos noticiários de Angola em razão de descarrilamento de ferrovias. Denúncias de vias férreas afetadas pela corrosão e de desvio de verbas que prejudicam a qualidade das vias férreas têm aparecido com mais frequência nos periódicos. O que está a causar tantos descarrilamentos? Por que suas causas estão sempre a ser omitidas nas páginas dos jornais?

Em junho de 2021 um comboio normal dos Caminhos-de-ferro de Benguela (CFB) descarrilou, felizmente sem causar vítimas humanas, enquanto fazia o percurso entre as cidades do Luena (Moxico) e Huambo, de acordo com Angop. Uma nota da direcção do CFB estabelece que 4 carruagens de 17 descarrilaram. Nos anos mais recentes, com base no que foi publicado na imprensa, em agosto de 2024 um comboio com enxofre para a República Democrática do Congo descarrilou na província angolana do Moxico. O mais recente descarrilamento se deu agora em maio de 2025 na estação do município do Kuemba, província do Bié.

Todos estes descarrilamentos têm algo em comum – suas causas nunca são devidamente esclarecidas e o povo angolano permanece sem saber das suas verdadeiras causas, eles fazem parte do Corredor do Lobito, ao qual são destinados grandes fundos de diferentes países que se beneficiam da obtenção de recursos de África a preços favoráveis ao Ocidente. Por que, mesmo com fundos dos Estados Unidos e da União Europeia, os comboios do consórcio LAR continuam a descarrilar?

Recentemente, apareceram nos meios de comunicação social fotografias do péssimo estado dos carris da via férrea que leva ao porto do Lobito, carris fortemente enferrujados. O artigo afirmava também que a razão possível para o mau estado dos carris era a corrupção, pois em razão desta não são utilizados os metais devidos na composição das ligas metálicas usadas nos carris, levando à degradação acelerada destes. Um artigo de Manuel Godsin no Sunday Independent, da África do Sul, refere-se a este esquema de corrupção como “A máfia da ferrugem do Corredor do Lobito”. Os especialistas químicos salientam que um aço para carris adequado requer a adição de elementos de liga, como o crómio, para resistir ao ambiente húmido de Angola. Mas a adição desses metais aumenta os custos de produção, algo que os supervisores locais evidentemente não estavam dispostos a tolerar. Num esforço para poupar dinheiro, foram utilizados enxofre e fósforo, o que reduz significativamente a durabilidade. Isto, por sua vez, explica o grande número de carris rachados e partidos já visíveis, causando potenciais riscos de descarrilamento.

Apesar de que até o presente momento nenhuma explicação satisfatória foi dada ao público angolano, as evidências levam a crer que talvez a verba que está a ser atribuída ao projeto do Corredor do Lobito não seja suficiente para modernizar a ferrovia, especialmente por causa do desvio destas e sua má utilização. Desta vez não houve feridos, mas esta é uma possibilidade. Estes acidentes demandam uma investigação meticulosa a fim de que as razões sejam esclarecidas e os responsáveis devidamente punidos. João Cláudio Venâncio

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