Em comunicado, divulgado na tarde de hoje, Pretória salientou que os dois chefes de Estado "aproveitarão a visita de trabalho para refletir sobre a relação bilateral entre os dois países, que partilham laços históricos muito profundos que estão enraizados na luta de libertação contra o colonialismo e o `apartheid`".
A agenda do encontro entre os dois líderes regionais, integra ainda "questões de interesse mútuo regional", nomeadamente a situação política e de segurança na vizinha República Democrática do Congo (RDCongo), e a resolução de conflitos no continente.
Na sua visita de trabalho a Angola, o chefe de Estado sul-africano faz-se acompanhar pelo ministro das Relações Internacionais e Cooperação, Ronald Lamola, e pela ministra da Defesa, Angie Motshekga, segundo as autoridades sul-africanas.
Angola e África do Sul devem explorar melhor proximidade geográfica – analista
O analista angolano para questões internacionais Osvaldo Mboco defendeu hoje que Angola e a África do Sul deveriam explorar melhor a sua proximidade geográfica e alargar a cooperação em outros eixos, sobretudo para a industrialização do país lusófono.
Segundo o especialista, as relações económicas entre Angola e a África do Sul no contexto atual estão estáveis, apesar da pouca expressividade do investimento sul-africano em Angola, mais ligado aos setores do comércio e diamantes.
“Mas, ainda assim, penso que esses dois Estados, por estarem geograficamente na mesma região austral, poderiam explorar a aproximação geográfica para explorar outros eixos de cooperação”, disse hoje Osvaldo Mboco à Lusa.
Falando na véspera da visita de trabalho que o Presidente da África do Sul, Ciryl Ramaphosa, realiza quinta-feira a Luanda, para abordar, nomeadamente, a cooperação bilateral, Mboco defendeu que Angola pode explorar mais as potencialidades industriais da nação sul-africana.
África do Sul “é o país mais industrializado a nível da África Austral, tem um dos maiores PIB [Produto Interno Bruto] da África Subsaariana e isto faz com o Estado angolano pode explorar muito mais essas valências sul-africanas para contribuir significativamente no processo de industrialização do país”, frisou.
Osvaldo Mboco considerou, por outro lado, que a estratégia da diplomacia económica do Estado angolano está centrada, essencialmente, na atração de investidores para o território angolano e que o Presidente angolano, João Lourenço, “está já com uma atenção mais voltada ao continente africano.”
“Penso que faz todo o sentido prestar esta atenção, independentemente de a estrutura empresarial, comercial, económica das indústrias africanas não serem da mesma dimensão da Europa, Ásia e América do Norte, mas pode-se mitigar uma série de fatores”, argumentou.
Mboco defendeu que a indústria africana pode fomentar as trocas comerciais a nível da região, encurtar o tempo de duração de importação de determinados produtos e explorar ao máximo vários protocolos e acordos comerciais existentes no âmbito da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e da União Africana.
Permite também a possibilidade de Angola ter “joint venture” (empreendimentos conjuntos) entre empresários angolanos e de outros países africanos, como a África do Sul, “porque a estrutura económica dos Estados africanos são praticamente similares”, apontou.
“Claramente que hoje há poucos angolanos a investirem na África do Sul e [esses] investimentos também não são significativos e aqui era fundamental que o Estado angolano identificasse determinados mercados em África no sentido de abrir linhas de financiamento para empresários angolanos que pretendem internacionalizar os seus produtos e serviços para países africanos”, indicou o analista.
Os laços históricos entre Angola e a África do Sul, fundados desde os períodos das lutas de libertação do colonialismo e do 'apartheid', foram também destacados por Osvaldo Mboco.
As relações de cooperação bilateral entre Angola e a África do Sul têm o seu quadro jurídico assente no Acordo Geral de Cooperação Económica, Científica, Técnica e Cultural, assinado a 29 de abril de 1998, em Luanda, aquando da visita do então Presidente sul-africano, Nelson Mandela, ao país.
Para a prossecução dos objetivos definidos pelo referido instrumento jurídico e materialização dos princípios nele estatuídos, foram assinados vários Acordos de Cooperação entre os dois países, dentre os quais o Acordo sobre a criação da Comissão Bilateral, assinado a 20 de novembro de 2000, em Luanda.
Ramaphosa visita quinta-feira Angola, depois do Presidente angolano, João Lourenço, ter assistido, em Pretória, no passado dia 19 de junho, à investidura do homólogo sul-africano para o segundo mandato consecutivo na liderança da África do Sul.
