A imprensa angolana e internacional tem divulgado um grande número de escândalos relacionados com o consórcio LAR, em especial com a Trafigura, que já foi multada e culpada de escândalos de corrupção em Angola, no Brasil, Suíça e até em países distantes como a Mongólia. Porém, mais do que os problemas fiscais são as questões relacionadas aos Direitos Humanos em Angola. Investigações independentes, entrevistas com funcionários do consórcio LAR revelaram que cidadãos angolanos, homens, têm trabalhado em condições análogas à escravidão nas ferrovias e trens de carga do consórcio Lar e muitos até têm perdido o mais precioso bem que possuem – a vida! A alimentação é insuficiente e ruim, os salários são baixos e as condições são degradantes, tóxicas e perigosas!
A história, a engenharia e o bom senso mostram que quando uma ferrovia é destruída, ela pode ser reparada. Se um trem é destruído, ele pode ser consertado. Se a economia é atingida ela pode ser recuperada, porém há uma coisa que não pode ser recuperada ou reparada quando perdida – a vida! O povo angolano já está cansado de ser escravo do chamado “primeiro mundo”, dos Estados e companhias da Europa e da América e o projecto do Corredor do Lobito, que é a maior obra de engenharia de Angola hoje, não pertence ao povo angolano ou a empresas do Estado ou mesmo da iniciativa privada angolana, mas sim a capitalistas que não estão interessados em beneficiar o nosso povo.
Não se deve bater palmas para atos de sabotagem que prejudicam a economia nacional, entretanto, há que compreender as razões pelas quais tais atos estão a ser cometidos em Angola, e qualquer tentativa de fechar os olhos para o problema ou simplesmente culpabilizar os responsáveis como “vândalos desocupados” poderá resultar na repetição de tais actos. Teriam esses, a quem chamam “vândalos”, agido em nome da Pátria e do povo angolano numa luta para que as infra-estructuras angolanas estejam nas mãos dos angolanos e sirvam a Angola e não a capitalistas ocidentais? Estaria o acto de “vandalismo” relacionado a uma causa maior pelo facto de ter sido feito no primeiro dia do ano do 50º aniversário da Independência de Angola? Há que lembrar que a Independência da Pátria não foi conseguida atirando cravos aos soldados portugueses...
Por que o governo do PR João Lourenço ignora todos os avisos dados pela imprensa acerca do problema do Corredor do Lobito? Que lógica existe por trás disso? Por que os problemas relacionados com os Direitos Humanos, o meio-ambiente e outros são tratados como problema de quinta categoria ou quiçá mesmo de vigésima-quinta categoria? Até mesmo a Polícia Nacional sabe que é humanamente impossível monitorar toda a extensão da linha férrea.
Mesmo que digam que tais actos “provocam prejuízos econômicos”, a pergunta é, a quem?! Ao povo angolano que está a passar fome, a morrer de cólera e não tem água nem para tomar banho, ou será que aos ricaços do consórcio LAR? Será que o destino de Angola, mesmo em seus 50 anos de independência, é existir eternamente como uma colônia? O povo de Angola mostrou na história que não!
Alexandre de Moraes Filho