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Sexta, 25 Abril 2014 17:55

Dupla nacionalidade abre portas a quem procura uma saída para a crise

A dupla nacionalidade está a ser cada vez mais procurada por pessoas que nunca tinham sequer pensado nessa hipótese, na maioria dos casos por abrir portas a uma saída para a crise.

A agência Lusa conversou com portugueses que conseguiram a dupla nacionalidade, que estão à espera, que já desistiram de a obter, que nunca a poderão ter.

Em comum, têm um percurso que passa por Angola. Maria João Lousa, a viver em Portugal, e Nélia Araújo, a residir em Angola, são casos de sucesso, porque não só conseguiram a nacionalidade angolana para si, como também para os seus filhos.   Quando "as coisas começaram a piorar" em Portugal, "a hipótese" de tratar da nacionalidade angolana pareceu promissora a Maria João Lousa, a trabalhar actualmente na Direcção Geral de Veterinária.

Não para ela, que, pelo menos para já, não pensa regressar a Angola, mas para as suas filhas, hoje com 32 e 28 anos. "É sempre uma porta aberta", justificou.   Nascida em Benguela, em 1960, Maria João Lousa veio para Portugal logo depois do 25 de Abril de 1974.

O regresso em 2010, para pedir nacionalidade para si e para a sua filha mais velha, que estava em Luanda a trabalhar, esteve directamente relacionada com a crise.   "Isto está complicado, então para a malta nova, licenciada, que está aqui sem emprego... Aquilo é um mercado em expansão e, portanto, é uma mais-valia ter a dupla nacionalidade. Mesmo connosco... nunca se sabe o dia de amanhã", desabafou.   Só se arrepende de não ter tratado da nacionalidade para a filha mais nova, hoje com 28 anos.

"Entretanto, começaram a dizer que já era muito mais difícil, que as coisas estavam mais complicadas e estavam a fechar as portas", lamentou.   Nascida em Luanda, em 1973, Nélia Araújo veio para Portugal em 1975. Em 2009, apareceu "uma oportunidade" ao marido e decidiram regressar a Angola, em família, decisão que não teve "nada a ver com a crise".   Hoje empresária por conta própria, Nélia Araújo também não se pode queixar. Em "dois meses e pouco", conseguiu regularizar a sua situação e a do seu filho, que não nasceu em Angola, contou à Lusa, a partir de Luanda. No total, não gastou mais de 400 dólares e nunca pagou "gasosas".  

Na altura, "foi muito fácil" arranjar emprego em Luanda e Nélia Araújo foi contratada ainda em Portugal. "Agora, vir, já não é de todo como era", distinguiu.   "Antes, ninguém queria vir para Angola. Agora, toda a gente quer vir para Angola, mas não quer vir para Angola por opção, quer vir porque não tem outra escolha", observou, assinalando: "Isto não é uma mina de ouro, não é fácil."   Rita Gomes já desistiu de tentar. A mãe e toda a família materna nasceram em Angola, mas todos vieram para Portugal a seguir ao 25 de Abril de 1974 e nunca mais actualizaram os documentos.   Nascida em Portugal, Rita nunca tinha pensado ir para Angola até receber uma proposta de trabalho. Quando foi viver para Luanda, em 2008, decidiu requerer a nacionalidade. 

 "Tive imensas dificuldades", resumiu. Explicaram-lhe que, para poder pedir a nacionalidade, a mãe tinha de o fazer primeiro. "Uma pessoa que tenta ir pelas vias legais fica sempre barrada, até que desiste", lamentou.   Ao contrário, Alexandra Serôdio já há alguns anos que pensava na hipótese de pedir a nacionalidade ao país onde nasceu, mas isso só começou "a tomar forma de urgente" em Setembro de 2013, quando quis acompanhar o marido, com "visto privilegiado de investidor estrangeiro".   O processo de Alexandra Serôdio foi agregado ao do marido, permitindo-lhe "múltiplas entradas no país, sem qualquer problema, até Fevereiro de 2015". Porém, este visto de agregação familiar, que custou mil dólares, só lhe permite "estar em Angola, entrar e sair quando quiser e ter conta bancária".

Não dá acesso a carta de condução, a número de contribuinte, a segurança social. E trabalhar, pelo menos legalmente, está fora de hipótese, apesar de já ter recebido propostas de universidades e empresas.   No total, Alexandra Serôdio já gastou dois mil dólares no processo de dupla nacionalidade, mas conhece quem tenha gastado "o dobro ou o triplo e continue à espera".   Sérgio Baptista, engenheiro civil, está em Angola como diretor de obra desde dezembro de 2013.

 "Foi um bocadinho mais complicado agora nesta última fase, porque passei lá o natal, fiz lá 40 anos, estive longe da família", disse, durante uma passagem por Coimbra, onde vivem a mulher e as duas filhas.   "Cada vez mais a gente se cruza com portugueses a toda a hora", observou. Há quem lá esteja há anos e quem tenha acabado de chegar.

Nem todos são jovens. Pais, na casa dos 50 anos, começam a "ir à procura de uma oportunidade" quando já não esperavam ter de o fazer, relatou.   Sérgio Baptista resistiu tanto quando pôde à hipótese de ter de sair do país. "Se não fosse esta crise, não estava lá de certeza absoluta", garantiu.

Lusa

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