A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) evidencia sinais de fratura, potenciados pela corrida à liderança do partido e reconhecidos internamente. Segundo o membro sénior Menezes Domingos, há setores que não se reveem na liderança de Adalberto Costa Júnior.
"Estamos a perder um pouco do voto popular", alerta.
Domingos denuncia atropelos aos valores do partido, "levando o povo a entender que a UNITA é o MPLA", e defende a recuperação dos ideais de Jonas Savimbi através do seu filho, Rafael, candidato à liderança num contexto de "desvios ideológicos".
"A UNITA tem de se reformular", exige em entrevista à DW.
DW África: A UNITA passa uma imagem de fratura, potenciada pela corrida à liderança do partido. É isso que está a acontecer?
Menezes Domingos (MD): Se eu dissesse que a UNITA está saudável, estaria a mentir. Há fissuras, há ruturas sobre quem deve ser o futuro presidente da UNITA. Uma corrente defende Rafael Massanga Savimbi, a outra apoia Adalberto Costa Júnior. Isso é [acontece] em democracia. Mas repare: até agora, não há consenso no partido. As coisas não estão como deviam, por isso é que há muitos quadros de proa da UNITA e militantes que já não se reveem na liderança de Adalberto Costa Júnior.
DW África: O partido mostra semelhanças com o MPLA em termos de postura e discurso, tudo muito formal e expectável. O que falta para a UNITA se reinventar e ajustar ao povo e às suas necessidades?
MD: A UNITA tem tentado reinventar-se todos os dias, mas ainda não estamos no poder. É necessário mudar um pouco o discurso. Neste momento, o povo está com a UNITA, embora, nos últimos dias, tenhamos perdido um pouco do voto popular, porque a UNITA ainda não se reencontrou, está a perder a sua essência.
A UNITA é uma reserva moral, uma reserva tradicional. Infelizmente, os novos líderes atropelaram esse estatuto.
É por isso que o povo angolano começa a entender que a UNITA também se parece com o MPLA.
Nós, apoiantes de vários candidatos — neste caso, de Rafael Savimbi — queremos recuperar uma UNITA mais visível, mais unida, mais coesa e que conte com todos.
O que temos de bom é a democracia interna: as pessoas são livres de concorrer quando quiserem. O partido está dividido? Está. Mas tem de haver coesão interna. É isso que os militantes pedem: que o partido seja unido.
DW África: Essa reinvenção passa por recuperar os valores de Jonas Savimbi através do seu filho? É assim que projetam a renovação no partido?
MD: Correto. Usou um termo que me surpreendeu: Recuperar os valores autóctones, porque tem havido desvios ideológicos. A UNITA é um partido tradicional, que se revê no nacionalismo africano. E o seu filho, sendo um jovem candidato, pode recuperar os valores que o pai deixou e devolver a essência verdadeira da UNITA.
DW África: Um contínuo desajuste pode representar um suicídio político?
MD: Não digo que a UNITA vá descarrilar, mas pode perder a sua identidade e militantes. Isso seria bom para o regime. Neste congresso, se Rafael Massanga não ganhar, a rutura pode aumentar — e isso pode ser um suicídio político. A UNITA não pode ser como o MPLA, como um clube de amigos. Não pode tornar-se um partido de oportunistas.
DW África: O que é que a UNITA precisa para se ajustar às necessidades dos angolanos?
MD: Ganhar as eleições em 2027.
DW África: E em termos de reformas internas?
MD: Mudanças internas virão após o congresso. A UNITA tem de ser novamente reformulada.