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Sexta, 24 Janeiro 2020 14:38

O assassinato de Isabel dos Santos

Hoje vejo dezenas senão centenas de pessoas a queimarem na fogueira Isabel dos Santos, quando antes lhe prestavam vassalagem à sua passagem. Parece até que o mal todo de Angola está no dinheiro que a filha do antigo Presidente tem.

Quando estive em Angola – já lá vão seis anos que não vou à banda –, vi um jornalista que se distinguia de todos os outros e que enfrentava o poder político: Carlos Rosado de Carvalho. Havia outros, alguns bem jovens, mas não podiam e não conseguiam chegar tão longe como o diretor do Expansão.

Hoje vejo dezenas senão centenas de pessoas a queimarem na fogueira Isabel dos Santos, quando antes lhe prestavam vassalagem à sua passagem. Parece até que o mal todo de Angola está no dinheiro que a filha do antigo Presidente tem. Quando andei por lá, vi generais que mandavam kwanzas para as bancadas do estádio onde jogava o Kabuscorp.

Vi casas de banho “milionárias” serem instaladas nas ruas de Luanda sem que alguma vez tivessem funcionado. Vi lixeiras a céu aberto porque o responsável pela recolha de lixo era alguém próximo do poder e os serviços não funcionavam – o jornalista que fez a peça chegou a ser ameaçado.

Vi famílias diferentes serem realojadas numa mesma casa no Panguila, quando o combinado era cada uma que deixasse os bairros de lata da capital ter direito a uma habitação condigna – o jornalista que fez a peça também sofreu ameaças. Quando dois ativistas políticos foram mortos – um deles provou-se que foi deitado ao rio infestado de crocodilos –, o mesmo jornalista fez a cobertura da repressão policial, onde não faltavam agentes a cavalo e helicópteros no ar para controlarem os manifestantes.

Por acaso, o escândalo foi tanto que houve várias demissões policiais e alguns chegaram a ser presos, tanto quanto julgo saber. Vi muita coisa e, hoje, acho extraordinário que um país se resuma a uma mulher. Se o MPLA e o poder judicial querem fazer um ajuste de contas com a família de José Eduardo dos Santos, que o assumam.

Agora, dizerem que esta operação mãos limpas é um verdadeiro combate à corrupção é para rir. Onde estão as centenas ou milhares de generais e empresários que estiveram a beber do poder durante todo este tempo? Acho vergonhoso, como disse e muito bem João Soares, que agora todos estejam contra Isabel dos Santos quando se serviram do banquete com uma fome e sede inauditas.

Por Vítor Rainho / Jornal I

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