Muitos angolanos acreditam que a vida na anterior governação era mais fácil: preços mais baixos e kwanza valorizado. Este sentimento tem sido manifestado, sobretudo nas redes sociais, onde os cidadãos comparam o custo de vida da era JES, em referência a José Eduardo dos Santos, com a era JLO (João Lourenço), siglas como são conhecidos em Angola.
Em entrevista a DW África, o analista e politólogo Agostinho Sicatu diz que os cidadãos têm "saudades" de José Eduardo dos Santos.
"Este sentimento surge porque os angolanos naquele período de José Eduardo dos Santos tiveram um nível de vida diferente. Tiveram a moeda valorizada a um nível. Só para darmos um exemplo, a nota de 100 dólares já chegou a ser trocada a 10 mil kwanzas e nos anos um pouco mais anteriores a sete, oito mil kwanzas", indica.
Atualmente a moeda nacional, o kwanza, atingiu níveis baixos históricos no mercado cambial. Uma nota de 100 euros chega a ser comercializada a 100 mil kwanzas no mercado informal.
O antigo presidente José Eduardo dos Santos governou Angola por quase 40 anos. Os seus últimos anos no poder foram debaixo de fortes críticas e manifestações por causa do crescente número de casos de corrupção e alegadas más políticas públicas.
Outros angolanos sem saudades
os movimentos que lutaram contra as políticas do apelidado "arquiteto da paz" estava o movimento 15+2.
José Gomes Hata foi um dos ativistas detidos, julgados e condenados neste processo, e não concorda que os cidadãos tenham "saudades" desse era.
"Não existem saudades de José Eduardo dos Santos. O que existe são lições tiradas em função das falhas da governação de João Lourenço e uma delas tem que ver com a dimensão nacional. O país transcende a dimensão dos partidos políticos. João Lourenço e José Eduardo dos Santos são cidadãos angolanos que podem ser substituídos por outros angolanos", comenta.
Em 2017, o Presidente João Lourenço lançou a "cruzada contra a corrupção". Uma iniciativa que visava responsabilizar os supostos corruptos e recuperar o dinheiro e bens do Estado desviados. Essa luta tem causado alguma clivagem entre os apoiantes do anterior Chefe de Estado e do atual.
"As clivagens do MPLA são clivagens políticas, apesar de que as clivagens políticas depois afetam também o económico tendo em consideração de que são os mesmos cidadãos. Portanto, em Angola, o político é económico. Não tem nada que ver com clivagem no MPLA. Tem que ver, sim, com um redefinir da economia, um reajuste da economia nacional. O assunto é mais técnico do que político", conclui o politólogo Agostinho Sicatu. DW África