João Lourenço falava numa curta conferência de imprensa no final da 7.ª Cimeira União Africana–União Europeia, em que se juntou ao presidente do Conselho Europeu, António Costa, para responder a questões dos jornalistas, incluindo o posicionamento sobre o conflito na Ucrânia.
“Os povos africanos estão eternamente gratos à Rússia pelo apoio dado. Não há nada acima da liberdade e da soberania dos povos”, afirmou o chefe de Estado angolano, recordando o apoio russo enquanto vários países africanos permaneciam colonizados por potências europeias.
“O principal país que se levantou em nossa defesa, em nosso apoio, e contribuiu para que pudéssemos alcançar as nossas independências foi, sem sombra de dúvidas, a Rússia”, salientou.
A então União Soviética foi a potência que, no contexto da Guerra Fria, apoiou o MPLA, de Angola, e outros movimentos africanos com “conhecimento, equipamento aeronáutico e militar e formação” militar, recordou Lourenço.
“Os povos africanos que beneficiaram dessa ajuda estão eternamente gratos por esta solidariedade”, destacou.
Sobre a Ucrânia, João Lourenço foi claro: “Em relação aos dias de hoje, ao facto de a Ucrânia ter sido atacada, ter sido invadida e parcialmente ocupada, África defende a justiça, defende princípios. Nós defendemos, a exemplo do que se passou connosco, o direito à independência, o direito à soberania, o direito à integridade territorial na Ucrânia”.
Já António Costa remeteu para a declaração conjunta aprovada no final da cimeira, na qual os dois blocos reiteraram o apoio a “uma paz duradoura” na Ucrânia e em outros territórios em conflito no mundo.
“Quando permitimos que um Estado desrespeite a soberania e as fronteiras reconhecidas de outro país, estamos a permitir que todos os outros façam o mesmo”, disse o responsável europeu, realçando que a alternativa a um sistema baseado em regras “é o caos.”
Questionados sobre as lições políticas e económicas do encontro, António Costa disse que africanos e europeus “continuam a trabalhar juntos por paz e prosperidade” e João Lourenço completou: “Em vez da confrontação, preferimos a parceria.”
O Presidente angolano afirmou que apenas as parcerias permitem que os países se desenvolvam e melhorem as condições de vida das suas populações, dando “um sinal contrário” ao que se observa no mundo, onde “o unilateralismo procura suplantar o multilateralismo”.
João Lourenço acrescentou que a melhor garantia de uma parceria equilibrada é a confiança construída entre os dois blocos nos últimos 25 anos, sendo essa a “maior garantia de sucesso”.
António Costa concordou, afirmando que essa confiança “assenta em resultados concretos”.
Sublinhou ainda que “o maior recurso que África tem é o seu capital humano, o talento e a juventude”, defendendo que é essa visão de parceria que a União Europeia pretende aprofundar com a União Africana.
O dirigente europeu lembrou que as empresas europeias são o principal investidor no continente e que a criação da Zona de Comércio Livre Africana, bem como o investimento em infraestruturas, serão essenciais para garantir que esta parceria se desenvolva com base no interesse mútuo, e não em lógicas extrativas do passado.
A Cimeira UA-UE, que começou segunda-feira, foi dedicada ao tema “promover a paz e a prosperidade através de um multilateralismo eficaz”.
O encontro de alto nível foi copresidido pelo Presidente de Angola, João Lourenço, e pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa, estando a UE ainda representada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a UA pelo presidente da Comissão da União Africana, Mahmoud Ali Youssou.
Oitenta delegações marcaram presença na cimeira.
A União Europeia é constituída por 27 países, incluindo Portugal, representado no encontro pelo primeiro-ministro e pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.
A União Africana é composta por 55 nações, incluindo Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Pela União Africana estiveram 29 chefes de Estado e de Governo ou seus representantes, entre os quais o Presidente de Moçambique e o primeiro-ministro de Cabo Verde, para além do chefe de Estado de Angola.

