Terça, 27 de Mai de 2025
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Terça, 27 Mai 2025 13:55

RDCongo: Amnistia Internacional acusa M23 de matar, torturar e manter civis reféns

A Amnistia Internacional (AI) acusou hoje o Movimento 23 de Março (M23), apoiado pelo Ruanda, de matar, torturar e manter civis como reféns em centros de detenção em Goma e Bukavu, na República Democrática do Congo (RDCongo).

De acordo com a mais recente investigação da AI, estes atos por parte do M23 "violam o Direito Internacional Humanitário (DIH) e podem constituir crimes de guerra".

A Organização Não-Governamental (ONG) explicou que, entre fevereiro e abril de 2025, entrevistou 18 civis (homens) que estiveram detidos ilegalmente em centros controlados pelo M23 em Goma e Bukavu, dos quais nove foram torturados por combatentes da milícia.

"As declarações públicas do M23 sobre a sua intenção de impor ordem no leste da RDCongo escondem o tratamento horrível que impõem aos detidos. Punem brutalmente quem consideram opositor e intimidam os restantes, para que ninguém se atreva a desafiá-los", afirmou o diretor regional da ONG para a África Oriental e Austral, Tigere Chagutah, citado no comunicado.

Para Chagutah, os atores regionais e internacionais devem pressionar o Ruanda para cessar o seu apoio ao M23. Segundo a AI, três congoleses detidos por guardas fronteiriços do Ruanda em fevereiro de 2025 foram entregues ao M23 em Goma.

Dois foram libertados após duas semanas em condições desumanas. Por sua vez, a AI exige ao M23 "a libertação imediata de civis detidos arbitrariamente, incluindo os desaparecidos à força, cujos paradeiros devem ser revelados", mas que enquanto isso não acontecer, que os trate "com humanidade" e permita a entidades independentes o acesso a todos os centros de detenção.

Oito dos ex-detidos entrevistados relataram que testemunharam a morte de companheiros nos locais e descreveram celas sobrelotadas, sem saneamento, assim como uma ausência de alimentos, água ou cuidados médicos adequados.

A Amnistia documentou também múltiplos casos de desaparecimentos forçados. "Familiares procuraram os seus entes queridos nos centros, mas o M23 recusou-se a confirmar ou permitir visitas, ocultando a presença dos detidos", lamentou.

A maioria dos detidos estava incomunicável e pelo menos 12 referiram não saber o motivo da detenção, acrescentou a ONG. Segundo os testemunhos recolhidos, os centros de detenção do M23 em Goma incluem: a sede provincial da Agência Nacional de Informações (ANR); um complexo perto da rádio estatal RTNC, no Monte Goma; o edifício da assembleia provincial; o quartel da 34.ª região militar; e um centro improvisado em Kanyaruchinya.

Em Bukavu, os detidos são mantidos na sede da ANR e num campo militar no bairro de Bagira. No entanto, a AI declarou ter conhecimento de outros quatro centros em Goma onde os detidos permaneceram por períodos entre alguns dias e mais de uma semana. Dois ex-detidos contaram ter visto combatentes do M23 a matar prisioneiros com martelos e armas de fogo.

O M23 exigia frequentemente resgates elevados para libertar os detidos. Oito pessoas que estiveram detidas disseram que as famílias pagaram entre algumas centenas e mais de dois mil dólares (cerca de 1.760 euros) pela sua libertação, frisou a AI.

"Os congoleses conhecem bem a crueldade do M23", sublinhou Chagutah. Os cidadãos desta nação, vizinha de Angola, "continuam a viver na miséria, enquanto a comunidade internacional assiste de braços cruzados, à espera de um acordo de paz, enquanto o M23 massacra civis", concluiu Chagutah.

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