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Domingo, 29 Março 2015 14:18

Angola é um país onde morrem mais crianças “NY Times”

Jornalista Nicholas Kristof esteve no Lubango, onde testemunhou vários casos de crianças doentes, e criticou duramente o governo de JES.

Um artigo de opinião publicado na quinta-feira pelo The New York Times aborda o tema da mortalidade infantil em Angola. Assinado pelo jornalista Nicholas Kristof, que esteve em reportagem no Lubango, o texto começa por lembrar que Angola é o país do mundo onde morrem mais crianças com menos de cinco anos, de acordo com dados de 2013 da UNICEF.

O texto faz depois referência a vários casos, testemunhados por Kristof, de crianças sub-nutridas e em estado de doença avançada que chegam ao hospital do Lubango. Uma delas é Longuti, sete anos, diagnosticado com malária cerebral, que pesa apenas 16 quilos. A mãe, Hilária Elias, não sabia que a malária era provocada por mosquitos. A clínica que consultou da primeira vez não tinha os meios necessários para fazer o teste e agora Longuti está tão doente, os médicos dizem que, mesmo se ele sobreviver, ele sofreu danos neurológicos e pode ter dificuldade para andar e falar novamente.

O jornalista lembra que, apesar de tudo, Longuti é um “sortudo”, isto porque a 20 metros de distância, uma outra mãe começou a gritar. Seu filho desnutrido, José, tinha acabado de morrer.

Em angola 40 a 50 por cento da população tem acesso a cuidados de saúde, de acordo com o doutor Samson Agbo, da UNICEF. 150 mil crianças angolanas morrem anualmente por causa da desnutrição generalizada, com cerca de um quarto das crianças angolanas a sofrer de atrofias musculares. O jornalista reforça a dimensão do problema com outro número: uma em cada 35 mães que dão à luz morre durante o parto (dados da ONU de 2013).

"A morte neste país é normal", disse Dr. Bimjimba Norberto, que dirige uma clínica numa favela nos arredores da capital angolana. A alguns metros, uma funerária estava atender uma senhora que acabou de perder um bebê de 10 meses de idade, morto pela malária.

"Agora não há nada", disse Nambua, 73, acrescentando que a vida era melhor antes da independência em 1975.

"No período colonial, quando eu estava doente, eles tinham medo que eu morre e me dava boa assistência", disse ele, "Agora, quando estou doente, ninguém se importa se eu morrer."

Partindo deste exemplo, Nicholas Kristof continua, falando de uma Angola “irritantemente contraditória”, onde o regime “corrupto e autocrático” de José Eduardo dos Santos, alimentado pelas receitas do petróleo e diamantes, suporta o estilo de vida de uma pequena elite milionária.

“O petróleo e os diamantes dão-lhe uma riqueza que é rara na África subsariana, e vemos ricos em joalharias, champanhes e apartamentos de duas assoalhadas em Luanda que custam USD 10 mil por mês”.

O reforço alimentar, técnica adoptada por países mais pobres como Mauritânia e Burkina Faso – que consiste na adição de micronutrientes à comida – poderia ser uma boa solução para Angola conseguir reduzir os seus índices de mortalidade infantil, mas o presidente José Eduardo dos Santos “não está interessado nisso”, garante Nicholas Kristof. “Ele investe cerca de três vezes mais em defesa e segurança do que em saúde”, acrescenta o colunista do NY Times.

Para fazer face à actual crise do petróleo, o Orçamento Geral do Estado, revisto ontem, prevê um corte em um terço de toda a despesa pública, o que poderá agudizar ainda mais esta situação. O jornalista conclui o artigo criticando duramente a figura do presidente angolano.

Existem muitas formas de um líder matar o seu povo, e apesar de Dos Santos não estar a cometer genocídio, está a presidir ao roubo sistemático do seu Estado e ao negligenciar do seu povo. Cento e cinquenta mil crianças angolanas morrem todos os anos. Vamos responsabilizar Dos Santos e reconhecer que a corrupção extrema e a negligência podem ser consideradas atrocidades enormes”.

O colunista do The New York Times Nicholas Kristof está Angola em reportagem. Antes deste artigo de opinião, tinha feito um pequeno vídeo sobre ratos detectores de minas.

Ainda ontem, o jornalista comentou a sua passagem pelo país no Facebook. “Demorei anos até conseguir um visto para o país mais mortífero para as crianças e depois desta coluna não terei outro. As crianças são maravilhosas, mas o regime apodera-se da riqueza só para si”.

RA \ AO24

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