Desde a passada semana que os preços dos transportes coletivos em Luanda aumentaram, passando para os 150 kwanzas (16 cêntimos) para autocarros, um aumento de 200% face ao preço anterior, e 200 kwanzas (22 cêntimos) para os táxis privados, conhecidos como “azuis e brancos”, que aumentaram 33% comparativamente à tarifa antiga.
Os aumentos são contestados por estudantes e cidadãos que fizeram à Lusa eco do seu descontentamento, com alguns a rogarem por intervenção divina para “iluminar” os decisores políticos, levando-os a recuarem numa medida que “penaliza mais os cidadãos, sobretudo os de baixa renda”, confrontados já com uma difícil situação socioeconómica.
No Largo das Escolas, um dos maiores terminais de autocarros públicos da capital angolana, António Nunes, 43 anos, eletricista, contestou a nova tarifa dos transportes, particularmente a dos autocarros.
“Esses preços para mim são negativos, não gostei, tinha de continuar a 50 kwanzas (5 cêntimos), porque autocarro é transporte público”, disse, expressando “cansaço e aborrecimento” com a situação do país, enquanto circulava a pé para poupar os kwanzas que trazia no bolso.
“É só Deus, o Presidente [da República] que nós temos é só Deus, é isso é que está a causar [no seio dos jovens] muitos roubos no país”, relatou o eletricista, que há três meses sobrevive de biscates por falta de emprego, referindo que gastava anteriormente 3.000 kwanzas (3,2 euros) por mês no transporte público e está sem possibilidades de triplicar os gastos.
O ambiente de maior calma, com mais autocarros e menos passageiros, verificado hoje no Largo das Escolas e noutros terminais de transportes coletivos, contrasta com as grandes enchentes e filas intermináveis do passado, parecendo confirmar a “fuga” à nova tarifa.
“Na verdade, está a ser mesmo difícil e hoje preferimos andar uma longa distância a pé somente para poupar os 150 kwanzas e aí mais à frente pegarmos um transporte para a casa”, disse o estudante José Macaya, considerando uma “lástima” a subida do táxi.
Sem o passe social do estudante, medida aplicada pelas autoridades e que permite 60 viagens grátis da escola para casa e vice-versa, Deodato Pedro contou que a sua escola não foi cadastrada para a inserção do passe “Gira Mais”, lamentando os atuais preços dos transportes.
“O preço mesmo está mal, não deveriam ter feito isso, o que fizeram não é uma coisa certa. Sabendo que o país já está numa fase muito difícil, subir mais o preço do táxi é complicado”, referiu o estudante da 10.ª classe, à saída de uma aula de educação física.
O estudante da Escola Juventude em Luanda António Silva, 21 anos, disse que muitos alunos estão a faltar às aulas por não terem recursos para suportar os novos preços dos transportes públicos, referindo exemplos de colegas que vivem em Viana.
“Antigamente só gastavam 100 kwanzas de ida e volta [até ao Largo das Escolas, 18 quilómetros] e agora não têm como e tem vezes que eles não vêm à escola e perdem as aulas”, lamentou.
Trajada de bata branca e com uma sombrinha para se proteger dos raios solares, Marta Pedro, 17 anos, estudante da Escola Ngola Kiluanje, disse aguardar pelo passe de estudante, referindo que a nova tarifa do táxi “complicou” a vida dos estudantes e dos trabalhadores.
“A situação está muito difícil, não tenho passe, mas o processo está em curso”, adiantou a estudante da 11.ª classe, afirmando que é a escola que vai tratar do documento.
A situação do país “já não se encontra boa e eles [as autoridades] simplesmente vieram atrapalhar aquilo que já estava mal, os transportes subiram, o que é mau”, disse Eugénia Morais, 18 anos, também a estudar no Ngola Kiluanje, manifestando-se “agastada” com a medida.