Em entrevista à Lusa em Lisboa, o académico disse que "o regime moçambicano tinha tendências fascizantes", mas afirmou que "o regime angolano é fascista", dando como exemplo a forma como tem tratado o caso dos ativistas angolanos acusados do crime de conspiração política para mudar o regime.
Em causa está o processo que foi movido contra vários ativistas angolanos acusados da prática de conspiração contra o Executivo, que Carlos Castel-Branco considera não ter qualquer fundamento e que tem algumas semelhanças com o processo que a Procuradoria-Geral da República de Moçambique moveu contra si.
"Eles estão a ser muito pior tratados do que nós alguma vez fomos, estão presos, e fizeram o mesmo crime que nós, que é denunciar o regime, que é ditatorial, um regime oligárquico, corporativo".
Para Castel-Branco, se "o nosso [moçambicano] tinha tendências fascizantes, o angolano é fascista", sentenciou, referindo-se indiretamente ao processo que a Procuradoria-Geral da República lhe moveu, juntamente com um jornalista, pela publicação de um texto bastante crítico da governação do antigo Presidente (Armando) Guebuza.
Na primeira instância, o processo foi arquivado mas a PGR apresentou recurso, esperando-se agora a decisão do tribunal sobre esse recurso.
Na entrevista que concedeu à Lusa em Lisboa, o Coordenador do Grupo de investigação sobre Economia e Desenvolvimento no Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique considera que Moçambique está numa encruzilhada entre o caminho da diversificação económica para além do alumínio, gás e carvão, e a adoção dos erros que Angola cometeu e que a levaram a uma excessiva dependência do petróleo.
"Moçambique está numa encruzilhada, tem uma estrutura económica extrativa e muito afunilada, com tendência a ficar ainda mais, como o modelo angolano", cujo petróleo vale mais de 75% das receitas fiscais e mais de 95% das exportações totais.
Carlos Castel-Branco lembra que "60% das exportações industriais são alumínio e 40% do valor das exportações totais é alumínio", para sustentar que "quando entrar o gás, o carvão, o gás e o alumínio vão representar 95% [das exportações de Moçambique], o que cria uma enorme instabilidade económico e não permite um processo alargado de diversificação".
A questão, diz, é saber "como vamos viver até esse dinheiro chegar", referindo-se aos vários comentários do Governo, mas também a estudos e relatórios que salientam as enormes vantagens para a economia de um país que tem imensas reservas de gás, mas que só deverá começar a exportar gás na próxima década.
"Dizer isso é como eu convidar alguém para trabalhar para mim e dizer que pago, e pago bem, daqui a uma década, mas a questão é como vamos viver até lá, porque como dizia o (economista John Maynard) Keynes, a longo prazo estamos todos mortos", por isso "qualquer Governo que diga que não há uma crise porque daqui a dez anos vamos ter dinheiro, não é sério, é uma anedota", afirma o economista moçambicano que coordena alguns alunos de doutoramento no Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa.
Questionado sobre se considera que é possível alterar o caminho económico de Moçambique para favorecer a diversificação económica em vez do afunilamento na dependência dos recursos naturais, Castel-Branco respondeu que "a tendência é que vamos no caminho angolano, mas ainda não fomos, ainda é possível mudar, mas não se muda só porque eu quero ou porque o FMI diz".
É necessário, conclui, uma mobilização das "forças ativas da sociedade que sugiram essa mudança e provoquem uma mudança no pensamento e no plano político; a crise é esta oportunidade, eu acho que vamos ganhar nalgum momento, mas o que vamos ter de sofrer para isso não sei".
Lusa