A par das ruas intransitáveis e das residências, no interior e exterior, alagadas, a Lusa constatou hoje as dificuldades para circular no município do Cazenga, um dos mais populosos de Luanda, com moradores a fazerem contas à vida na hora em que tentam sair para trabalhar.
"Tem sido muito difícil sempre que chove e a alternativa é mesmo usar botas de borracha para atravessar a rua. Está água é suja, com fezes e muito lixo, e a rua está transformada numa bacia", descreveu à Lusa Dumilde da Rocha, depois de atravessar a extensa lagoa que tomou conta da rua onde vive.
Segundo aquele morador do Cazenga, sempre que chove, a generalidade das estradas secundárias do município, que cruzam os bairros, transformam-se em "autênticas lagoas", situação agravada pela falta de uma rede de esgotos.
"Muitas pessoas não conseguem sair de casa, muitas delas inundaram por falta de esgotos nessa rua, e aí agravamos as doenças com muito mosquito e o paludismo [malária]", lamentou.
Numa das estradas que dá acesso ao mercado municipal da Asa Branca, também no Cazenga, taxistas e transeuntes relataram à Lusa que as chuvas dos últimos dias vieram agravar os buracos.
Em consequência disso, as avarias de viaturas e motorizadas têm sido uma constante.
É o caso do taxista Cristóvão Francisco Fuxi, que viu a sua viatura avariada ao meio de uma lagoa que mistura água da chuva e esgotos.
"Estamos a nos remediar aqui na estrada, na medida do possível. As condições das estradas estão péssimas, estradas esburacadas, águas na via, carros a estragarem, pagamos a taxa de circulação, o seguro automóvel, mas não estamos a ver nada de melhor", criticou.
"Mudamos de Presidente [da República] e não estamos a ver nada de melhor", desabafou.
Já Nercia Domingos conta que viu interrompida a sua viagem em consequência da aviaria do táxi onde seguia, em direção ao município de Viana, devido aos buracos na estrada escondidos pela chuva.
"A nossa viagem começou já complicada, com muitos buracos na via, e aqui nesta rua o pneu do carro sentou num dos buracos dessa lagoa e o carro não conseguiu mais sair", contou.
Quem também viu a sua viagem interrompida devido às "lagoas" formadas nas estradas, com o consequente aumento de buracos, foi o moto-taxista Francisco Candeeiro.
Contou à Lusa que viu a sua motorizada a capotar, quando tentava fugir da água na estrada: "A moto caiu, porque na faixa esquerda vinha uma viatura, tive de fugir, mas como a estrada está alagada e não vi o buraco é assim que vim parar aqui".
Enquanto espera por solução, faz contas à vida: "Sim, com a chuva é complicado trabalhar".
As fortes chuvas que caíram sobre Luanda entre a noite de terça-feira e a madrugada de quarta-feira provocaram pelo menos dois mortos, estando um outro cidadão desaparecido, além de inundações em 2.200 casas, conforme anunciaram as autoridades.