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Sexta, 29 Abril 2016 07:00

Quem se deu mal com Isabel dos Santos?

Ao espanhol CaixaBank e ao CEO do BPI, há que juntar a Sonae, com a qual rompeu quando estava para lançar uma rede de retalho em Angola. O primeiro conflito foi com a PT em 2007. E gerou ligações que sustentam a guerra entre a Unitel e a Oi.

Quem se deu mal com Isabel dos Santos. Qual será o próximo alvo?

Os parceiros de Isabel dos Santos em Portugal têm, na maioria, o endereço a Norte. Américo Amorim, na Galp Energia, Paulo Azevedo, na Sonae, e até o núcleo de acionistas do BPI que se aglutinou em torno da empresária na minoria de bloqueio que a 29 de abril de 2015 votou contra o relatório de gestão e manteve os direitos de voto restringidos a 20% do capital do banco são os principais. Em alguns casos, as parcerias deram resultados, noutros não.

O rei da cortiça, Américo Amorim, é, dos grandes parceiros portugueses de Isabel dos Santos, o mais antigo. A relação de negócios entre ambos remonta a 2005, quando a filha mais velha do presidente de Angola entrou na Amorim Energia, onde detém 45%, através da Esperanza. A Amorim Energia controla 38,34% da maior empresa portuguesa, a Galp Energia. Nesse ano de 2005, os nomes dos dois empresários surgem outra vez juntos, desta feita, ao lado do luso-angolano Fernando Teles, fundador do banco BIC Angola. Mais tarde, os três ainda lançariam o Banco BIC Portugal.

Ainda com Américo Amorim, Isabel dos Santos adquiriu, em 2006, os 49% detidos pela Cimpor (a construtura Teixeira Duarte era o acionista de referência) na cimenteira Nova Cimangola.

Por estas parcerias bem sucedidas, contam-se outras tantas falhadas. A relação de amor-ódio com a antiga Portugal Telecom, hoje Pharol, é a mais antiga e prolongada. “A guerra com a PT começou em 2007, quando a Portugal Telecom anunciou a criação da África PT para agregar todos os negócios que a PT geria no continente africano, na sequência do processo de reorganização dos negócios da PT e a criação de uma parceria estratégica com a Helios Investors LP (Helios), um fundo aconselhado pela Helios Investment Partners LLP, para o mercado de telecomunicações subsariano”, conta no livro “Isabel dos Santos – Segredos e Poder do Dinheiro” o seu autor, o jornalista Filipe S. Fernandes. Sete anos depois, no auge do processo de fusão entre a PT e a operadora brasileira Oi, na qual o CEO da PT, Zeinal Bava, estava totalmente focado, Isabel dos Santos avançou sobre a operadora. Aos primeiros dias de novembro de 2014, lançou uma OPA que tinha como imperativo a suspensão imediata da fusão. Acabou retirada.

Desde então muita água correu no “moinho” PT… mas o conflito deixou rasto, tendo hoje outro protagonista: a brasileira OI que, através da PT Ventures, passou a deter os 25% da Unitel, operadora de telecomunicações mais rentável de Angola. Isabel dos Santos também tem 25%. O restante pertence a dois sócios angolanos. Acontece que a Unitel está em guerra com o acionista Oi. “A empresa angolana recusa-se a cumprir o acordo parassocial (assinado entre a ex-PT e a Unitel) em vigor, nomeadamente o pagamento dos respetivos dividendos desde 2011. A dívida já supera os 250 milhões de euros”, lembrava, recentemente, o Observador.

Conflituosa acabou por se revelar igualmente a parceria assinada entre Isabel dos Santos e a Sonae em 2011, que deu origem à Condis. Os planos iniciais incluíam a abertura de, pelo menos, cinco hipermercados Continente. A parte imobiliária do projeto era da responsabilidade dela, sendo a gestão operacional assegurada pela empresa de Paulo Azevedo. “Nos anos seguintes, não se conheceram grandes desenvolvimentos – até fevereiro de 2015, quando se ficou a saber que os dois gestores envolvidos no projeto passaram a trabalhar diretamente para a empresária”, explicava, em setembro de 2015, o jornal Público. Apesar disso, a parceria entre Isabel dos Santos e o grupo liderado por Paulo Azevedo na operadora NOS, que resultou da fusão entre a ZON, detida maioritariamente por ela, e a Optimus, da Sonae, não sofreu alterações.

O desentendimento no BPI é o caso mais recente. A empresária detém 18,58% do banco através da Santoro Finance e 2,3% através do Banco BIC. Devido à blindagem de estatutos, tem tido o mesmo poder de voto do CaixaBank, que controla 44,10%. Numa tentativa para sair do bloqueio, o banco catalão tentou um divórcio litigioso, no ano passado, com uma OPA apontada aos restantes 56%. Teve apoiantes, mas não foram suficientes. O CaixaBank acabou por se retirar por “não se ter cumprido a condição estipulada na oferta da eliminação do limite dos direitos de voto”.

No início de março de 2016, quando se tornou inadiável resolver a imposição do Banco Central Europeu de reduzir a exposição do BPI ao mercado angolano, as partes sentaram-se à mesa das negociações. Mas não chegaram a acordo. Em resposta ao falhanço, o CaixaBank lançou uma OPA. “Isabel dos Santos teve todas as oportunidades para conseguir um bom negócio no caso BPI: saía do banco português e ficava com o BFA; no fundo, o seu grande objetivo. Agora corre o risco de perder em todos os tabuleiros”, explica, na última edição do Expresso, o diretor adjunto, Nicolau Santos.

O Governo português aprovou, entretanto, um decreto-lei que permite a desblindagem da cláusula de bloqueio dos direitos de voto, mas ainda não está em vigor. De Luanda, espera-se resposta dura, sendo cada vez mais aventada a hipótese de poder vir a ser decretada a nacionalização do BFA, de que BPI detém mais de 50%. Um primeiro prato da “vingança” foi, já ontem, servido por Isabel dos Santos ao chumbar a proposta de alteração dos estatutos do BPI, que permitia a continuidade de Fernando Ulrich na presidência executiva no BPI.

Por Almerinda Romeira/OJE

 

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